Uma molécula inédita de um complexo de cobre, que pode ajudar no tratamento do câncer foi descoberta por pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). O estudo, publicado em dezembro no Scientific Reports, do grupo Nature, agora caminha para uma segunda fase.
Conduzida pelo aluno de doutorado Pedro Henrique Alves Machado, do Programa de Pós Graduação em Genética e Bioquímica (PPGGB/UFU), a pesquisa encontrou uma molécula inédita de um complexo de cobre que apresenta seletividade, capacidade de indução de clivagem (divisão) do DNA e propriedades pró-apoptóticas (morte celular) contra células do câncer.
O principal objetivo do estudo - orientado pelo professor Robson José de Oliveira Júnior e os colaboradores do Instituto de Química (IQ/UFU), Wendell Guerra, e Instituto de Biotecnologia (IBTEC/UFU), Luiz Ricardo Goulart, que faleceu em outubro do ano passado - foi descobrir novas moléculas para o tratamento do câncer, que é a segunda maior causa de mortes no mundo.
"Sabemos que a revista tem extremo rigor quanto à qualidade dos trabalhos que são publicados nela. Sendo assim, fico feliz por saber que o trabalho atingiu esse padrão”, disse Machado.
Os testes foram realizados em células tumorais de humanos e camundongos, em cultura. Este complexo de cobre mostrou ser capaz de induzir a produção de espécies reativas de oxigênio nas células tumorais e danificar o DNA dela, gerando danos tão severos que as células cancerosas entram em um processo de morte celular programada (apoptose).
O complexo age mais sobre as células tumorais do que as células saudáveis, sendo seletivo, o que pode diminuir a toxicidade indesejada (efeitos colaterais) e aumentar as chances de cura do câncer.
De acordo com os pesquisadores, o estudo caminha para a segunda fase, na qual irão desenvolver mecanismos de ‘drug delivery’, em que a molécula descoberta será colocada dentro de 'nanocápsulas’.
Esse nanoencapsulamento permite o acoplamento de peptídeos ou anticorpos que reconheçam padrões que as células tumorais exibem na superfície. Ao ter reconhecido o padrão molecular pelo anticorpo acoplado na nanoestrutura, o medicamento pode ser liberado diretamente nas células tumorais.
“Estudaremos se a ação dele e seletividade será melhorada e, caso as nanocápsulas não forem tóxicas e aumentarem a toxicidade direcionada somente às células tumorais, a fase pode durar cerca de dois anos”, explicou Machado.
Uma das abordagens terapêuticas para tratamento da doença é a quimioterapia, na qual utiliza-se medicamentos que consigam matar as células tumorais. Porém, esse tratamento acarreta efeitos colaterais, pois também é tóxico para as células saudáveis do organismo.
Dentre os medicamentos utilizados atualmente, um deles é feito de platina, metal que não existe naturalmente no organismo humano. Por isso, a ciência tem buscado desenvolver medicamentos quimioterápicos com maior desenvoltura, que sejam seletivos, ou seja, mais tóxicos para as células tumorais e menos tóxicos para as células saudáveis do organismo, aumentando, assim, as chances de cura.
Nesse sentido, a utilização do cobre para desenvolvimento de novos medicamentos vem ganhando destaque, pois ele é um metal essencial para o funcionamento do organismo humano, sendo indispensável para o funcionamento de enzimas, criação de novos vasos sanguíneos, respiração celular e produção de melanina (pigmento da pele).
De acordo com Machado, estudos anteriores mostraram uma alta concentração de cobre em tecidos tumorais. Isso pode acontecer devido às suas funções no organismo. Portanto, medicamentos que possuam cobre em sua composição seriam atraídos para o local do tumor pelas próprias células tumorais, agindo como um "Cavalo de Troia". Fonte: G1