03/07/2021 às 09h08min - Atualizada em 03/07/2021 às 09h08min

Ecológica e rentável, energia solar cresce 600% em um ano e movimenta mercado milionário em Cerejeiras

Dados da Aneel mostram que o cerejeirense está cada vez mais apostando em energia fotovoltaica. A rentabilidade, aliada à ecologia, explica o crescimento do setor.

Gazeta Rondônia
Rildo Costa

Placas solares instaladas em residência de casal de pioneiros em Cerejeiras. A conta de luz caiu drasticamente. (Foto: Divulgação)
A questão da energia elétrica em Cerejeiras sempre teve dois lados.

O primeiro é o da dificuldade, pois a quantidade de eletricidade fornecida é menor que um crescimento futuro do município poderá exigir. A linha distribuidora de Vilhena a Colorado é de 69 kV. Já a linha que vai de Colorado a Cerejeiras é de 34,5 kV. Ou seja, a eletricidade chega com menos força. Mais fraca, a eletricidade tem preocupado o setor produtivo no município, que teme ter de frear o crescimento por falta de energia para tocar as indústrias e os secadores, para citar dois exemplos.


Já o segundo lado é o da oportunidade. Desde a sua emancipação, o município tem sido palco de empreendedores que apostaram no setor energético e obtiveram retorno. Em Cerejeiras, empresas pioneiras estão em atuação até os dias atuais, atuando em instalações de iluminação pública, construção de linhas privadas na área rural, dentre outros projetos.

A última oportunidade aberta no setor no município é o setor de geração de eletricidade fotovoltaica, conhecida como energia solar.
 
Se por um lado, a energia elétrica enfrentou problemas em Cerejeiras, com luz fraca e falta de investimentos das estatais, por outro lado o setor é de avanços, com a atuação das empresas pioneiras, a instalação das luzes de LED na iluminação pública realizada pela Energisa e, agora, com o aquecimento da energia solar.
Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o número de projetos aprovados para o município de Cerejeiras saltou de quatro em 2019 para 28 em 2020, ou seja, um crescimento de 600%. Em 2021, a quantidade de projetos instalados já chegou a 29, embora ainda estejamos no meio do ano. No total, há 61 instalações no município.
 
 
Os números da Aneel é apenas uma referência quantitativa do avanço do setor em Cerejeiras, uma vez que é visível o número de moradores, urbanos e rurais, que optaram por este modelo de geração de eletricidade nos últimos dois anos.

É possível também que o setor já poderia ter sido aquecido bem antes disso, já que desde a década de 2000 a energia solar é tida como uma tendência. Mas, talvez por um medo da interferência do governo com possíveis taxas e tributos, a insegurança pode ter adiado os investimentos. Agora, porém, com mais clareza para o setor, os moradores intensificaram suas apostas.

A pioneira Lola Longo, por exemplo, é uma das cerejeirenses que decidiu investir em energia solar. Ela se mudou com o marido Nelson Longo para Cerejeiras em 1981, vindos do Sul do Brasil.

Por volta do ano de 1990, o casal de pioneiros, que moram numa chácara, chegou a investir numa rede própria de eletricidade. Construiu uma linha trifásica ligada à antiga Ceron, pois precisava para abastecer a propriedade da família, onde também moram os filhos. Atualmente, parte desta luz trifásica abastece até o Residencial Village.

Em maio de 2020, o casal decidiu investir em energia solar. A empresa Paese Energy instalou 51 placas no telhado da residência. A luz gerada pelas placas abastecem a casa do casal e mais duas residências da família. O projeto foi financiado pela Sicoob Credisul.

“Foi um excelente investimento. Eu pagava por volta de R$ 1.900,00 de conta de luz pelas três residências. Hoje pago por volta de R$ 300,00”, disse Dona Lola, como é conhecida.

A pioneira, assim como todos os cerejeirenses que instalaram a energia solar, acompanha por um aplicativo a situação da eletricidade instalada em sua residência. O aplicativo, instalado no celular, mostra o quadro atual de uma infinidade de informações, mas três delas são monitoradas com muita atenção: a quantidade de eletricidade gerada naquele momento, o consumo e, se houve, o crédito adquirido, ou seja, o quanto de luz o proprietário do sistema solar tem “armazenado”.
 
O sistema de crédito funciona assim. A energia que não é consumida não é, necessariamente, “armazenada”. Ela é devolvida para a rede elétrica da Energisa. Ali fica um crédito que depois o proprietário tem o direito de usar. Ou seja, ele se torna não somente um consumidor de energia da Energisa, mas também um fornecedor.
O setor de energia solar tem um sistema bem peculiar de funcionamento. Primeiro, tem que ter uma empresa especializada no setor. Ela entra com a instalação das placas, dão a garantia ao sistema por um determinado prazo (por 12 anos, por exemplo) e faz a manutenção necessária, reparando um ou outro problema que possa surgir. “Nós prestamos uma assessoria completa, tanto antes, durante e depois de instaladas as placas”, disse o engenheiro elétrico Leandro Paese, da já citada Paese Energy.

Segundo, entra o financiador – caso o morador queira optar por um crédito bancário. A maioria opta por financiar o projeto junto a uma instituição financeira por uma questão de estratégia, pois a economia gerada pela energia solar pagará pela instalação do projeto no decorrer do tempo e o banco intermedia este processo. O gerente da Sicoob Credisul, Rodrigo Antonio Mattos, explica que um bom número de cooperados financiaram projetos de energia solar por meio da cooperativa. “Temos uma taxa bem atrativa e com até 57 parcelas, com 03 de carência, totalizando 60 meses de prazo. Já liberamos vários créditos para cooperados que atuam desde o setor empresarial como nas propriedades rurais”.

Terceiro, entra o morador, que é quem contrata o projeto. É ele, afinal, que faz o setor girar.

Além disso, ainda tem a concessionária de energia elétrica, no caso a Energisa, que tem de aceitar que a eletricidade gerada pelas placas solares possa interagir com a rede da distribuidora. Para isso, é preciso entrar com um pedido de autorização, segundo certas normativas estabelecidas pela companhia de distribuição, baseadas em normas da Aneel.
 
Projetos de variados tamanhos já foram instalados no município de Cerejeiras. Desde um morador, que instalou cinco placas solares, até um empresário, que investiu em 500 placas. Este projeto menor saiu por volta de R$ 8.000,00 e o maior, por volta de R$ 1,1 milhão.
Ao constatar este avanço da eletricidade fotovoltaica em Cerejeiras, é esperado que se pergunte porque o setor tem atraído tantos investimentos dos moradores e movimenta um mercado milionário no município.

Os profissionais ouvidos para esta reportagem constatam pelo menos dois motivos: uma razão subjacente, que é a questão ecológica, e a razão predominante, a financeira.

A energia solar é ecologicamente correta, pois usa apenas a luz do sol para gerar eletricidade. Não usa, por exemplo, combustíveis fósseis, como o diesel e as lenhas, que é produzida nas termelétricas, uma energia mais suja e mais cara (aliás, este é o assunto do momento).

Mas o que realmente parece atrair os investimentos por parte dos cerejeirenses é o retorno financeiro. A energia solar se paga em um período de cinco anos. A partir daí, é só lucro, por assim dizer. O cerejeirense paga por volta de R$ 0,79 por kWh. Com impostos e contribuição da iluminação pública, este valor sobe para cerca de R$ 0,89. O custo da energia fotovoltaica no Brasil é de cerca de R$ 0,29, de acordo com empresas do setor (não há dados sobre o custo deste modelo de energia elétrica no município). Ou seja, a energia produzida pela luz solar é bem mais barata que aquela entregue pela distribuidora.

O gerente da Sicoob Credisul, Rodrigo Mattos, resume muito bem esta realidade. “Acredito que se une do útil ao agradável. É bom para o meio ambiente e é bom para o bolso”.
 
O setor de eletricidade fotovoltaica cresce em Cerejeiras não é, necessariamente, por um amor filosófico pela ecologia. Mas, sim, porque dá retorno econômico. Mas aqui está uma observação tão útil quanto necessária: é melhor que seja assim. Sendo um investimento rentável, a energia solar é um setor que será sempre atraente e, neste processo, gera renda, emprego, movimentando a economia no município de Cerejeiras.
Por fim, foi dito no início desta reportagem que a quantidade de energia elétrica fornecida pela concessionária em Cerejeiras tem preocupado o setor produtivo local. Mas algumas vitórias neste sentido têm acontecido, como a solicitação de empresários cerejeirenses para que a Energisa invista no setor. A outra vitória é a própria energia solar, que já vai, embora ainda muito pouco, ajudando a aumentar a quantidade de eletricidade no município.
 



 
 


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