Celebrar a conclusão do ensino médio é, sem dúvidas, um momento marcante na adolescência. No caso de crianças e jovens que travam uma verdadeira batalha pela vida no enfrentamento ao câncer, vencer os obstáculos e concluir os estudos ganha um sabor especial.
Nesta quinta-feira (17), a jovem Crislane Silva, de 18 anos, teve seu esforço reconhecido, ao ganhar uma solenidade especial de conclusão do Ensino Médio, no Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo, gerenciado pela Pró-Saúde em Belém.
Organizada pela equipe de professores da Classe Hospitalar Prof. Roberto França, em funcionamento nas instalações da unidade, o evento contou com entrega de diploma e capelo de formatura e foi marcado por palavras de incentivo às futuras conquistas da jovem, que frequentou a classe durante três anos.
A celebração contou com a presença de Denise Corrêa, diretora do Centro de Atendimento Especializado (CAEE), ligado à Secretaria Estadual de Educação (Seduc); Fernanda Ataíde da Costa, coordenadora do Programa Hospitalar e Atendimento Domiciliar; e Fábio Machado, diretor Hospitalar do Oncológico Infantil.
Natural de Belém, mas residente no Munícipio de São Caetano de Odivelas desde a infância, Crislane está em tratamento contra uma leucemia, que foi descoberta em novembro de 2018.
Ao identificar sintomas como perda de peso, falta de apetite, tonturas frequentes, febre e palidez, a família da jovem buscou atendimento médico, que encaminhou a estudante ao Oncológico Infantil, unidade do Governo do Estado do Pará e principal referência no tratamento de câncer infantojuvenil na Região Norte do Brasil.
“Uma unidade escolar dentro de um hospital é algo que ficará marcado em minha história. Foi uma experiência única e que jamais imaginei viver. Além dos educadores, encontrei pessoas solidárias, amorosas, amigas e parceiras”, declara a jovem, que sonha cursar Medicina Veterinária, ter sua própria clínica e realizar trabalho voluntário.
A professora Vera Cordeiro, que ministrou aulas de Física para Crislane, recorda um conselho importante que deu para a aluna há alguns anos. “Falei a ela que as coisas acontecem em seu devido tempo e que deveria focar sempre em uma atividade por vez”.
“Essa organização dos sentimentos e expectativas é essencial, pois evita frustrações que podem impactar negativamente no tratamento contra o câncer, que é difícil e com muitos altos e baixos”, explica Vera.
Quem também relembra a trajetória da aluna é a professora Érika Amorim, responsável pelas aulas de História. “Me impressionei com a determinação dela ao dizer eu quero, eu posso e eu vou. Percebi a sede de conhecimento em cada gesto e fiquei encantada com a atenção que recebi e as devolutivas que ela me dava”, revela a docente.
A coordenadora do Núcleo de Educação Permanente do Oncológico Infantil, Natacha Cardoso, fez questão de deixar uma mensagem durante o evento. “Reconhecemos o esforço e dedicação de nossos alunos-pacientes, em especial, nesses últimos anos, que foram de tantas adversidades para a classe. Estamos orgulhosos pela nossa formanda, que irá iniciar novos desafios e novas aprendizagens no ensino superior”, disse.
“A responsabilidade é algo que foi marcante durante toda a trajetória da vida escolar da Crislane. Mesmo passando por algumas turbulências durante o seu tratamento oncológico, ela nunca esmoreceu nos estudos”, afirma a professora-referência da Classe Hospitalar, Ana Elvira dos Santos.
As Classes Hospitalares foram criadas para assegurar às crianças e aos adolescentes a continuidade das atividades escolares durante o processo de internação hospitalar, possibilitando um enfrentamento menos traumático e minimizando os prejuízos no retorno às atividades convencionais após a alta.
A entidade filantrópica Pró-Saúde, gestora do Hospital Oncológico Infantil, por meio de contrato de gestão com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), incentiva e desenvolve parcerias que promovem a educação como parte dos cuidados com as crianças durante a assistência hospitalar. Com a descoberta de um câncer, muitas crianças precisam se afastar da escola no modelo convencional para fazer o tratamento.
A Classe Hospitalar do Oncológico Infantil é mantida desde 2015 em parceria com a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) e tem, atualmente, cerca de 22 alunos matriculados em diferentes etapas de ensino. As aulas seguem em formato híbrido, atendendo a seis alunos por turno (manhã e tarde), e outros atendimentos efetuados de maneira remota.
Texto e Fotos: Comunicação Pró-Saúde.