Em um ano de safra recorde de grãos e de colheita concentrada da soja por conta do clima, os produtores estão enfrentando problemas para escoar a produção pelo porto de Porto Velho — por onde a produção escoa via rio Madeira até o porto de Santarém (PA), de onde é exportada.
Só neste mês, a fila de caminhões em postos de apoio à margem da BR-364 que aguardavam a vez de descarregar a soja nas estações de transbordo de carga já passou de 1,1 mil veículos. A capacidade de embarque no porto de Porto Velho é de 10 mil toneladas por dia, ou 200 caminhões.
Sem conseguir depositar a soja nas estações de descarga, os caminhões estacionam no posto de apoio da rede Mirian, em Candeias do Jamari (RO). Na tarde de ontem (17), já havia carretas estacionadas à beira da rodovia porque o pátio do posto de apoio estava lotado, segundo informações enviadas por produtores rondonienses.
“O produtor está, em média, de quatro a seis dias na fila para descarregar. Um ou dois dias é esperado para este período, mas cinco dias é demais. Está bem sofrida a situação. Tem inclusive produtor perdendo grão na lavoura porque não consegue acomodar nos armazéns”, disse Marcelo Luas da Silva, produtor de soja e diretor da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Rondônia (Aprosoja RO).
Fontes ligadas às tradings, que preferiram não ser identificadas, disseram que essas grandes filas são normais no pico da safra. Cargill e Amaggi são as principais tradings de grãos que embarcam soja por Porto Velho.
O porto de Porto Velho é usado para embarque não só da produção do Estado, mas também do noroeste e norte do Mato Grosso. O diretor da Aprosoja RO disse que a Amaggi, que opera o terminal privado de Portuchuelo, em Porto Velho, tem priorizado o desembarque dos caminhões da sua frota própria, enquanto deixa os produtores de Rondônia na fila por mais tempo.
“Essa é a maior indignação dos produtores, não tem uma fila única, eles dão preferência para os caminhões deles”, disse Silva.
Procurada, a Amaggi afirmou em nota que “o carregamento de caminhões oriundos de Mato Grosso e Rondônia, por meio de duas unidades portuárias em Porto Velho, cumpre um cronograma já estabelecido pela empresa, que também está adaptando suas operações para um cenário de maior volume de grãos, ocasionada pelo atraso na colheita rondoniense, decorrente de condições climáticas adversas”. A empresa acrescentou que o cenário pode gerar “alguns atrasos”, “mas que não deverão impactar significativamente o escoamento de grãos por aquele corredor logístico”.
Na semana passada, a Aprosoja RO enviou um ofício ao diretor-presidente da SOPH, Fernando Parente, solicitando a abertura do porto para mais operadores que possam investir e ampliar a capacidade de embarques no porto.
O diretor-presidente da SOPH, Fernando Parente, disse que o governo do Estado deve lançar até sexta-feira (21) uma licitação para atrair novas empresas para atuar no porto. “Temos uma área de 22 mil metros quadrados que pode receber novos silos”, afirmou.
O executivo acrescentou que a concessão da Hidrovia do Madeira prevista para este ano deve melhorar o transporte hidroviário na região. Uma consulta pública sobre o projeto, coordenada pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), está prevista para o dia 20. A evolução desses projetos deve garantir melhoria das operações no porto até 2026, disse Parente.
Para o curtíssimo prazo, a expectativa de Parente é que a fila diminua com a chegada de um grande comboio de 20 barcaças da Bertolini Transporte e Navegação, que chegará ao porto no dia 20 e irá transportar 50 mil toneladas de soja até o porto de Santarém (PA), o equivalente a 1 mil caminhões.
Parente disse que uma média de 170 caminhões têm chegado à região portuária por dia. A capacidade do porto é de 200 caminhões por dia, ou 10 mil toneladas. “Essas cargas chegam úmidas e precisam passar pela secagem em silos. Temos 4 silos de 10 mil toneladas cada. Três estão lotados e o quarto está sendo carregado. A Amaggi traz em torno de 110 caminhões por dia que vão para a parte privada da empresa para secagem. Há de fato um problema de encaixe da logística”, reconheceu Parente. Fonte: globo rural