Na manhã de quarta-feira, 20 de setembro de 2023, o sol escaldante mudou de maneira rápida, se escondendo entre as nuvens e logo se formou uma forte tempestade, após semanas de calor intenso e sensação térmica do Deserto do Saara, no Norte da África. Antes da chegada das chuvas, o portovelhense tinha a sensação de passar o dia inteiro na frente de uma churrasqueira ou dentro de uma sauna. Momentos sufocantes foram substituídos por um clima ameno. Antes da tempestade chegar à temperatura era de 33ºC e a umidade relativa do ar estava em 60%.
Naquele dia árvores enormes foram arrancadas pela raiz na Avenida Jorge Teixeira, principal via da Capital de Rondônia, depois de ser atingida por raios. Choveu granizo em áreas isoladas, postes foram derrubados, estruturas de obras destruídas pelo vento, casas e prédios públicos destelhados. Segundo o Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), os ventos passaram de 50KM/H, força suficiente para destelhar dezenas de casas, arrancar árvores e derrubar postes. A companhia de energia registrou crescimento de 300% nas ocorrências de interrupção dos serviços.
Fenômenos climáticos podem ser considerados normais pelos moradores da Amazônia durante o período de verão, mas cientistas e pesquisadores já avisaram que os ciclos naturais de chuva e calor estão mudando em razão do aquecimento global, por conta da falta de políticas públicas, ausência de iniciativas do setor privado para reduzir a devastação ambiental e proteger o planeta.
Para piorar o cenário a Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM), divulgada pelo IBGE registrou que em Rondônia o rebanho bovino aumento 17,1%. Passou de 15.110.301 cabeças para 17.688.225 entre 2021 e 2022, representando um crescimento de 17,1%. Se comparado com o ano de 2012, a evolução foi de 44,8%.
SEM FLORESTAS
Rondônia perdeu uma área equivalente a 2,2 mil hectares de floresta nativa em março de 2023. O desmatamento é 450% maior do que a quantidade registrada no mesmo período do último ano, segundo dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
Entre os nove estados da Amazônia Legal, Rondônia teve o segundo maior aumento na destruição da floresta, atrás somente do Amazonas, onde o desmatamento calculado foi 766% maior.
Outro dado negativo no estado é com relação às Unidades de Conservação: dentre as 10 mais desmatadas de toda Amazônia Legal, quatro estão localizadas em Rondônia.
No total, as Unidades de Conservação do estado perderam uma área correspondente a 370 campos de futebol.
São elas:
Reserva Extrativista Jaci Paraná: com 200 hectares destruídos;
Reserva Extrativista Rio Preto-Jacundá: com 100 hectares destruídos;
Parque Estadual de Guajará-Mirim: perdeu 40 hectares de floresta;
Reserva Extrativista Angelim: perdeu 30 hectares de floresta.
QUASE 10 CABEÇAS DE GADO POR MORADOR
O Brasil tem mais cabeças de gado do que população, como mostrou o Censo 2022, o país tem 203.062.512 de habitantes, enquanto o rebanho bovino é de 224.602.112, segundo dados compilados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os dados, agora oficializados, permitem analisar algumas curiosidades sobre o país. A pecuária, por ser uma atividade geralmente mais distante de grandes centros urbanos, leva ao curioso fato de alguns Estados terem quase dez vezes mais cabeças de gado que pessoas.
Rondônia tem a maior diferença entre pessoas e gado, com uma população de 1.581.016 e um rebanho bovino de 15.110.301, uma relação de quase 9,5 vezes.
Mato Grosso vem logo em seguida, com 2.756.700 pessoas vivendo no Estado, e um total de 18.608.503 cabeças de gado. Entre as cidades, a que registra o maior número de animais é São Félix do Xingu, no Pará, com 2,5 milhões de cabeças, e uma população de 65.418 habitantes.
No ranking nacional de expansão da pecuária, de acordo com o IBGE, Rondônia ficou na sexta posição, atrás de Mato Grosso (34 milhões de cabeças), Pará (24 milhões), Goiás (24 milhões), Minas Gerais (quase 23 milhões) e Mato Grosso do Sul (18 milhões).
Os dados apontam a destruição da natureza para expansão de monoculturas e pecuária, seguida falta de políticas estaduais de legalização do avanço da derrubada de árvores, autorização para mineração ilegal e ataques aos povos tradicionais além de ocupação dos territórios dos moradores da floresta.
Rondônia tem 18 municípios entre os cem maiores rebanhos do país: Porto Velho (1,6 milhão de cabeças), na terceira posição; Nova Mamoré (um milhão de cabeças), em oitavo lugar; Buritis (640 mil cabeças), em 27º lugar; Jaru (604 mil cabeças), em 32º lugar; Ariquemes (589 mil cabeças), duas posições depois; Alta Floresta d’Oeste (549 mil cabeças), em 38º lugar; Campo Novo de Rondônia (527 mil) e São Francisco do Guaporé (525 mil) nas posições 44 e 45; Cacoal (510 mil) em 49º lugar; Machadinho d’Oeste (497 mil) em 51º lugar; Ji-Paraná (458 mil) na posição 57; Espigão d’Oeste (438 mil) em 65º lugar; Alto Paraíso (407 mil) e Ouro Preto do Oeste (406 mil) nas posições 73 e 74; Monte Negro (403 mil) três posições depois; Presidente Médici (397 mil) na posição 80; Pimenta Bueno (388 mil), em 85º lugar, e Chupinguaia (366 mil) em 98º lugar. Corumbiara (363 mil) ficou na posição 101.
Outro dado trazido pela PPM é que o rebanho suíno também apresentou crescimento. Quanto ao registrado em 2021, o aumento foi de 34,1%, indo de 192 mil para 258 mil. Já em relação ao ano de 2012, o número foi 14,6% maior. O município de Porto Velho (17 mil cabeças) tem o maior plantel no estado, seguido de São Miguel do Guaporé (quase 12 mil cabeças), Cacoal (11 mil cabeças), Colorado do Oeste (quase dez mil cabeças) e Machadinho d’Oeste (quase dez mil cabeças).
Sobre os galináceos, a PPM demonstra um aumento de 8,5% entre 2022 e 2021, indo de 5,7 milhões de cabeças para 6,2 milhões. Se comparado ao rebanho registrado em 2012, a quantidade dobrou. Também foi possível observar que três municípios concentram 49,5% do total rondoniense: Cacoal, com 1,1 milhão de cabeças (18,1%); Rolim de Moura, com um milhão de aves (17,5%), e Espigão d’Oeste, com 869 mil animais (13,9%).
Rondônia domina produção de peixe tambaqui
A PPM apontou que Rondônia foi responsável por 46,2% de toda produção brasileira de tambaqui, tendo produzido 50 mil toneladas das 109 mil toneladas de peixes desta espécie produzidas em todo o Brasil.
Ariquemes, com uma produção de 12 mil toneladas, foi o maior produtor municipal do país, representando 11,1% de toda produção nacional. Outros 35 municípios rondonienses estão entre os cem maiores produtores de tambaqui, sendo que Primavera de Rondônia (3,9 mil toneladas) foi o terceiro maior produtor nacional; Cacaulândia (3,8 mil toneladas) ocupou a quarta posição; Machadinho d’Oeste (três mil toneladas) ficou em sexto lugar; Cujubim (2,9 mil toneladas) ocupou a posição seguinte e Ouro Preto do Oeste (2,6 mil toneladas), Porto Velho (2,1 mil toneladas), Mirante da Serra (1,5 mil toneladas) e Rio Crespo (1,4 mil toneladas) ocuparam entre a décima e 13ª posições.
Produção de leite cai 11,5% entre 2021 e 2022
Em contrapartida ao aumento do rebanho bovino total, o número de vacas ordenhadas apresentou diminuição de 11,2% entre 2021 e 2022, caindo de 412 mil para 366 mil cabeças. A produção de leite acompanhou a queda, diminuindo de 741 milhões de litros para 655 milhões, ou seja, 11,5% a menos.
O coordenador estadual das Pesquisas Agropecuárias, Airton Dalpias, explica que o rebanho leiteiro e produção leiteira caíram principalmente pela valorização da arroba do boi, que levou muitos produtores a venderem seus rebanhos leiteiros.
“Isso gerou queda significativa na produção de leite e aumento do preço nos supermercados”.
Os municípios rondonienses com as maiores produções de leite em 2022 foram: Nova Mamoré (37,8 milhões de litros), Machadinho d’Oeste (37,7 milhões de litros), Jaru (36,7 milhões de litros), Porto Velho (31,2 milhões de litros) e Ouro Preto do Oeste (29,5 milhões de litros).
Quase 40% do mel rondoniense foi produzido em Vilhena
Entre os dados apontados pela PPM, verificou-se que, em 2022, das 187 toneladas de mel produzidas no estado, 75 toneladas foram produzidas em Vilhena. O município representou 39,9% da produção estadual. O segundo maior produtor foi Rolim de Moura (15 toneladas), seguido de Alto Alegre dos Parecis (12 toneladas), Novo Horizonte do Oeste (nove toneladas), Alta Floresta d’Oeste (quase nove toneladas) e Parecis (oito toneladas).
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