17/07/2021 às 10h34min - Atualizada em 17/07/2021 às 10h34min

Referência na pecuária intensiva, casal de empreendedores tem meta de engordar mil bois por ano em 91 hectares de terra em Cerejeiras

Sítio GH tem sistema produtivo integrado, com pastagem irrigada, produção de silagem e fábrica de ração. Apesar do investimento alto, o objetivo é baixar o custo.

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Rildo Costa

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Jair Ferro engorda 285 bois em confinamento. Os animais são destinados ao abate em 120 dias. (Foto: Rildo Costa)
Uma propriedade rural que está sendo administrada com os mesmos rigores de gestão que uma empresa. Este é o objetivo de um casal de empreendedores que decidiu investir num sistema produtivo com foco na pecuária intensiva.

Jair de Oliveira Ferro, que já exerceu a profissão de professor, comerciante e contador, se mudou para Cerejeiras em 1985. Ele nasceu no Mato Grosso do Sul e passou três anos em Mato Grosso antes de migrar para o município. Aqui, casou-se com a contadora Maria Seloir da Rosa Ferro, que foi sócia dele num escritório contábil e hoje o ajuda a administrar o Sítio GH, que fica no quilômetro 7 da BR-435, sentido Corumbiara.


Na propriedade, que tem 91 hectares, o casal está montando um sistema produtivo, tendo como atividade principal a pecuária intensiva. No momento, já estão sendo engordados 285 bois, próprios e de terceiros. A meta, porém, é ambiciosa: engordar mil animais por ano na propriedade.

A pecuária bovina pode ser dividida em duas: de leite, que é para a produção leiteira, e de corte, para a produção de carne através da cria, recria e engorda. Cada um desses tipos de atividade pode ser exercida em duas modalidades: a extensiva e a intensiva. A extensiva é o boi solto no pasto, com apenas cuidados básicos tradicionais da pecuária. Já a pecuária intensiva é quando se intensifica esse processo através de várias práticas modernas, que une manejo e tecnologia, como confinamento, pastejo rotacionado, irrigação de pastagem e melhoria genética.

O chefe da Idaron em Cerejeiras, Everton Beatto, explica melhor esta atividade. “Considero pecuária intensiva um conjunto de práticas produtivas e não somente uma só variável isolada. Por exemplo, o confinamento faz parte deste modelo de produção, mas apenas confinar não quer dizer que seja, necessariamente, uma pecuária intensiva”, diz Everton Beatto.
 
Pecuária intensiva é um conjunto de variáveis que busca aumentar a produção animal através da intensificação do sistema produtivo.
Considerando o conjunto de variáveis que estão sendo implantadas no Sítio GH, realmente trata-se de uma prática de pecuária intensiva.

Na propriedade, o “pacote” completo da pecuária intensiva está sendo implantado.

Por exemplo, está sendo construído um sistema de irrigação em piquetes de capim-açu. Este capim, desenvolvido pela Embrapa, é cortado para fazer silagem.

A silagem, que é feita na própria propriedade, é adicionada à ração. A razão, aliás, também  é de fabricação própria, numa pequena fábrica dentro do Sítio GH.

Em seguida, esta alimentação à base de silagem, torta de algodão e ração é destinada aos bois, que ficam em um piquete de confinamento. O alimento dos animais é colocado no cocho. O piquete é abastecido por água, bombeada diretamente do rio. Os animais ficam por 120 dias confinados, depois são destinados para o abate.

A propriedade também produz milho, que pode ser utilizado tanto na silagem (se cortado verde) quanto na ração (em grão). E por falar em grão, o Sítio GH está sendo palco de uma obra de um secador de soja e milho, com capacidade de processar 20 toneladas de soja ou milho por hora e capacidade de armazenamento de 20 mil sacas.

Será adicionado a este processo um sistema chamado de "fertirrigação". Funciona mais ou menos assim: as fezes dos bois são canalizadas para uma vala de concreto, que passa por um processo de fermentação e, depois, o esterco, que é um adubo natural, é lançado por bomba para a pastagem. Por conter 80% de água e 20% de fertilizante orgânico, o processo é denominado de fertirrigação.

A propriedade tem todos os licenciamentos ambientais para exercer a atividade.

Neste modelo, tudo se aproveita e reaproveita. Nada se perde.


Todo o processo produtivo, como você já deve ter notado, não é muito simples. Existem inúmeras variáveis a serem acompanhadas. E são acompanhadas. No escritório do Sítio GH, o casal acompanha, na ponta do lápis, aliás, através de programas de computador, cada número do negócio. “Aqui o controle é rígido. Temos que saber cada centavo que o boi custa”, explica Jair Ferro.

Por exemplo, o custo operacional de cada cabeça de gado confinado é de 6% do valor total do animal. Este custo de operação inclui os cinco funcionários, além dos dois proprietários. Cada minuto de trabalho entra na planilha. Nada se perde, nem mesmo um mísero zero num cálculo de despesas.

Num negócio como este, a gestão não é apenas uma filosofia distante. É uma prática diária. O  casal já foi aluno dos cursos de gestão do consultor empresarial (e zootecnista) Vinicius Paiva da Silva, da VPS – Assessoria & Consultoria. A empresa de consultoria, aliás, presta assessoria de gestão na propriedade.

Pode parecer uma contradição de termos, mas os proprietários do Sítio GH, que estão investindo muito na atividade de pecuária intensiva, têm como objetivo reduzir os custos de produção. Ou seja, a redução das despesas no longo prazo virá com mais despesas no curto prazo. A busca por reduzir cada real investido na atividade explica a necessidade dos proprietários por ter todos os números do negócio na palma da mão.
 
O Sítio GH pode ser tomado como uma inspiração para os demais pecuaristas da região. Somente com a intensificação da atividade é que será possível aumentar o rebanho no município de Cerejeiras, pois boa parte das terras já está destinada às lavouras de soja e milho.
Fora das cercas do Sítio GH, no geral, a pecuária no município de Cerejeiras está longe desse nível de profissionalização. Segundo dados da Idaron, existem 872 propriedades rurais dedicadas à pecuária no município. No entanto, destas, apenas umas oito (ou seja, 1%) tem algum nível de intensificação de criação de gado de corte.

O município de Cerejeiras conta hoje com 82.063 cabeças de gado, segundo a Idaron. É evidente que boa parte desses animais não é destinada ao corte, uma vez que coexiste uma atividade leiteira no município. No passado, havia mais bois. Eram 86.870 em 2007. No ano de 2017, foi um pico, com 96.624 cabeças.

Caso o município de Cerejeiras queira se tornar uma referência também na pecuária intensiva de corte, será necessário, indiscutivelmente, aumentar o número de cabeças de gado na região. Até por uma questão lógica: a reposição, por exemplo. A produção de novos bezerros, com a quantidade atual de gado, não daria conta de abastecer os sistemas produtivos pecuários que viriam a ser instalados. Apenas para dar um exemplo real desta problemática, o Sítio GH já planeja comprar bezerros de outras regiões.

“Hoje, só sobrevive na pecuária quem se organiza, se desenvolve e aplica novas tecnologias”, diz Jair Ferro.

Esse é o caminho que o município terá que trilhar para se tornar uma referência em pecuária de corte, assim como já é na agricultura. E é essa trilha que o casal Jair e Seloir Ferro está tomando. Faltam, agora, novos empreendedores rurais que também queiram trilhar este caminho produtivo.
 


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