A sociedade precisa envolver-se mais para auxiliar no tratamento de dependentes químicos. O apelo foi feito hoje (22) pelo médico psiquiatra Nestor Ângelo D’andrea Mendes, em live no
Facebook do Conselho Estadual de Políticas Públicas Sobre Drogas (Conepod), do Governo de Rondônia, com o tema “Dependência Química: conceito, tratamento e reabilitação dentro das Comunidades Terapêuticas”.
A ação faz parte da programação da Semana Nacional de Políticas Públicas Sobre o Uso de Drogas que teve início na segunda-feira (21) e encerra no próximo sábado, às 16h, no Espaço Alternativo.
“O tratamento do dependente melhora a própria condição de vida da sociedade; recuperando pessoas, recuperamos famílias e todos resgatarão a dignidade. A dependência química também pode ser chamada neurobiológica, necessitando de equipe multiprofissional composta por médico, psicólogo e terapeuta” explica D’andrea.
Em Rondônia, o tratamento individual ou coletivo aos dependentes químicos é realizado por equipes dos Centros de Atendimento Psicossocial (CAPs) estaduais e municipais, hospitais dia, grupos de alcoólicos anônimos, a entidade Amor Exigente, algumas igrejas e o Centro de Referência de Prevenção e Atenção à Dependência Química (Crepad).
CUIDADOS
“Depois da desintoxicação, os cuidados são para toda a vida”, esclareceu D’andrea. “Em 2019, ele lembrou, a redução de danos se tornou excelente política pública, mas a abstinência também é”.
Em sua larga experiência de trabalho no Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro (HBAP) e no Crepad, em Porto Velho, o médico constata que políticas públicas podem recuperar muitos jovens de rua e no lar.
“Muitos usuários que chegam à situação de rua passam do consumo de cocaína para o crack, e isso se agrava em meio ao desemprego, desamparo, doença mental e à pandemia (do novo coronavírus)”, assinalou
EFEITO BIOLÓGICO
O médico disse ainda que a situação do paciente de rua requer a desintoxicação, notadamente de álcool e crack.
“Nesse momento, pacientes devem ser conduzidos à internação hospitalar com médico”, ele defendeu. E justificou: “Na comunidade terapêutica, ele se recupera, mas não desintoxica”.
Desde suas palestras anteriores, D’andrea explica que a eliminação dos efeitos do álcool e de outras drogas é mais demorado em mulheres.
“Biologicamente, nelas as drogas permanecem mais tempo no fígado e rins”. Mulheres e moças também têm chegado cedo às drogas em Porto Velho e noutras cidades de Rondônia.
O médico elogiou o trabalho das comunidades, nas quais, no prazo de seis meses, padres, pastores e outros religiosos conseguem melhorar a espiritualidade, o desenvolvimento humano e os aspectos recreativo e lúdico dos dependentes, porque os acompanham de perto e os auxiliam na recuperação cerebral”.
A assistente social Ludney de Queiroz apelou:
“Ainda temos poucas comunidades terapêuticas, precisamos mais; a dependência química é crônica e reincidente, e as pessoas exigem cuidados para não terem recaída”.
Esse alerta fora feito, quatro anos atrás, pela ex-moradora de rua Luzanira Ribeiro Saboia, quando descreveu a vulnerabilidade das mulheres às recaídas.
Ludney informou que Rondônia dispõe de entidades que recebem e tratam de dependentes químicos em Candeias do Jamari, Cacoal, Porto Velho, Rolim de Moura e Vilhena.
“O Estado procura dar suporte, mas as políticas públicas ainda são incipientes”, disse. Apelou às pessoas para que fortaleçam o voluntariado, conhecendo o Crepad e observando o tratamento ambulatorial. “Que a Semana Nacional seja de enfrentamento e de conscientização”, acrescentou.