Criança tem que ser criança: quais comportamentos os pais devem permitir, proibir e ficar atentos, segundo educadoras

“Adultização infantil” voltou ao debate público depois de vídeo viral do influenciador Felca

Gazeta Rondônia
23/08/2025 11h29 - Atualizado há 7 horas

“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”, diz o artigo 227 da Constituição brasileira. Já o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seus muitos artigos, garante ao menor o direito de brincar, praticar esportes, divertir-se e de ter preservando sua dignidade, identidade e valores.

Mas afinal, o que é ser criança? A viralização de um vídeo do influenciador Felca sobre adultização infantil tomou o noticiário e as rodas de conversa no Brasil nos últimos dias, trazendo à tona importantes discussões: exposição precoce e sem filtro de crianças por adultos; crianças reproduzindo padrões e atitudes de adultos, sexualização de menores e a falta de uma “vivência de criança” desencadeada pelo excesso de telas que a sociedade atual vive.

 

Por que a criança tem que ser criança?

 

De acordo com Audrey Taguti, diretora pedagógica do Brazilian International School – BIS, de São Paulo/SP, a infância é uma fase insubstituível, que deve ser vivida em plenitude para que cada criança desenvolva-se de forma saudável. “No desenvolvimento global do indivíduo, cada degrau é uma fase, e pular etapas faz com que a maturidade não acompanhe o que está sendo vivido”, explica. Para a especialista, a sociedade atual, marcada pela aceleração e pela exposição precoce a estímulos do mundo globalizado, muitas vezes acaba antecipando a primeira infância e impondo experiências que não cabem à idade.
 

Essa distorção se manifesta em diferentes situações: desde o uso de roupas sexualizadas, que para a criança não passam de vestimentas, mas para a sociedade representam uma exposição desnecessária, até a entrega de celulares e acesso irrestrito às redes sociais, que despertam comportamentos incompatíveis com a faixa etária. “Cada fase precisa ser vivida com seus próprios brinquedos, vivências e limites. Quando isso não acontece, etapas ficam inacabadas”, ressalta Audrey. Para ela, cabe às famílias e escolas fortalecer o caráter das crianças por meio de experiências culturais e pedagógicas — como o contato com o folclore e com brinquedos adequados à idade — e adotar a tecnologia de forma responsável, sempre vigiada por adultos, nunca como substituta da vivência infantil.
 

O que a criança pode e não pode fazer?
 

No estágio natural do desenvolvimento, a infância é marcada por momentos de brincadeira livre, experimentação e descobertas. É esperado que a criança explore diferentes tipos de jogos, crie histórias, invente personagens e se envolva em atividades lúdicas que estimulem sua imaginação e criatividade, sempre em um ambiente livre de pressões estéticas ou sociais.
 

“Conviver com crianças de faixa etária aproximada contribui para o desenvolvimento social e emocional, pois é também nesse contexto que elas aprendem a lidar com regras, resolver conflitos e desenvolver habilidades socioemocionais. Além disso, o faz de conta permanece como uma das formas mais ricas de aprendizado: ao simular papéis sociais, a criança ensaia situações da vida real dentro de um universo seguro, ampliando sua compreensão do mundo e de si mesma”, explica Renata Alonso, coordenadora pedagógica de educação infantil na Escola Bilíngue Aubrick, de São Paulo/SP.
 

Em contrapartida, comportamentos que antecipam vivências adultas, como o uso frequente de maquiagem, roupas que sugerem uma sexualização da criança, consumo de conteúdos voltados para adultos ou a adoção de posturas que imitem sensualidade, podem interferir nesse processo e devem ser evitados ou redirecionados pelos pais. “Isso não significa proibir toda forma de expressão, mas sim estabelecer limites claros para que a criança se desenvolva de maneira saudável, respeitando seu tempo e maturidade”, ressalta Renata.
 

Redes sociais e celulares: atenção redobrada
 

O uso precoce e sem supervisão da internet, aplicativos e das redes sociais é um dos principais vetores da adultização infantil. A exposição exagerada, a comparação com padrões irreais e a busca por validação por meio de curtidas e comentários afetam diretamente a autoestima e a saúde mental.
 

“Além de proteger a criança contra conteúdos inapropriados e riscos como cyberbullying e assédio, é papel dos pais orientar e estabelecer regras claras sobre tempo de tela, plataformas permitidas e supervisão constante”, alerta Lena Cypriano, coordenadora pedagógica do colégio Progresso Bilíngue, de Campinas/SP. Ela reforça que o ideal é adiar ao máximo a entrada da criança nas redes e incentivar atividades presenciais, contato com a natureza e brincadeiras que estimulem habilidades reais de convivência.
 

“Muito se discute entre estudiosos em pedagogia a idade ideal para fornecer celulares a crianças, entre os 10 e 14 anos, e sempre com supervisão. Há inclusive países discutindo a proibição total de celulares para crianças e adolescentes, impondo multas para pais, responsáveis e plataformas que não cumprirem. É uma discussão importante, que avançou no Brasil com a proibição dos aparelhos nas escolas, onde temos visto diariamente o efeito positivo nos alunos, com mais concentração durante as aulas”, finaliza. Fonte: Assessoria


  • Ir para GoogleNews
Notícias Relacionadas »