Rondônia registrou 14 mortes violentas de mulheres entre janeiro e fevereiro deste ano. Os dados foram solicitados à Secretaria de Segurança, Defesa e Cidadania (Sesdec) e revelam que cinco desses assassinatos foram investigados como feminicídio.
Um dos assassinatos mais marcantes registrados em janeiro foi o de Ângela Maria Silva Duarte, de 51 anos. Ela foi encontrada morta dentro do guarda-roupas de um vizinho em Ji-Paraná (RO). A vítima estava nua e em seu corpo havia sinais de asfixia. O homem foi preso dias depois, enquanto se escondia em uma fazenda de Mato Grosso.
Já em fevereiro o feminicídio de Antonieli Nunes Martins chocou o país. A vítima, de 32 anos, foi morta após revelar ao suspeito que estava gestante dele, em Pimenta Bueno (RO). Segundo a polícia, Gabriel Masioli mantinha uma relação extraconjugal com a vítima e a matou porque não queria assumir a paternidade do bebê.
O crime de femicídio tem em sua qualificadora pelo fato de o homicídio acontecer por conta da vítima ser do gênero feminino.
A importância da nomenclatura no momento do registro policial, segundo o defensor público Fábio Roberto, interfere diretamente na criação de políticas para o combate ao crime contra a mulher.
"A partir dessas estatísticas é que vamos conhecer a realidade da sociedade e o quão violenta essa sociedade é contra a mulher. Óbvio que no início do registro da ocorrência, em sede policial, ainda não há dimensão total dos motivos. Mas me parece que há uma subnotificação quanto ao feminicídio. É preciso uma atenção grande das autoridades policiais, para — quando registrar essa ocorrência — identificar se a morte foi por conta do gênero da mulher", destaca
Muitas vítimas de feminicídio vivem um relacionamento de abuso emocional, psíquico e mental, conhecido como ciclo da violência doméstica. A esfera do relacionamento funciona em um sistema que apresenta três fases: tensão, explosão e lua de mel.
No ciclo da violência, o agressor também é um abusador emocional. Além desse homem agredir fisicamente a companheira, ele a manipula por meio de palavras opressoras, deixando-a cada vez mais fragilizada.
Especialista, psicóloga e mestre na Universidade Federal de Rondônia (Unir), Selena Castiel destaca que para a vítima de violência doméstica sair desse ciclo é preciso, primeiramente, que ela se veja dentro dele.
"Até a mulher conseguir dar conta do que ela vive, pode se passar muito tempo. Porque por muitas vezes essa tomada de consciência é tomada por mecanismos de defesa, de pensamentos de negações, de acreditar que o comportamento desse abusador se faz por excesso de proteção e de amor", pontua.
Quanto ao tratamento, a psicóloga Selena destaca a importância do acolhimento de pessoas próximas e também a busca por um acompanhamento profissional.
"É o resgate de si mesma no caminho de volta. Esse caminho intrapsíquico, interno. Ninguém entra em um relacionamento idealizando um relacionamento tóxico. É necessário muito acolhimento, muito afeto, uma escuta sem julgamento de pessoas próximas e, claro, com a ajuda de um profissional de acompanhamento psicológico", afirma. Fonte: G1