25/09/2021 às 08h46min - Atualizada em 25/09/2021 às 08h46min

Precisamos tomar ações para garantir o fornecimento de água nas próximas décadas em Cerejeiras

Revitalização do rio que abastece á área urbana é a principal ação. No entanto, isso deve ser feito sem prejudicar o pequeno produtor

Gazeta Rondônia
Rildo Costa

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Torneira vazia, símbolo do que pode ocorrer um dia em Cerejeiras. No ano passado já houve racionamento de água. (Foto: Nayury Ferreira)
Uma dona de casa se levanta pela manhã e vai à torneira de casa para fazer um café. 

Mas não tem água.


E naquele dia não é só na casa dela que não terá o precioso líquido.

Também não terá água para o banho do bancário, o almoço do advogado, o jantar do médico.

Este quadro é sombrio, é verdade.

Mas é uma pintura antecipada do que pode acontecer um dia se toda a comunidade cerejeirense não se unir para tomar ações proativas para preservar os mananciais de água potável para as próximas décadas.
 
Para tudo precisamos de água, seja para limpeza, para produção de alimentos, para matar a nossa sede, a sede dos animais, para a preservação de milhares de espécies, para o funcionamento de muitos sistemas de produção industrial, além de muitos outros usos. As propriedades que utilizam sistemas de irrigação necessitam e dependem do contínuo fornecimento de água para produzir.
Esta reportagem é um pingo d’água de contribuição nesta batalha – que nos perdoe o trocadilho.

O fornecimento de água na cidade de Cerejeiras se dá por três vias principais.

A primeira é através da Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia (Caerd). A empresa capta o líquido na região conhecida como Prainha, a menos de mil metros da área urbana.

Já a segunda fonte são os poços amazônicos (comuns) e os semiartesianos.

Já a terceira é simplesmente a água da chuva, que também deve ser levada em consideração quando se fala em abastecimento de uma cidade.

Os problemas de fornecimento hídrico na área urbana de Cerejeiras estão nessas modalidades.

A água fornecida pela Caerd está enfrentando, todos os anos, o rebaixamento do leito do rio onde ela capta o líquido.

Os poços comuns e semiartesianos ainda não estão apresentando problemas de abastecimento, mas sabe-se que este recurso é limitado, uma vez que o lençol freático também sofre com mudanças profundas no meio ambiente.

Sobre o aproveitamento da água da chuva, ainda não faz parte da cultura de engenharia local a montagem de sistemas de captação hídrica – como já vem ocorrendo com a energia fotovoltaica, por exemplo.

Vamos nos aprofundar na questão da água fornecida na área urbana através de uma empresa de concessão pública.

A Caerd é uma autarquia estadual que tem a concessão de retirada de água no rio Igarapé Branco, popularmente conhecido como rio Arara ou Araras.

Esse rio é o principal corpo hídrico do município. O Igarapé Branco nasce na divisa com Colorado do Oeste, a 14 quilômetros do ponto de captação da Caerd. Depois, ele segue seu curso até desembocar no rio Guaporé, em Pimenteiras do Oeste.

O Igarapé Branco atravessa mais ou menos 140 propriedades rurais em seu curso e tem vários afluentes, que são pequenos riachos ou fontes nas margens do rio.
 
No decorrer dos 14 quilômetros que vão da nascente até o ponto de captação, o Igarapé Branco apresenta diferentes níveis de conservação e degradação. Há pontos em que ainda existem matas ciliares e outros pontos em que não existem. Há relatos de que até um trecho do leito do rio teria sido mudado de seu percurso original.

A Caerd tem hoje 3.549 ligações ativas, contando residências e pontos comerciais. A empresa fornece cerca de 3,05 milhões de litros de água por dia. Na época das chuvas, esse número cai para cerca de 2,9 milhões de litros diários. Só para se ter uma ideia, esse total significa um fornecimento médio de 40 litros por segundo para 33 litros de água por segundo.

Segundo o diretor municipal da Caerd, Cícero Laurindo, o consumo híbrido varia no decorrer do ano. “Na época da seca, as pessoas consomem mais água, exatamente no momento em que o leito do rio está mais baixo”, diz.
 
A água é importantíssima também para o desenvolvimento econômico da região de Cerejeiras. Água e energia são dois insumos básicos de quase todo processo produtivo. Garantir o fornecimento hídrico é também garantir o desenvolvimento.
Este desequilíbrio entre fornecimento e consumo preocupa. No ano passado, por exemplo, já houve racionamento de água em Cerejeiras. Neste ano não houve, mas a empresa divulgou nota pedindo a colaboração da população no consumo consciente do líquido.

O maior gargalo para garantir a segurança hídrica em Cerejeiras nos próximos anos passa por pelo menos dois campos: ambiental e gestão.

No aspecto ambiental, não há outro caminho a não ser a revitalização do leito do rio Igarapé Branco.

E aqui cabe uma nota. Não é criminalizando o produtor, principalmente o pequeno, que se conseguirá isso. Mas por meio de um investimento em conscientização e mudança de cultura, aliado à aplicação da lei com ações concretas no ativo ambiental.
 
Em 2020, o Ministério Público instaurou um Inquérito Civil Público para apurar a questão do Igarapé Branco. Um engenheiro da instituição foi destinado para estudar toda a bacia do rio.
Já há, inclusive, iniciativas concretas nesse sentido. A Prefeitura de Cerejeiras está em negociação com uma empresa para revitalizar os 14 quilômetros do rio, que vai da nascente ao ponto de captação da Caerd. Segundo foi divulgado tempos atrás, o investimento será de R$ 2 milhões e implicará em aquisição de arame, lascas e palanque para o produtor cercar as áreas de preservação na margem do rio. O cultivo de mudas em viveiro de árvores para reflorestamento também está no projeto.

O segundo ponto terá que ser no aspecto da gestão. As autoridades públicas terão que decidir quem vai operacionalizar o sistema de fornecimento hídrico em Cerejeiras.

Terão que decidir se será a Caerd, se seria criada uma autarquia municipal ou até mesmo na alternativa de privatizar o serviço ou adotar o modelo Parceria Público-Privada (PPP). Essa decisão deverá passar por discussões ideológicas e pragmáticas, mas deverá ser tomada a melhor alternativa que garantirá o fornecimento híbrido na área urbana cerejeirense para as próximas gerações.
 

 
 

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