Facções criminosas podem ter relação com chacina que vitimou 6 pessoas em Rondônia

Gazeta Rondônia
06/03/2025 22h50 - Atualizado há 2 dias

Na manhã da última segunda-feira, 3 de março de 2025, seis pessoas foram encontradas mortas no assentamento Tiago Campin dos Santos, na zona rural de Porto Velho, Rondônia, distante 130 km do centro urbano. 

Cinco das vítimas foram identificadas como membros de uma mesma família: Patrícia Krostrycki, sua filha Lorraine Krostrycki, os irmãos Thiago e Luan Krostrycki, além de Rafael Garcia de Oliveira, marido de Lorraine, que possuía uma condenação de 35 anos de prisão e estava com mandado de prisão em aberto. ​

As autoridades policiais iniciaram investigações para apurar os responsáveis pelo crime e as circunstâncias em que ocorreram os assassinatos. Até o momento, não há informações concretas sobre os autores ou motivações específicas para a chacina.

Familiares das vítimas cobram das autoridades policiais a prisão dos assassinos e dos mandates, reivindicam justiça.

De acordo com moradores locais que preferem não se identificar, nos últimos anos, grupos criminosos ocuparam o assentamento acirrando os conflitos agrários. A presença das facções do crime organizado pode ter sido um dos motivadores para a morte das seis pessoas.

Organizações criminosas no campo

Grupos criminosos estão expandido suas atividades para áreas rurais, incluindo assentamentos e regiões de conflito agrário. Essas organizações desenvolvem diversas práticas ilícitas que impactam diretamente nas comunidades locais.​

Por exemplo, investigações revelaram que na região da Ponta do Abunã, o Comando Vermelho (CV) implementou taxas mensais para permitir a comercialização de drogas e para a filiação de novos membros. Aqueles que não pagavam eram proibidos de operar e sujeitos a represálias.

Também atuam na grilagem de terras e na exploração ilegal de recursos naturais. Em 2021, denúncias indicaram que integrantes de facções estavam envolvidos no roubo de madeira e desmatamento ilegal em assentamentos e reservas legais.

A presença desses grupos criminosos na área rural e urbana resulta em aumento da violência. Em janeiro deste ano o residencial Morar Melhor em Porto Velho, foi palco de conflitos entre facções e forças de segurança. Ao menos oito mortes foram registradas, incluindo civis que estavam em locais públicos, como bares.

Os faccionados controlam áreas rurais se aproveitando da vulnerabilidade dessas regiões. São locais sem a presença de policiais e justiça. O passo seguinte é impor regras para a comunidade, fazer ameaças, cobranças por serviços, espalhar terror e mortes aos contrários.

O acampamento Tiago Campin dos Santos, também conhecido como "Galo Velho", tem sido palco de conflitos agrários nos últimos anos. A área foi ocupada por mais de 600 famílias ligadas à Liga dos Camponeses Pobres (LCP) em junho de 2020, visando pressionar o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) a resolver a situação fundiária e tornar a terra produtiva.

É uma área localizada na área das fazendas NorBrasil e Arco-Íris, em Nova Mutum Paraná Distrito de Porto Velho (RO). São cerca de 57 mil hectares, cuja suposta proprietária seria da empresa Leme Empreendimentos Ltda., de responsabilidade do fazendeiro Antônio Martins, também conhecido como “Galo Velho”. Ele foi identificado pela justiça como o maior grileiro do estado de Rondônia, que vem utilizando-se de empresas para viabilizar ocupação ilegal de terras públicas no estado.

 

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Desde então, os moradores têm enfrentado ameaças, intimidações e ações violentas, incluindo destruição de plantações e bens pessoais, atribuídas tanto a grileiros quanto a forças policiais.

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) não reconhece a área como assentamento homologado pelo governo brasileiro. 

Mortes por terra

A situação no campo em Rondônia exige atenção urgente das autoridades e da sociedade civil para que medidas efetivas sejam tomadas com objetivo de resolver de forma pacífica os conflitos agrários para garantia dos direitos das populações envolvidas.

Rondônia é um dos estados com maior número de conflitos agrários no Brasil. Em 2023, registrou 162 disputas por terra; ficou na quarta posição nacional. O estado contribuiu com 16% de todos os assassinatos relacionados a disputas por terras no país. 

As mortes no campo em Rondônia não são um fenômeno recente. Em 1995, o estado foi palco do massacre de Corumbiara, onde policiais entraram em confronto com sem-terra que ocupavam uma área, resultando na morte de 10 pessoas, incluindo uma criança de nove anos e dois policiais.

O cenário é agravado pela expansão do agronegócio em todo estado. O aparelhamento das instituições públicas cria uma situação permanente de injustiça e violência na área rural.

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) tem monitorado e denunciado a escalada de violência no campo. Entre 2022 e 2023, os registros de conflitos aumentaram em mais de 113% em Rondônia, passando de 87 para 186 ocorrências, sendo 162 conflitos por terra.

Mais crimes

Só em fevereiro deste ano, já ocorreram várias mortes no campo. Dois crimes aconteceram (18/02) em um sítio na BR-319, entre Porto Velho e Humaitá. Uma das vítimas foi identificada como Cristiano Oliveira Dias, que estava desaparecido.

O jovem Rian Silva Apolinário, de 24 anos, foi encontrado morto com várias perfurações de bala no assentamento Tiago dos Santos, na região da Vila da Penha, distrito de Abunã, em Porto Velho. 

De acordo com testemunhas, Rian estava desaparecido há alguns dias, até que seu corpo foi localizado no cruzamento das Linhas 23 com 25 Louca. 

A ex-mulher da vítima relatou que a última vez que ele foi visto foi durante uma confusão em um bar da região, porém, não soube informar quem poderia ter cometido o crime ou a motivação do assassinato. Ambos os crimes possuem relação com disputas de terras e o crime organizado. 

Fonte: Voz da Terra.


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