O ímã, conhecido por sua capacidade de mover itens metálicos sem tocá-los, se tornou o objeto principal de um estudo feito no Instituto Federal de Rondônia (IFRO) que quer contribuir com o tratamento de tumores cancerígenos.
O estudo pioneiro de nanotecnologia implementado no Instituto gerou um artigo que foi publicado na revista científica International Journal for Innovation Education and Research, no início de setembro.
As nanopartículas magnéticas são o foco de estudo do professor Cléver Stein desde as teses de mestrado e doutorado iniciadas em 2012. Recentemente, ele trouxe o tema para o grupo de pesquisa em meio ambiente, educação e energias renováveis do Ifro, onde leciona a disciplina de física.
Antes da pandemia, o grupo começou a analisar a influência do calor sobre as nanopartículas da ferrita de cobalto e como esse calor age nas propriedades dessa substância magnética.
As temperaturas de comparação utilizadas foram 30°C e 90°C. Eles descobriram, entre outros pontos, que quando a nanopartícula da ferrita de cobalto é submetida a uma temperatura superior, sua atração magnética se torna mais potente. O contrário do que aconteceria caso a substância estivesse em um tamanho macroscópico.
A nanotecnologia estuda partículas tão pequenas que não são visíveis a olho nu. No caso de um elemento eletromagnético, as propriedades dele permanecem, mesmo quando fracionado até atingir um tamanho nanomolecular.
"Se você quebra um imã, você não o perde e sim ganha outro imã", explica Cléver.
Segundo o professor, a ideia de analisar partículas nanomagnéticas é incorpora-las com alguma droga ou algo que o corpo humano identifique como "biocompatível" e elaborar um tratamento para alguns tipos de câncer que tenha tumor, como o de mama.
O medicamento, ao ser aplicado no paciente, ancora as nanopartículas de cobalto próximo ao tumor e através de um campo magnético externo essas partículas seriam aquecidas. O calor gerado tem o objetivo de "matar" as células cancerígenas e manter as saudáveis mais resistentes.
"O campo magnético externo seria algo similar ao micro-ondas. Aí você pensa que nós estamos dentro do micro-ondas gigante, mas ao invés de ter um corpo elétrico nós temos um campo magnético", explica.
Com o artigo publicado, o estudo se torna acessível para qualquer pesquisador da área da medicina ou biomedicina que queira utilizar as propriedades da ferrita de cobalto em um tratamento em desenvolvimento. A parte da física é analisar cada propriedade e a reação dela com outras substâncias.
"Você tem que saber bem a característica de cada material, as propriedades físicas dela, para poder ter uma aplicação científica bem-sucedida", ressalta Cléver.
Como são extremamente pequenas, essas partículas podem ser inseridas até dentro de uma veia do cérebro no tratamento de tumores cerebrais.
Além do uso na medicina, as partículas também podem ser empregadas em tecnologias das áreas da engenharia, como resfriamento de transformadores e armazenamento dos dados no disco rígido de computadores.
Apesar de grande parte da pesquisa ser realizada diretamente no campus Calama do Ifro em Porto Velho, algumas partes da análise precisaram de contribuição de outras instituições de ensino, como a Universidade de Brasília (UnB) que possui um laboratório multiusuário.
"Se não fosse por eles a gente não conseguiria fazer esse tipo de pesquisa aqui porque os equipamentos são muito caros. Equipamentos que começam na escala de R$ 1 milhão".
O grupo de iniciação científica do Ifro existe há oito anos e oferece bolsa para pelo menos dois alunos da graduação e cursos técnicos em cada projeto elaborado anualmente.
"Eu vim da universidade, participei de projeto de pesquisa e a bolsa me ajudou a conseguir terminar o curso. Tive bolsa de mestrado e bolsa de doutorado. O objetivo é incentivar os alunos e formar novos cientistas para o estado", comenta o professor.
Outro participante do projeto é o mestre Maicon Maciel. Ele foi aluno do professor Cléver ainda no Ifro e atualmente leciona no instituto no núcleo de Engenharia.
No estudo da ferrita de cobalto, quatro estudantes do Ifro participaram do processo de descoberta. Os nomes deles são os primeiros creditados no artigo publicado em âmbito internacional.
Nos oito anos de pesquisas, o grupo de iniciação científica já elaborou diversos equipamentos inéditos que foram patenteados em nome da instituição, como por exemplo, um aparelho que simula e analisa o fenômeno do efeito estufa.
Também foram elaboradas em uma impressora 3D, ferramentas exclusivas que auxiliam na instrução de pessoas com deficiência visual.
"O aprofundamento em um determinado campo de estudo através de uma iniciação científica nos torna alunos com um maior senso crítico, tendo até mesmo um olhar mais criterioso com relação às disciplinas do nosso curso e nossos métodos de estudo", relata uma das alunas envolvidas, Kétlin Alberton.
Fonte: G1