Organizações públicas do governo federal iniciaram a distribuição em Rondônia de 19.614 cestas de alimentos por meio da Ação de Distribuição de Alimentos (ADA), coordenada pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) em resposta à crise hídrica e climática que atinge a região. A entrega beneficia 6.538 famílias de comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas, atingidas por barragens, agricultores familiares, assentados da reforma agrária, extrativistas e em vulnerabilidade social.
"Este é um esforço emergencial para amenizar os efeitos da seca, que impactou diretamente a produção agrícola e extrativista de Rondônia", disse Rosenberg Alves, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), no lançamento da ação que ocorreu na manhã desta segunda-feira (18), no auditório da empresa pública.
As cestas, com 21,5 kg cada, incluem itens básicos como arroz, feijão, farinha de mandioca, sardinhas em lata, leite em pó e óleo de soja. Embora a ação atenda a um volume significativo de famílias, o desafio é fazer a entrega dos mantimentos em áreas de difícil acesso. "A logística é o principal gargalo. Cerca de 4.551 cestas precisam ser transportadas por barco para comunidades do Baixo Madeira. Outras 3.519 seguirão por rodovias", explicou Gervano Vicent, Superintendente Federal do Desenvolvimento Agrário no estado.
O Acre também será contemplado com 60 mil cestas doadas pela União. Em outra linha de ação, a Marinha do Brasil vai entregar 60 toneladas de água para famílias de comunidades ribeirinhas no rio Madeira. "Os pescadores realmente tem essa necessidade desses alimentos. Estamos contentes porque todas as colônias (de pescadores) estão contempladas”, falou Ricardo Alves, representante do Ministério de Pesca e Aquicultura estadual.
Logística e parcerias
Para viabilizar as entregas, o governo conta com apoio da Marinha, que disponibilizou embarcações para o transporte fluvial. O INCRA também cedeu caminhões, enquanto a FUNAI colabora com a articulação em áreas indígenas. Organizações como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e sindicatos locais estão mobilizando comunidades para garantir que os alimentos cheguem diretamente às famílias.
Em Porto Velho, 8 mil cestas serão distribuídas, divididas entre transporte fluvial e terrestre. No interior, comunidades de Guajará-Mirim, Nova Mamoré, Candeias e Machadinho estão entre as contempladas. Cada família receberá três cestas, entregues de forma centralizada para otimizar os recursos disponíveis.
Impacto nas comunidades
A seca prolongada e os incêndios alteraram drasticamente a dinâmica produtiva de Rondônia. Agricultores, pescadores e extrativistas relataram perdas significativas. A estiagem secou os igarapés, e o fogo destruiu áreas de cultivo e extrativismo. Mesmo com o início das chuvas, as consequências climáticas ainda vão durar por muito tempo.
Entre as comunidades impactadas estão extrativistas que tiveram a produção de castanha e açaí comprometida. Além disso, os seringueiros enfrentam dificuldades devido à redução do fluxo de seiva das seringueiras. "O cenário é preocupante. A previsão para o próximo ano é de uma crise alimentar ainda maior", alertou Petronila Silva, que coordena a Pastoral da Terra (CPT).
Esforço conjunto e políticas públicas
O governo federal afirmou que a ação é uma resposta emergencial e destacou a importância de políticas públicas estruturantes. O programa ADA está previsto na Portaria 1023/2024 e é operacionalizado pela Conab, que realizou leilões públicos para adquirir os alimentos de fornecedores em Brasília e Cacoal.
"O compromisso do governo Lula é com ações efetivas para mitigar a crise. Apesar dos desafios, conseguimos viabilizar a aquisição das cestas em tempo recorde, algo que geralmente leva mais de três meses", explicou Rosenberg.
Para organizações locais, a entrega das cestas representa uma vitória parcial em um cenário de vulnerabilidade crescente. "O foco precisa ir além das ações paliativas. É necessário garantir segurança alimentar e combater modelos produtivos que priorizam o agronegócio em detrimento da agricultura familiar", falou Petronila.
Próximos passos
As entregas seguem um cronograma rigoroso. Nesta semana, comunidades periféricas e ribeirinhas de Porto Velho recebem os alimentos. Na próxima semana, as ações se estendem a municípios do interior, como Guajará-Mirim e Nova Mamoré. Reservas extrativistas e terras indígenas também estão contempladas.
A mobilização inclui esforços para garantir que as famílias estejam presentes nos locais de entrega, com registros documentados para evitar irregularidades. "A transparência é essencial para que a ajuda chegue a quem realmente precisa", concluiu Alves.
A iniciativa marca um esforço significativo do governo federal e da sociedade civil para enfrentar uma das crises mais severas dos últimos anos em Rondônia. Contudo, líderes locais alertam para a necessidade de manter a atenção voltada ao desenvolvimento de políticas de longo prazo que assegurem a sobrevivência das comunidades mais vulneráveis.