Mineração ilegal deixa rastros de destruição e sofrimento em Rondônia

O garimpo ilegal avança com exploração de trabalhadores, presença do crime organizado e impactos socioambientais profundos

Gazeta Rondônia
29/06/2025 09h49 - Atualizado há 7 horas

Um levantamento inédito produzido pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil) e o Instituto Conviva revelou como o avanço do garimpo ilegal tem afetado profundamente o estado de Rondônia. 

A pesquisa, divulgada em junho de 2025, faz parte do "Mapeamento dos Impactos da Mineração Ilegal na Amazônia" e escancara a presença do crime organizado, a exploração do trabalho, o aliciamento de migrantes e a violência contra mulheres nos territórios da Amazônia Legal.

Em Rondônia, o garimpo ilegal não é uma novidade, mas voltou a crescer com força nos últimos anos. A pesquisa mostra que, desde meados de 2016, o estado tem sido um dos pontos estratégicos para atividades clandestinas, especialmente com a movimentação de migrantes em busca de emprego. Boa parte desses trabalhadores acaba em condições precárias, recebendo diárias incertas e muitas vezes se endividando para chegar até os garimpos.

O mapeamento destaca o papel de Porto Velho como um dos polos de recrutamento de mão de obra, com deslocamentos para áreas de difícil acesso na fronteira com Amazonas e Roraima. 

Em oficinas feitas com pessoas em situação de rua em Porto Velho, moradores relataram o aliciamento para trabalhar em garimpos ilegais. Muitos são atraídos por promessas de enriquecimento fácil, mas se deparam com jornadas exaustivas, riscos de morte por desmoronamento e ausência total de direitos.

Além da exploração do trabalho, o estudo aponta o envolvimento de redes criminosas que controlam o transporte, o fornecimento de equipamentos e o próprio comércio do ouro extraído de forma ilegal. 

Rondônia também aparece como rota de circulação de equipamentos para garimpo e até de prostituição forçada. Mulheres são levadas para áreas de garimpo sob falsas promessas e acabam sendo exploradas sexualmente.

Apesar de todo esse cenário, o mapeamento mostra que há resistência e organização. Muitas mulheres que atuam como marreteiras — vendedoras ambulantes que abastecem os garimpos — têm denunciado os abusos e revelado as relações de dominação e exploração que ocorrem nesses espaços. Uma delas Contou que "garimpo é terra de maldição", lembrando o histórico de violência vivido por sua avó, sua mãe e agora por ela mesma.

O documento destaca que o garimpo ilegal no estado tem avançado sobre áreas protegidas e territórios indígenas, especialmente com o uso de equipamentos modernos, dragas e pistas clandestinas. Tudo isso sem licenciamento, sem controle e com impactos diretos nos rios, florestas e comunidades locais.

Enquanto isso, o poder público estadual, segundo o relatório, pouco tem feito para enfrentar essa realidade. Falta fiscalização, políticas públicas e alternativas para as pessoas que vivem nessas regiões. O resultado é um ciclo de exploração, desigualdade e violência que se aprofunda a cada dia na floresta.

A publicação está disponível online e pretende servir como instrumento para ações de incidência política e denúncia, além de dar voz aos que vivem o impacto direto dessa atividade criminosa. Mais do que números, o mapeamento mostra histórias de vida e resistência. Rondônia está no mapa — não só do garimpo ilegal, mas também da luta por justiça social e ambiental na Amazônia.

LEIA O RELATÓRIO. 

Fonte: Voz da Terra.


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