20/08/2023 às 22h56min - Atualizada em 20/08/2023 às 22h56min

VÍDEOS: Enfermeira passou por cirurgia plástica clandestina no hospital municipal de Ji-Paraná

Procedimento estético de correção dos seios não é custeado pelo SUS e foi feito na clandestinidade pelos profissionais da saúde

Gazeta Rondônia

Era dia 12 de agosto, num sábado pela manhã, quando a técnica em enfermagem Celina Santos, que trabalha no Hospital Municipal (HM) de Ji-Paraná, se preparava junto a seu médico particular, Raimundo Maia, para fazer uma cirurgia plástica clandestina e melhorar a estética de seus seios que eram “assimétricos” (esquerdo maior que o direito). A cirurgia teria ocorrido nas dependências do próprio Hospital Municipal.

Para construir a matéria, o Fronteira entrou em contato com vários funcionários do HM, os quais, por motivos óbvios, terão suas identidades mantidas em sigilo. Os detalhes dessa possível trama criminosa são expostos a seguir.


Às 08h da manhã, a paciente Celina Santos, técnica em enfermagem dos quadros do município, e seu médico particular Raimundo Maia, entraram no centro cirúrgico e deram início ao procedimento estético. Ao todo foram 8 (oito) horas de cirurgia, terminando às 16h.

Toda a “força tarefa” que ocupou a sala principal de urgência e emergência do centro cirúrgico do Hospital Municipal (HM) por horas, poderia ter levado a vida de algum paciente que chegasse ao HM gravemente ferido e precisasse de ser operado às pressas. O centro cirúrgico estaria ocupado para atender aos fins estéticos de uma funcionária pública dos quadros municipais.
De acordo com os relatos de um médico clínico, o cirurgião de plantão de urgência, no dia do ocorrido, não tinha conhecimento da cirurgia, e acabou descobrindo por acaso todo o enredo criminoso e ficado furioso. 

Em seu Instagram, no mesmo dia da cirurgia, o médico particular Raimundo Maia comemorou o sucesso do procedimento.
 
“Moldes ao desejo da paciente, feliz com seu resultado e muito bem orientada em reabilitação”, escreveu o médico.
 
Partes da cirurgia foi gravada e publicada em seu Instagram, mostrando o “antes e depois”, como uma forma de expor seu trabalho, em evidente autopromoção.




Uma semana depois do primeiro vídeo publicado, neste sábado (19), o médico Raimundo Maia publicou outro vídeo, no qual escreveu:
 
“caso bem interessante, paciente com ritmo ativo de atividades e treinos, apresentando mamas assimétricas (volumes e larguras diferentes), avaliamos seu caso e definimos o melhor planejamento”.

Desta vez, o vídeo mostra seu rosto e sua touca cirúrgica, na qual está escrito seu nome “Raimundo Maia – Cirurgião Plástico”. Outro detalhe não passa despercebido: na roupa que Raimundo usava também estão estampadas as siglas “HM”, de “Hospital Municipal”. 



Percebe-se claramente que, aos 19 segundos, estão estampadas na roupa do médico Raimundo Maia as siglas “HM”, de “Hospital Municipal”.

A roupa utilizada pelo médico é chamada de “capote”, e é utilizada pelos médicos cirurgiões em todo procedimento cirúrgico. O vídeo teria sido gravado por algum integrante que auxiliava o médico.

Raimundo Maia se apresenta no Instagram como médico cirurgião plástico e que trabalha na empresa “Center Plástica”, sediada em Porto Velho (RO) e em atividade desde 1996. Conforme consulta feita pelo portal Fronteira 364, Raimundo não faz parte do quadro societário.

A cirurgia teria sido completamente clandestina, e conforme relatos dos próprios funcionários do Centro Cirúrgico, a mesma foi omitida do livro de registros do Hospital Municipal. No Centro Cirúrgico há um livro no qual deve registrar as cirurgias que foram feitas. Portanto a cirurgia de Celina, contudo, não foi registrada no livro.

O pós-operatório teria sido ainda mais dramático. O médico privado de Celina queria que ela se recuperasse na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), contudo, por pressão, a técnica em enfermagem teve que se recuperar da cirurgia em uma sala improvisada na pediatria. Tudo era obscuro e às margens da lei.

De acordo com fontes, todo o procedimento operatório se deu com a conivência do Diretor-geral do Hospital Municipal, Diogo de Souza Oliveira, que sabia de toda a trama. A equipe de reportagem tentou contato com Diogo, mas não obteve resposta.

O Fronteira 364 também entrou em contato com o Secretário de Saúde, Rafael Papa, o qual alegou já estar ciente da situação e disse ter descartado qualquer cobrança para a utilização do espaço.
 
“Já descartei que houve qualquer cobrança para a utilização do espaço”, disse.

“Mas ainda existe a utilização do ambiente, que deve ser mais bem esclarecida. Alegaram que o procedimento seria feito pelo SUS, em Porto Velho, e existiu um cancelamento”, afirmou.
 
“Mas se existiu ilegalidades, meu amigo, serão levadas com rigor”, finalizou o secretário.
 


Cirurgia não é feita pelo SUS
 
De acordo com um médico consultado pelo Fronteira, a cirurgia plástica feita pela enfermeira Celina Santos não é realizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). E mesmo que fosse, a técnica em enfermagem teria que entrar na fila do SUS e esperar sua vez para fazer a cirurgia com um médico público (e não particular).

De acordo com um artigo publicado no blog SYN SAÚDE, em julho de 2022, quase 1 (um) milhão de pessoas aguardam por uma cirurgia no SUS. O tempo de espera pode variar de meses até anos, a depender do procedimento e do estado de saúde do paciente.

Entretanto, como dito, a cirurgia feita por Celina não é realizada pelo SUS. Mesmo assim, a funcionária, juntamente com seu médico particular, teria se apoderado do ambiente e dos equipamentos públicos para realizá-la, algo extremamente grave e que pode configurar crime.

Prints do perfil e das publicações do médico



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Fonte: Leone Oliveira/Fronteira 364.


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