Aos 25 anos, Dionísio Descry se tornou o primeiro advogado trans de Rondônia a ter o nome social incluído na carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Além de marcar a história da advocacia e sociedade rondoniense, a inclusão do nome social em um documento como esse simboliza para Dionísio uma "nova fase de liberdade".
“É como se fosse uma retirada de uma 'máscara', a retirada de um personagem. A partir de agora eu posso me apresentar de forma genuína e íntegra como eu mesmo”, comenta.
A entrega e assinatura do documento foi marcada por uma cerimônia realizada na seccional de Porto Velho, com a presença do advogado presidente da OAB Rondônia, Márcio Nogueira.
"Não tenho dúvidas que isso vai incentivar muitos colegas a terem a coragem de ser quem são. Não tem liberdade mais importante do que a liberdade de ser quem se é", apontou o presidente em um vídeo publicado nas redes sociais do órgão.
Dionísio concluiu o curso de direito há três anos, se especializou em retificação de nome civil e desde 2020 trabalha ajudando outras pessoas a ter acesso aos verdadeiros nomes em seus documentos.
"Essa é a minha maior satisfação como profissional. É uma alegria que não cabe no peito", comenta.
Para ele, o trabalho é uma via de mão dupla: possibilita a oportunidade de ajudar outras pessoas que passaram pelas mesmas situações que ele passou e também o incentiva a enfrentar os próprios medos.
"Eu sempre me reconheci como uma pessoa trans, mas não tinha força para dar o passo adiante e me assumir socialmente. Esse trabalho serviu para verificar que existem pessoas que precisam de apoio e eu também era uma pessoa nessa situação: que precisava do apoio de outras pessoas para conseguir me sentir totalmente íntegro comigo mesmo", aponta.
Apesar da conquista, Dionísio ressalta que há um grande empecilho na sociedade que impede que outras pessoas trans consigam alcançar novos espaços: falta de oportunidade.
“A falta de oportunidade e violência sistêmica levam essa população a ter uma evasão escolar, serem expulsos de casa, habitarem as ruas. Não por vontade própria, mas por falta de oportunidade e devido às violências acarretadas contra elas”, apontou.
Segundo o advogado, é muito importante ser um símbolo de representatividade, dar forças e fornecer possibilidades para que outras pessoas trans busquem por sonhos e direitos.
"A partir do momento que se verifica que pessoas de minorias estão alcançando locais que antes não habitavam, abre espaço para a consciência da força que essas pessoas têm. Mesmo em 2022 ainda recai sobre a população um grande preconceito, uma disseminação de desinformações e até mesmo injúrias que devem ser desconstruídas", comentou.
Para a classe, ele abre caminhos. E ser o primeiro advogado trans a ter o nome social na carteira da OAB é para ele só o primeiro passo de uma caminhada que não deve parar por aqui.
"A entrega da credencial com nome social reafirma o compromisso da OAB-RO, não só com a essencialidade da Justiça e a defesa intransigente dos direitos de todes, mas também com a busca em concretizar o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana", comentou a presidente da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero LGBTQI+ da OAB em Rondônia. Fonte: G1