A crise ambiental que prolonga na Amazônia está transformando rios em grandes desertos de praias e cobrindo cidades com a fumaça das queimadas. São muitos os impactos: animais estão morrendo, a população sofre com problemas respiratórios lotando unidades de saúde, comunidades isoladas sem alimentos, água e os povos tradicionais sentem os efeitos no modo de vida e sobrevivência.
Dados de satélite revelam que o fogo já chegou nas terras indígenas, como é o caso do povo Karipuna em Rondônia, localizado nas cidades de Porto Velho e Nova Mamoré. As lideranças detectaram focos de calor e fumaça na região sul do território, que compreende uma área total com 153 mil hectares. Eles são um dos povos tradicionais brasileiros que mais sofrem com crimes ambientais em todo país.
Pela primeira vez em 26 anos desde que foi homologada, a terra Karipuna ficou dois meses - junho e julho de 2024 - sem desmatamento. A redução foi 86% apenas em razão da presença de toda estrutura do governo federal que permaneceu no local por conta do processo de retirada de invasores, cumprindo determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).
O líder indígena Adriano Karipuna comunicou ao Ministério dos Povos Indígenas (MPI) sobre o alerta de fogo. Brigadas de combate aos incêndios do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (IBAMA) com Força Nacional já estão operando na região. O medo dos indígenas é de que com o vento o fogo possa atingir uma área grande do território, comprometendo ainda mais a fauna e a flora e até atingindo moradias.
Rondônia já registrou mais de 10 mil focos de queimadas apenas nos primeiros oito meses deste ano, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Essas queimadas são responsáveis pela liberação de toneladas de CO2 na atmosfera, agravando o efeito estufa e acelerando o aquecimento global. O fogo na floresta piorou ainda mais nos últimos três meses, deixando o ar completamente insalubre.
Parques ambientais estão sendo devorados pelas chamas, como é o caso de Guajará-Mirim, há meses. Voos foram cancelados e o poder público orienta evitar atividades físicas em ambientes abertos, escolas já enfrentam dificuldades por conta do fumaceiro. O estado proibiu o uso de fogo, mas não se preparou com estrutura suficiente e fiscalização para conter as chamas.
O Rio Madeira marcou nesta terça-feira, 03, o menor nível dos últimos 60 anos, chegando a 1,02 metros, às 04h15 da manhã, segundo o Serviço Geológico do Brasil (SGB). Essa é uma bacia hidrográfica que abrange Brasil, Peru e Bolívia com mais de 3.315 km, sendo o 17º maior do mundo em extensão. E não há previsão de chuvas.
Somente até 19 de agosto deste ano foram contabilizados 4.887 focos de incêndio, totalizando 107.216 hectares de florestas destruídas pelo fogo. As chamas alcançaram terras indígenas e unidades de conservação como é o caso das Resex Jaci Paraná e terras indígenas Karipuna, Uru-Eu-Wau-Wau e Igarapé Lage. Adriano Karipuna publicou na sua rede social, um mapa da localização dos incêndios.