15/04/2023 às 15h51min - Atualizada em 15/04/2023 às 15h51min

Apesar de proibido, nove em cada dez adolescentes conseguem comprar cigarro

Gazeta Rondônia

 

Nove em cada dez adolescentes que tentam comprar cigarros não são impedidos atualmente no Brasil. Além disso, a grande maioria (cerca de 70%) desses jovens faz isto com frequência e em estabelecimentos comerciais autorizados. É o que aponta estudo de pesquisadores do Instituto Nacional de Câncer (INCA), publicado na sexta-feira (3) na revista “Cadernos de Saúde Pública”.

Ao comparar dados das últimas duas edições da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar – de 2015 e 2019 – os resultados também mostram que a proporção da falta de cumprimento da lei que proíbe a venda de cigarros para pessoas com menos de 18 anos se manteve igual nos últimos anos, estagnada em um patamar bastante elevado.

Há também indícios de uma “dupla ilegalidade”: na maioria das vezes, as compras são realizadas em estabelecimentos comerciais autorizados (como bancas de jornal, cafés, mercados, padarias, banca de jornal ao invés de em comércio ambulante) e envolvem a venda de cigarros avulsos (ao invés de maços) – que por si só também é proibido, independentemente da idade do consumidor.

“Esse ciclo de retroalimentação da ilegalidade aponta para a baixa efetividade de determinadas leis de combate ao tabagismo, o que contribui para o enfraquecimento da política nacional de controle do tabaco”, ressalta o doutor em Saúde Pública André Szklo, autor do estudo ao lado da estatística e doutora em Epidemiologia, Neilane Bertoni. André Szklo lamenta que o cigarro no Brasil seja o segundo mais barato da região das Américas, atrás somente do Paraguai o que, somado ao fato de que os produtos recebem aditivos de sabor e aroma, “faz com que o produto se torne ainda mais atraente para o jovem buscar adquiri-lo”, reforça.

Estudos como esse, afirmam os autores, estão entre aqueles que compõem o sistema de monitoramento da epidemia do tabagismo no Brasil e que servem para auxiliar na efetiva implementação da Política Nacional de Controle ao Tabaco. A preocupação, além do sofrimento causado pelas mortes diárias de 443 pessoas por causa do tabagismo e da saúde de jovens que se iniciam e desenvolvem dependência do tabaco, é também com os custos decorrentes dessa epidemia: “O tabagismo acarreta um custo econômico e social com sistema de saúde, perda de produtividade e cuidados com familiares, de 125 bilhões de reais por ano”, quantifica Szklo.

“Então, além da perda das pessoas, do sofrimento causado e da dependência, isso significa um custo para o país muito superior ao quanto se arrecada com impostos – o imposto só cobre 10% desse gasto. Na verdade, a indústria não está cobrindo os gastos para a sociedade e esse é um dinheiro que poderia estar sendo investido em educação e saúde, por exemplo. Considerando, ainda, que aproximadamente 2 em cada 3 usuários de produtos derivados do tabaco virão a falecer no país em decorrência desse comportamento, a reposição desses usuários pela futura geração de jovens e adolescentes brasileiros levanta uma enorme preocupação. É nisso que esse artigo acaba chegando”, conclui o autor.


Notícias Relacionadas »
Comentários »