Os pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) realizaram uma revisão integrativa buscando na literatura os fatores que afastaram pessoas grávidas dos postos de vacinação não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, em momentos de pandemia, como a mais recente de Covid-19 e a de H1N1, que aconteceu entre 2009 e 2010. Nos dois momentos, houve resistência de gestantes a aderirem às campanhas de vacinação e, de fato, tomarem a vacina contra as doenças. A busca por publicações científicas sobre o tema foi feita em 2021 e 2022 a partir das bases de dados LILACS, MEDLINE, Web of Science e SCOPUS, sem restrição de idioma e de tempo de publicação. Foram selecionados 27 estudos, por sua frequência e similaridade. Os resultados obtidos foram exportados para o software gerenciador de referências EndNote e, posteriormente, para o aplicativo Rayyan – Intelligent Systematic Review.
Os fatores que fizeram com que as mulheres não buscassem a vacina foram os mesmos durante o surto global de Covid-19 e H1N1 – e em todos os países: desconfiança com as vacinas, preocupação sobre a segurança da vacinação na gravidez ou para a saúde do feto e falta de informações e desconhecimento dos benefícios da vacina, foram similares. Também contribuem para a aceitação da vacina o acesso à informação de qualidade, assim como a recomendação e orientação sobre a vacinação durante o pré-natal. Patrícia Vasconcelos, co-autora do estudo, afirma que, no geral, a adesão à vacinação tende a ser mais alta quando as gestantes têm mais acesso a conhecimento sobre a pandemia.
De acordo com o levantamento de Vasconcelos, a adesão foi um pouco melhor no surto de H1N1.
“Já existia vacina da gripe e conhecimento sobre o vírus, então houve uma confiança melhor da população no imunizante”, afirma a cientista. A cobertura vacinal entre gestantes melhorou com o passar dos anos. Em 2013, o Brasil vacinou 95,7% das grávidas contra H1N1. Os dados sobre a vacina contra a Covid-19 ainda são incipientes – e eram inexistentes durante o andamento do estudo –, mas Vasconcelos acredita que pode acontecer o mesmo movimento. “A adesão tende a aumentar conforme o tempo passa”, pontua a enfermeira.
Para haver maior adesão, Vasconcelos ressalta a importância da capacitação dos profissionais envolvidos no cuidado à gestante. “É uma população muito vulnerável a acreditar em fake news, então o profissional de saúde tem que passar uma recomendação de forma confiante”, recomenda Vasconcelos. A pesquisadora frisa que a desconfiança das gestantes não acontece apenas com vacinas de doenças que causaram pandemias, mas com outras que também são recomendadas para grávidas, como a dTpa (tríplice bacteriana), recomendada a partir da 20º semana de idade gestacional.
“Em 2020, em meio à crise sanitária devido ao novo coronavírus, apenas 45% das grávidas tomaram, e é uma vacina obrigatória em toda grávida e em toda gravidez”, diz a pesquisadora.
O objetivo com o levantamento é alertar profissionais de saúde e tomadores de decisões relacionadas a campanhas de vacinação.
“Não tomar vacina pode trazer consequências muito ruins para gestantes. É preciso apostar em estratégias de capacitação dos profissionais para que eles respondam dúvidas com base em evidências científicas, e em estratégias de comunicação para que as campanhas foquem nesse público, já que elas apresentam baixa adesão”, observa Vasconcelos.
Fonte: Agência Bori