Na quinta-feira, 5 de junho de 2025, uma disputa pública entre o bilionário Elon Musk, CEO da SpaceX, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ganhou contornos dramáticos, com impactos potenciais sobre a exploração espacial americana.
A troca de acusações nas redes sociais culminou com Musk endossando a ideia de um impeachment de Trump e anunciando o descomissionamento imediato da nave espacial Dragon, peça central nas operações da NASA para transporte de astronautas e carga à Estação Espacial Internacional (ISS). A decisão, se concretizada, pode comprometer missões espaciais cruciais e reacender tensões sobre a dependência dos EUA em parcerias comerciais para acessar o espaço.
Origem do conflito
A tensão entre Musk e Trump, que já foram aliados próximos, intensificou-se após o presidente expressar insatisfação com as críticas de Musk a um projeto de lei orçamentária em tramitação no Congresso. Durante um encontro com o chanceler alemão Friedrich Merz na Casa Branca, Trump afirmou estar "decepcionado" com o bilionário, acusando-o de deslealdade e ameaçando cancelar contratos governamentais com a SpaceX e outras empresas de Musk.
Em resposta, o CEO da Tesla e SpaceX acusou Trump de envolvimento em um escândalo sexual, citando supostas conexões com os arquivos de Jeffrey Epstein, e endossou publicações no X que sugeriam o impeachment do presidente e sua substituição pelo vice-presidente J.D. Vance.
Musk escreveu no X: "Sem mim, Trump teria perdido a eleição, os democratas controlariam a Câmara e os republicanos estariam em 51-49 no Senado. É muita ingratidão." Em outra postagem, ele anunciou: "Em vista da declaração do presidente sobre o cancelamento dos meus contratos governamentais, a @SpaceX começará a descomissionar sua nave espacial Dragon imediatamente."
A importância da Dragon para a NASA e a ISS
A nave Dragon, desenvolvida pela SpaceX, é um pilar da exploração espacial americana. Segundo o site oficial da empresa, ela é a única nave espacial em operação capaz de retornar quantidades significativas de carga à Terra, além de transportar até sete passageiros. Desde 2020, a Dragon tem sido essencial para missões tripuladas à ISS, permitindo que os EUA retomassem a capacidade de lançar astronautas de solo americano após o fim do programa de ônibus espaciais em 2011.
Um exemplo recente do papel crucial da Dragon ocorreu em março de 2025, quando a cápsula Dragon Endurance viabilizou o retorno dos astronautas da NASA Sunita Williams e Butch Wilmore, que ficaram "presos" na ISS por quase nove meses devido a falhas na cápsula Starliner da Boeing. A missão Crew-10, lançada em 14 de março de 2025, transportou uma nova tripulação à ISS, permitindo a troca de equipe e o retorno seguro dos astronautas em 19 de março. A decisão da NASA de optar pela SpaceX, em vez da Boeing, foi considerada uma das mais significativas dos últimos anos, destacando a confiabilidade da tecnologia de Musk em comparação com os problemas técnicos enfrentados pela concorrente.
A possível desativação da Dragon, como anunciado por Musk, poderia forçar a NASA a depender novamente da nave russa Soyuz para acessar a ISS, revertendo uma década de independência espacial americana.
Contexto político e econômico
A briga entre Musk e Trump ocorre em um momento delicado para a SpaceX, que tem se beneficiado de contratos governamentais significativos. Em dezembro de 2024, a NASA concedeu à empresa um contrato de US$ 843 milhões para desenvolver uma nave Dragon modificada, capaz de descomissionar a ISS de forma controlada em 2030, garantindo que os destroços caiam em uma zona segura no Oceano Pacífico. Além disso, a SpaceX tem contratos para lançar telescópios espaciais, realizar missões tripuladas e apoiar o programa Artemis, que visa o retorno de astronautas à Lua em 2027.
A influência de Musk no governo Trump também tem sido alvo de críticas. Como líder do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), criado para cortar gastos federais, Musk eliminou milhares de empregos e contratos, mas não atingiu as metas de economia prometidas. Sua saída do governo, semanas antes do conflito com Trump, foi descrita como discreta, mas não evitou a escalada de tensões. Analistas apontam que a posição de Musk no governo levantou preocupações sobre conflitos de interesse, especialmente após Trump demitir funcionários responsáveis por investigar violações éticas.
Reações e implicações
A ameaça de Musk de descomissionar a Dragon gerou reações mistas. Alguns usuários do X apoiaram a postura do bilionário, vendo-a como uma resposta à pressão de Trump.
Outros, porém, alertaram para os riscos à segurança dos astronautas e à liderança dos EUA no espaço. A NASA ainda não se pronunciou oficialmente sobre o impacto do descomissionamento, mas fontes internas indicam que a agência está avaliando alternativas para manter as operações da ISS.
O conflito também reflete a deterioração da relação entre Musk e Trump, que já foi marcada por uma aliança próxima. Durante a campanha presidencial de 2024, Musk doou cerca de US$ 300 milhões para apoiar Trump, e os dois colaboraram em iniciativas espaciais, como o lançamento da missão Crew-10 e o programa Artemis. No entanto, divergências sobre políticas orçamentárias e a influência de Musk no governo parecem ter azedado a parceria, levando a um confronto público com consequências imprevisíveis.
O futuro da exploração espacial
A possibilidade de descomissionar a Dragon coloca em xeque o futuro da ISS, que tem prazo operacional até 2030, mas já enfrenta discussões sobre sua aposentadoria. Musk sugeriu em fevereiro de 2025 antecipar o fim da estação para 2027, argumentando que ela "cumpriu seu propósito" e que os esforços deveriam se concentrar em missões a Marte, alinhadas com os objetivos da SpaceX. A proposta, porém, enfrenta resistência de parceiros internacionais da ISS, como Rússia, Japão, Canadá e Europa, e de membros do Congresso americano, que veem a estação como um investimento de mais de US$ 100 bilhões.
Enquanto a NASA planeja migrar para estações espaciais comerciais após 2030, a dependência da Dragon para missões atuais torna a ameaça de Musk particularmente grave. Especialistas temem que o descomissionamento abrupto da nave possa atrasar o programa Artemis e comprometer a pesquisa científica em órbita baixa.
A disputa entre Elon Musk e Donald Trump transcende uma rixa pessoal, com implicações profundas para a exploração espacial americana. A ameaça de descomissionar a Dragon, se concretizada, pode interromper o acesso dos EUA à ISS, afetar a confiança em parcerias público-privadas e reacender a dependência de tecnologias estrangeiras. Enquanto as tensões continuam, o futuro da NASA e da liderança americana no espaço permanece incerto, aguardando uma resolução que equilibre interesses políticos, econômicos e científicos.
Fonte: Painel Político.