Já era para a população de Rondônia ter percebido que nas últimas décadas, o clima mudou e essas alterações na natureza não são responsabilidade apenas do La Niña e El Niño, fenômenos atmosféricos que ocorrem no Oceano Pacífico Equatorial e alteram a temperatura e precipitação globalmente.
O ano de 2024, ficará marcado como uma das crises ambientais sem precedentes para Rondônia. Depois de uma cheia assustadora do Rio Madeira em 2014, causado também pelo empreendimento das hidrelétricas, que isolou todo estado e afetou vidas humanas e o meio ambiente, temos o oposto neste ano.
A seca do Rio Madeira é histórica, com níveis que atingiram a mínima de 2,90 metros, revela os sinais alarmantes das mudanças climáticas na região. Os impactos se espalham por diversas áreas: desde a saúde pública, passando pela economia local, até o cotidiano de quem vive no estado. Há risco de mortes de espécies naturais, desabastecimento de comunidades por conta da crise hídrica.
Ar tóxico
Desde o início de junho, indicadores já alertavam sobre o crescimento das queimadas. Na última semana, ficou mais grave a poluição por conta do desmatamento. Foram mais de 10 mil focos de queimadas apenas nos primeiros oito meses deste ano, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Essas queimadas são responsáveis pela liberação de toneladas de CO2 na atmosfera, agravando o efeito estufa e acelerando o aquecimento global.
Essa fumaça chegou nas cidades. No final da manhã da última quinta-feira (29), uma concentração de material particulado de 621 microgramas por metro cúbico (µg/m3), apontou a plataforma que mede o Índice de Qualidade do Ar em tempo real, da fundação suíça IQAir.
A medição indicou um nível de poluição muito acima do padrão de qualidade do ar estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como seguro à população, que admite a presença de material particulado em até 45 microgramas por metro cúbico (µg/m3).
Pela classificação da Fundação IQAir, a cidade registra atualmente o nível perigoso, o mais grave em uma escala de seis, no qual há indicação de evitar atividade física ao ar livre, fechar portas e janelas para manter a poluição fora dos ambientes internos e usar máscara em áreas de maior exposição.
Com 5,88 mil focos de incêndio registrados de 1° de janeiro até esta quinta-feira (29), segundo o programa BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o estado teve nesses meses mais do que o dobro dos 2,4 mil focos registrados no mesmo período de 2023.
Quem são os responsáveis?
Os culpados pela degradação ambiental em Rondônia não são apenas os que colocam fogo na floresta, mas também um sistema que incentiva o desmatamento em prol do agronegócio. Instituições públicas precisam ser mais eficientes para garantir qualidade de vida do cidadão.
Enquanto isso, grandes produtores de soja e pecuaristas seguem expandindo suas fronteiras à custa da floresta amazônica, sem considerar os impactos a longo prazo. As políticas públicas, que muitas vezes favorecem o agronegócio, contribuem para a perpetuação desse ciclo de destruição.
Um sistema de aparelhamento das instituições públicas e órgãos fiscalizadores, diminui a importância de cuidar do meio ambiente. Além da sociedade no campo e na cidade, os povos indígenas e as populações tradicionais são afetadas. O principal: falta justiça climática e sobra racismo ambiental. Especialistas dizem que é possível o cidadão e toda sociedade fazer mais pelo clima:
A criação de gado em larga escala é um dos maiores vetores de desmatamento na Amazônia. Reduzir o consumo de carne, mesmo que seja em um ou dois dias por semana, pode diminuir a demanda por novas áreas de pastagem. Isso não apenas alivia a pressão sobre as florestas, como também incentiva a transição para modelos mais sustentáveis de produção de alimentos. Comendo e consumindo menos carne pode reduzir as áreas de pastagem.
É importante priorizar o uso de transporte público, bicicleta ou caminhar em vez de usar carros particulares pode reduzir significativamente as emissões de gases de efeito estufa. Além disso, pressionar por políticas que incentivem o uso de energias renováveis, como solar e eólica, pode ajudar a diminuir a dependência de combustíveis fósseis. Mas grande parte das cidades rondonienses, não possuem estrutura de mobilidade e transporte público. Um tema que nunca foi tão prioritário para os governos.
Plantar árvores nas cidades não é apenas uma questão estética. Árvores ajudam a absorver CO2, gás poluente originado dos combustíveis fósseis, que consumido em grande quantidade pode causar desmaios, sensação de confusão, náusea e dores de cabeça. Árvores melhoram a qualidade do ar e podem reduzir a temperatura urbana, criando microclimas mais agradáveis. Em Porto Velho, a arborização também pode servir como uma barreira natural contra a poluição atmosférica proveniente das queimadas.
Separar o lixo para reciclagem e reaproveitar materiais contribui para a redução de resíduos nos aterros sanitários, onde a decomposição de materiais orgânicos gera metano, um potente gás de efeito estufa. Em Porto Velho, programas de coleta seletiva precisam ser fortalecidos para garantir que mais resíduos sejam reciclados.
Apagar luzes desnecessárias, utilizar eletrodomésticos eficientes e optar por energia solar quando possível são medidas simples que podem reduzir o consumo de energia. Menos demanda por energia significa menos necessidade de construção de novas usinas hidrelétricas, que muitas vezes resultam em desmatamento.
Incentivar o manejo sustentável das florestas, como a extração de produtos não-madeireiros (castanhas, frutas, óleos) e a agrofloresta, pode gerar renda para as comunidades locais sem destruir a floresta. Essas práticas sustentáveis podem substituir as queimadas e o desmatamento, preservando a biodiversidade.
A poluição dos rios por resíduos sólidos e agrotóxicos é um problema crescente. Medidas como a criação de zonas de proteção ao redor dos mananciais, tratamento de esgoto e redução do uso de agrotóxicos podem ajudar a preservar os corpos d'água. A preservação dos rios é essencial para garantir o abastecimento de água potável e a sobrevivência das espécies aquáticas.
Implementar políticas de planejamento urbano que promovam o uso de espaços verdes, sistemas de transporte eficientes e construções sustentáveis pode tornar as cidades menos impactantes ambientalmente. Porto Velho, por exemplo, pode investir em ciclovias, sistemas de captação de água da chuva e incentivos para construções ecológicas.
Outra iniciativa coletiva pode ser campanhas educativas para redução do desperdício de água e reuso. Como também implementação de políticas sociais para conter desperdício de água, fazer o reaproveitamento e garantir estruturas de saneamento, água e esgoto para toda sociedade.
O presente e o futuro de Rondônia dependem das escolhas que fazemos hoje. Enquanto as grandes corporações e políticas públicas desempenham um papel crucial, as ações individuais também são fundamentais. Cada pequena mudança no comportamento pode contribuir para um impacto maior. É hora de agir, para que as futuras gerações possam herdar uma Amazônia viva e uma Rondônia sustentável.