07/08/2021 às 07h44min - Atualizada em 07/08/2021 às 07h44min

Conheça a história do padeiro que mostra que as oportunidades do passado continuam existindo hoje na região de Cerejeiras

Zé Carlos, como é conhecido, fundou a Padaria Vilma em 1986. Hoje, a empresa dele fabrica até cinco mil pães por dia. Mas ele inovou para sobreviver.

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Rildo Costa

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O empresário com um dos fornos da panificadora que fundou em Cerejeiras. Sempre tem demanda para o produto dele. (Foto: Rildo Costa)

Em busca de uma vida melhor, o empresário José Carlos de Lima, conhecido como Zé Carlos, de 67 anos, saiu do estado de São Paulo, onde nasceu, e se mudou para Cerejeiras.

Nascido na cidade paulista de Itapetininga, o pioneiro chegou ao município cerejeirense no dia 12 de janeiro de 1986.

A primeira empresa de Zé Carlos é também a única até hoje, a Padaria Vilma.

“Comecei atendendo encomendas de pães em empresas. Na época, Cerejeiras tinha mais de 50 serrarias e eu atendia essas madeireiras, que compravam meu produto para fazer lanche para os funcionários”, conta Zé Carlos.

A primeira padaria foi no local onde hoje é a Rural Plan, ao lado da Loja Gazin, na Rua Rondônia. O prédio, alugado, foi construído pelo próprio empresário. Mais tarde, ele comprou um terreno na Avenida Integração Nacional, para onde a empresa se mudou e está situada até hoje.
 

 

Com o tempo, Zé Carlos foi estruturando o negócio. Ainda na década de 1980, o empresário comprou um caminhão. Ele ia pessoalmente a São Paulo buscar a principal matéria-prima dos produtos que fabrica, o trigo. “Eu ia carregado de uma carga que pegava para fazer frete e voltava carregado de trigo que eu comprava lá”, diz o empresário, que tirou uma das fotos que ilustram esta reportagem com um dos quatro filhos, José Carlos de Lima Júnior, que atualmente trabalha na padaria com o pai. Hoje, ele não viaja mais no caminhão, pois o trigo é entregue por uma transportadora em Cerejeiras.

Atualmente, a Padaria Vilma, que ganhou o nome da esposa de Zé Carlos, continua sendo uma referência no setor de panificação no município. A empresa tem atualmente 26 funcionários, fora os terceirizados e temporários. Além dos pães, a empresa faz bolo para festas familiares como aniversários e casamentos e oferece salgados e lanches no local, que se tornou também um ponto de encontro para tomar um café e jogar conversa fora. “Eu sempre quis construir uma empresa que atendesse as famílias. E hoje a Padaria Vilma é este lugar onde você marca para se encontrar com um amigo ou para levar os filhos”, disse o empresário, orgulhoso do negócio que criou.

 


 

O produto carro-chefe de qualquer padaria brasileira é o pão francês. É um pãozinho versátil, pois pode ser consumido com carne, ovo, margarina, manteiga, doce de leite ou com o que a criatividade mandar. O pãozinho francês é também o mais barato, o que atende a realidade econômica do brasileiro. A Padaria Vilma fabrica, por dia, até cinco mil pães franceses.

Quando começou, a empresa fabricava somente dois produtos: o famoso pão francês e o pão bengala. Atualmente, porém, a empresa se diversificou. Fabrica e vende bolos, doces, pizzas, pão de queijo, pastel, quibe, coxinha, hambúrgueres, café, leite, suco, rosquinhas, bolachas, biscoitos e a lista cresce toda vez que um cliente pede um produto novo. “O segredo hoje é a diversificação”, é o resumo que o empresário faz de sua principal estratégia para permanecer no mercado até os dias de hoje.
 

Existem quatro padarias em Cerejeiras atualmente. Uma delas foi aberta há um mês, de dois irmãos vindos do Paraná.

O setor de padaria é um dos mais difíceis que existem. Mas também um dos mais rentáveis.

Nos livros de gestão, a panificação é o setor que serve como modelo básico para qualquer outro tipo de segmento. As características de uma panificadora carregam todas as variáveis da administração de uma empresa complexa. Por exemplo, o dono fabrica o pão de madrugada, vende durante o dia e faz a gestão do negócio à noite. O capital de giro de uma padaria tem um ciclo de vida curtíssimo, pois é de um dia. Se o padeiro resolver dormir meia hora a mais em qualquer dia da semana, os pães não sairão do forno para a vitrine. E se isso acontecer, o cliente não tem o que comprar. E se o cliente não achar o pãozinho quente, no dia seguinte ele já presume que não terão produto disponível e não volta mais. Uma padaria não tem estoque. O produto de hoje não serve para amanhã. Por essas e outras, podemos dizer a máxima: quem tem sucesso com uma padaria consegue ter sucesso em qualquer setor.

Por outro lado, a panificação também tem seus benefícios. Por exemplo, entra dinheiro líquido todos os dias. Se o empresário souber administrar este fluxo de caixa, a empresa terá oxigênio para crescer com essa irrigação financeira diária. Outra característica positiva é que o pãozinho quente não pode ser comprado fora da cidade, ou pela internet na China, por exemplo.

Entretanto, a característica mais importante do setor é a demanda pelo produto que a panificadora fabrica e venda. “O ser humano sempre vai precisar de pão. E vai precisar todos os dias”, disse Zé Carlos. O pão aparece na história da humanidade desde antes de Moisés, aquele líder hebreu que aparece na Bíblia. Aliás, o produto da panificação se tornou símbolo do sustento humano. Quando nos referimos à profissão de alguém, falamos: “Esse é o ganha pão dele”.

O problema, no entanto, é onde montar uma padaria. Por exemplo, existe um mito de que havia muito mais habitantes no município de Cerejeiras no passado do que hoje – o que, em parte, é verdade. Por isso, uma padaria poderia vender muito naquele tempo, mas não hoje. Mas pegar apenas o índice populacional como base e dizer que a região não é mais um cenário propício para os negócios já é um salto no escuro. Embora a região possa ter menos pessoas que no passado, o cliente de hoje compra uma diversidade maior de produtos que antes.  “Cerejeiras hoje tem um cenário diferente, mas oferece muitas oportunidades. Basta você se preparar para aproveitar as portas que se abrem por aqui”, diz Zé Carlos.
 

Existe um mito de que as oportunidades de negócios em Cerejeiras eram maiores no passado que no presente. Embora tenha havido de fato transformações na região, novas portas continuam se abrindo. Inclusive para setores tradicionais, desde que se renovem.

Aliás, verdade seja dita, Zé Carlos vive o que prega. Assim que ficou sabendo que o município de Cerejeiras iria receber grandes indústrias de etanol (que ainda não saiu), o empresário se adiantou e adquiriu um supercongelador que consegue armazenar pão congelado a uma temperatura de 70 graus negativos. “Quando os investidores demandarem uma quantidade grande de pão congelado, a Padaria Vilma estará pronta para atendê-los”, diz o empresário.

Não é só na estrutura física da em empresa que Zé Carlos investe. O empresário investe também em conhecimento. Ele vai a São Paulo todos os anos, onde participa de eventos e visita panificadoras de amigos. "O que aprendo lá aplico aqui", diz o empresário cerejeirense.

São essas as lições que este personagem mostra sobre o município de Cerejeiras. As oportunidades existem, mas estão sempre em constante transformação.

Cabe a cada um acompanhar essas transformações e atender aos clientes de acordo com as (novas) necessidades deles. As oportunidades existem até para os setores tradicionais, desde que inovem. “Gosto sempre de lembrar que empresa pioneira também pode quebrar. Basta parar no tempo”, conclui Zé Carlos.
 

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