30 anos do brutal massacre de Corumbiara considerado o maior conflito agrário da história do Brasil

Atos em memória as vítimas ocorrerão na manhã deste sábado, 9

Gazeta Rondônia
08/08/2025 19h03 - Atualizado há 11 horas

O maior conflito agrário já registrado em Rondônia e um dos mais brutais da história recente do Brasil, ocorrido em 9 de agosto de 1995, completa 30 anos neste sábado. As imagens e relatos dos crimes cometidos em Corumbiara chocaram o mundo, diante da brutalidade perpetrada pela polícia militar de Rondônia contra as cerca de 600 famílias que estavam acampadas na Fazenda Santa Elina.

Uma extensa programação está prevista para marcar a memória das vítimas da Heroica Resistência Camponesa de Corumbiara, como foi batizado o episódio por aqueles que sobreviveram. Neste sábado (9) ocorrerá uma manifestação convocada pelo Comitê em Defesa das Vítimas de Santa Elina (Codevise), Grupos de Pesquisa da Universidade Federal de Rondônia e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO) e por entidades dos movimentos sociais e sindical. O ANDES-SN estará representado pela sua seção sindical, a Associação dos Docentes da Universidade Federal de Rondônia (Adunir SSind).

De acordo com Marilsa Miranda, diretora da Adunir SSind, o ato, previsto para ocorrer às 10h na Praça da Igreja da Matriz, tem como pautas centrais a titulação das terras, a indenização para todas as vítimas do conflito de 1995, a concessão de financiamento e a demarcação de todas as terras indígenas.

“O Estado brasileiro ainda não indenizou as vítimas do conflito, sobretudo os familiares das vítimas fatais, mesmo havendo decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos”, lembra a docente. 

O ato também denunciará a estratégia de criminalização dos movimentos sociais e os crimes do latifúndio contra os camponeses. A diretora da seção sindical conta que, recentemente, a Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia (LCP) tem sofrido uma campanha de criminalização por parte dos monopólios de comunicação e agentes estatais. 

“A região é próxima de Terras Indígenas, que sofrem pressão de latifundiários, como a Terra Indígena Tanaru, onde vivia o denominado “índio do Buraco”, último remanescente do seu povo, que morreu a cerca de dois anos”, explica.

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Ainda seguindo a programação de atividades, uma série de reuniões e debates ocorrerão na antiga sede da fazenda, onde hoje mais de 750 famílias detêm a posse da terra, nos assentamentos Zé Bentão, Alberico Carvalho, Alzira Augusto Monteiro, Renato Natan, Maranata e Maranata II. Os assentamentos foram criados após duas ocupações, que ocorreram em 2008 e 2010, dirigidas pela LCP. 

Heroica Resistência Camponesa de Corumbiara 

Em 1995, cerca 300 homens, entre pistoleiros e policiais militares, atacaram as famílias que ocupavam a Fazenda Santa Elina, em Corumbiara, no sul de Rondônia. Após horas de conflito, as trabalhadoras e trabalhadores rurais foram rendidos e submetidos a violentas torturas. Dez trabalhadores rurais e uma criança foram assassinados, dezenas desapareceram e 350 foram feridos. Dois policiais também morreram. 

Três policiais militares e dois trabalhadores sem-terra foram condenados. Após o Massacre de Corumbiara surgiu a Liga dos Camponeses Pobres (LCP), criada a partir da união de sindicatos urbanos com o Movimento Camponês Corumbiara, que aglutinou os sobreviventes. Fundada em 1999, a liga é hoje um dos principais movimentos sociais de Rondônia em defesa da revolução agrária. 

Ataque da PM 
Às vésperas dos 30 anos da Heroica Resistência Camponesa de Corumbiara, na manhã desta sexta-feira (8), a Área Valdiro Chagas, na cidade de Machadinho d'Oeste (RO), foi palco de mais um grave episódio de violência do Estado contra camponeses, conforme denúncia uma nota da Associação Brasileira dos Advogados do Povo (Abrapo). 

Segundo a entidade, tropas do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do estado (Bope) realizaram voos rasantes com helicópteros e efetuaram diversos disparos de arma de fogo na região, aterrorizando as famílias que vivem e trabalham na terra. Um camponês foi morto pela PM, fato confirmado pelo próprio comandante do órgão, de acordo com a Abrapo.

“A ação ocorre às vésperas dos 30 anos do Heroica Resistência Camponesa de Santa Elina que ceifou a vida de dezenas de camponeses, tal episódio é emblemático da luta pela terra no Brasil e símbolo da resistência camponesa frente à repressão brutal do latifúndio e do Estado burguês. O momento exigia respeito, memória e justiça — não a repetição dos mesmos crimes”, alerta a entidade.

Fonte: Andes.


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