Foi no ano de 1997 que o agricultor Anildo Ritter, que já cultivava arroz, decidiu plantar uma pequena área de soja no município de Cerejeiras, no Cone Sul de Rondônia.
O agricultor é reconhecido como o primeiro a plantar soja não só no município cerejeirense, mas em todo o estado. Na época, a propriedade dele foi selecionada pela Embrapa para receber as primeiras pesquisas sobre a soja em Rondônia.
Agora, em 2022, Anildo Ritter nem mora mais no município cerejeirense, mas o que ele começou no final da década de 1990 provocou uma revolução em Cerejeiras e região.
E essa revolução tem atraído empresas do agro de todos os tamanhos, desde os micronegócios até às gigantes internacionais, que disputam este gigante e crescente mercado da agricultura.
A região de Cerejeiras é um conjunto de área que engloba os seguintes municípios, além do município cerejeirense: Cabixi, Colorado do Oeste, Corumbiara, Pimenteiras do Oeste.
O micropolo também engloba boa parte da área territorial de Chupinguaia, uma vez que uma porção da produção agropecuária daquele município passa por Cerejeiras para beneficiamento, armazenagem e exportação.
Todos os municípios da região de Cerejeiras são extremamente produtivos.
No governo militar, nas décadas de 1970 e 1980, o bioma em que este micropolo está situado, chamado Vale do Guaporé, foi classificado pelas autoridades federais como uma das cinco áreas de terras mais férteis do Brasil.
Nenhum município deste micropolo tem problemas estruturais de solo, como pedreiras, desertos ou alagamento.
A terra é boa e agriculturável.
A região de Cerejeiras abarca cerca de 200 mil hectares de área agrícola. Mas há analistas que acreditam que a área ainda seja maior, já na casa dos 250 mil hectares.
Esta área de produção agrícola continua expandindo.
Por exemplo, o Grupo Amaggi, que adquiriu a fazenda do falecido Garon Maia por R$ 1,5 bilhão neste ano, já adicionará mais de 20 mil hectares de cultura de soja, milho e algodão já na próxima safra.
A produtividade de soja e milho tem aumentado com os anos, o que demonstra o avanço da agricultura mais profissional, com uso de tecnologia de ponta e manejos modernos, além de se dispor de sementes cada vez mais elaboradas com melhoramento genético.
Por exemplo, a produtividade da soja tem avançado de uma média de 55 sacas por hectare por volta de 2010 para 80 sacas em 2022.
O milho saiu de uma produtividade de 60 sacas por hectare para uma média de até 120 sacas por hectare na última década.
Programas de assistência técnica, por exemplo, têm feito a produtividade subir ainda mais. É o caso, por exemplo, da iniciativa batizada de Copama+10, que começou a ser executado em 2019 pela Copama, uma jovem cooperativa que transformou o mercado agrícola na região de Cerejeiras.
Em 2021, para dar um exemplo, somente a safra de soja na região de Cerejeiras gerou R$ 1.700.000.000,00 (um bilhão e setecentos milhões de reais) em renda bruta, segundo estimativas do Centro de Pesquisa Agropecuária (CPA), uma empresa genuinamente cerejeirense.
A produção de arroz também tem seu lugar na região. O micropolo de Cerejeiras produziu quase 4 mil hectares na safra de 2022. No município de Cerejeiras está instalado um secador da Rical e a empresa planeja investir em ampliação desta estrutura já em 2023.
Por fim, convém dizer que não existe agricultura competitiva sem estrutura e logística.
A estrutura na região de Cerejeiras está caminhando para a excelência. O município cerejeirense, por exemplo, tem a maior concentração de secadores agrícolas do estado de Rondônia. Somente o secador da Copama, por exemplo, construído entre 2019 e 2020, já consegue processar quase 1 milhão de sacas de grão por safra.
Em relação à logística, a região de Cerejeiras é sua ligação com o mercado internacional. A localidade fica na Amazônia Ocidental, fazendo divisa com Mato Grosso e Bolívia.
Apesar dos já conhecidos problemas logísticos brasileiros, a região de Cerejeiras é suprida por pelo menos dois pontos de escoamento da produção, pela BR-364 rumo ao Porto de Cai N’Água em Porto Velho, de lá pegando a rota do Rio Madeira até o porto de Itacoatiara (Amazonas), ou, ainda na BR-364, destino Cuiabá, para os portos de Santos e de Paranaguá.
Além disso, o micropolo cerejeirense é interligado ao Mato Grosso por via terrestre, via RO-370, a chamada Rodovia do Boi, que está sendo pavimentada. Essa malha terrestre tem início Comodoro, no Mato Grosso, e termina em São Felipe D’Oeste, na região rondoniense da Zona da Mata, passando por Cabixi, Cerejeiras e Corumbiara. O trecho entre Comodoro e Cabixi, inclusive, foi aberto recentemente pelo Exército Brasileiro em parceria com o Governo do Mato Grosso. É uma estrada de terra, mas que está em excelentes condições.
Além do acesso logístico por terra, a cidade mais próxima da região de Cerejeiras, Vilhena, tem um aeroporto regional, a 130 quilômetros. O aeroporto vilhenense Brigadeiro Camarão, que já recebia aeronaves de pequeno porte, recebeu investimentos com apoio da Sicoob Credisul para melhorias e foi adaptado para receber jatos comerciais.
Cerejeiras conta também com um pequeno aeroporto para pequenas aeronaves. A prefeitura cerejeirense está desenvolvendo um projeto de investir na pista de pouso, tornando-a homologada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para pequenas aeronaves, transformando-a num aeroporto propriamente dito.
Com toda essa produção agrícola, as empresas do agro, especialmente no ramo da agricultura, estão chegando à região de Cerejeiras e disputando cada centímetro deste milionário mercado.
Somente em Cerejeiras, por exemplo, existem atualmente 15 empresas de revenda de produtos agrícolas em atuação, dentre elas Agro Amazônia, Agro Forte, Cultivar Agrícola, Tecno Agro, Sinagro, Agro Produtiva, Amaggi, Cargill, Lavoro, Boasafra e a Copama.
Nas áreas de prestação de serviços, empresas como a Brum Engenharia (que constrói as bases dos secadores), a Pagé (que instala a estrutura metálica) e a Triunfo Soluções (que monta barracões climatizados para sementes) já estão presentes na região de Cerejeiras, fechando negócios milionários.
Além de ser um polo que se tornou um eldorado que tem atraído investimentos milionários, a região de Cerejeiras se tornou também o laboratório da agricultura para o restante do estado.
Quase todo o progresso do avanço da soja e do milho em outras regiões de Rondônia tem alguma relação com este polo cravado no Cone Sul do estado. Produtores de fronteiras da agricultura mais recentes, como a região do Vale do Jamari, da Zona da Mata ou do Vale do Guaporé visitam Cerejeiras e buscam tecnologias, modelos de manejo e até ensaios de pesquisa.
A Copama, uma cooperativa focada em soja e milho, recebe agricultores de diversas regiões do estado. O Centro de Pesquisa Agropecuária (CPA), uma empresa cerejeirense focada em pesquisas agronômicas, está realizando ensaios de estudos de soja e milho em Seringueiras em 2021 e 2022.
Assim, com este perfil produtivo, a região de Cerejeiras tem sido um local para onde as empresas estão chegando para ganhar dinheiro.
E isso sem falar que é um eldorado de oportunidades para trabalhadores de diversos níveis, dos operadores aos consultores.
Atualmente, o agricultor Anildo Ritter, que foi o primeiro a cultivar soja em Cerejeiras, está morando no município rondoniense de Machadinho do Oeste. Dentre as histórias que este produtor pode contar está a seguinte: ele começou uma revolução que transformou a região de Cerejeiras em um dos polos mais promissores do estado.
Texto: Anni Karine Ribeiro/AgroRondônia - Fonte: Rildo Costa - Crédito de Imagem aérea: Renato Novais.