15/05/2024 às 21h53min - Atualizada em 15/05/2024 às 21h53min

Aos 90 anos, aluna começou a estudar jornalismo meses após se formar em direito

Gazeta Rondônia

Entre os jovens estudantes da turma do primeiro período de jornalismo da Unicap (Universidade Católica de Pernambuco), no Recife, há uma aluna que destoa dos demais. O nome dela é Dorothi Lira da Silva, que decidiu voltar à sala de aula aos 90 anos. A decisão foi tomada após ela terminar o bacharelado em direito, no final de 2023. "Não sei ficar sem fazer nada, sentada em um canto. Não dá para mim", ela resume.

Dorothi acredita que seu desejo de estar sempre aprendendo vem da infância. Lembra que o pai, que trabalhava no meio rural e nunca conseguiu estudar, cobrava que cada um dos seus filhos frequentasse a escola. "Meu pai fazia questão, porque ele não estudou. Então queria que todos estudassem. E eu sempre gostei", diz a aposentada.


Eram sete irmãos e todos frequentaram a escola. Dorothi aprendeu a ler em casa com a mãe. "Quando eu fui para a escola, a professora me passou para a segunda série. Eu estava muito adiantada em comparação aos demais da sala.".

 
"Vou incentivar minha família"

Ela precisou interromper os estudos após uma amiga da escola ter tuberculose. Preocupado, o pai determinou que Dorothi deveria parar de estudar. Ela, então, começou a trabalhar aos 13 anos.

Foi já casada e com filhos que a mulher decidiu retomar os estudos. Já não lembra mais as datas, mas conta que cursou ciências físicas e biológicas, tornando-se, em seguida, professora de matemática. "Sempre gostei de números", explica.

Também estudou pedagogia e ensino religioso, além de trabalhar como supervisora e diretora de instituições de ensino.

Ela se aposentou em 1994. Conforme foi envelhecendo, passou a se sentir pouco produtiva. "As coisas que eu gosto de fazer, como cozinhar e cuidar da casa, eu já não posso fazer. Até posso, mas não devo", corrige-se, sorrindo. "Aí eu fui para sala de aula. E estou gostando do jornalismo, viu?"

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Antes do jornalismo, veio o direito, que Dorothi começou a cursar em 2019, porque a instituição de ensino ficava perto de sua casa, em Olinda, e por acreditar que todos deveriam saber seus direitos.

Foi o prazer em escrever que fez com que buscasse o jornalismo. Quando criança, ela também tinha o costume de ler o jornal para o pai. "Eu sempre pensei em escrever e acreditava que o jornalismo cuidava bem disso. Os meus professores de direito sempre me incentivavam a escrever."

O ingresso de Dorothi na turma de jornalismo faz parte do programa Unicap Prata 50+, que facilita a integração de pessoas de faixa etária mais elevada. Até o momento, mais de 500 estudantes entraram na universidade nesta modalidade, o que significa um aumento de mais de 200% na quantidade de idosos na instituição.

A estudante diz que não tem qualquer ambição em atuar no direito ou no jornalismo. "Não vou trabalhar, não. Vou incentivar minha família", diz ela, que tem seis filhos, 12 netos e cinco bisnetos. Um de seus netos cursa direito e Dorothi acredita ter sido uma inspiração para a escolha dele.

Aluna exemplar

O professor Filipe Falcão, de 40 anos, que ensina a disciplina Fundamentos do Jornalismo, confessa ter ficado nervoso ao saber que teria uma aluna de 90 anos em suas aulas. "Eu fiquei, 'meu Deus, como vai ser isso? Será que vou ter que adaptar toda a disciplina?' E não, ela participa de tudo. Na primeira semana já fiquei bem relaxado".

 
"O jornalismo é uma profissão muito nobre e que vive se reinventando. Nosso público alvo é de pessoas jovens, que saíram do colégio, de 18, 20 anos, mas é muito prazeroso ver uma pessoa na idade dela que tem interesse pela profissão", acrescenta o professor. "Ela é uma aluna exemplar. É a primeira a chegar, anota tudo, se dá bem nas provas, participa das aulas, faz provocações, levanta a mão", ele cita.
 
Ainda segundo Falcão, os alunos abraçaram Dorothi. "Tem sido uma relação bastante interessante, bastante positiva", resume.
 
Dorothi também celebra o convívio que tem com pessoas muito mais jovens. "Até minha bolsa eles carregam. Tenho feito amizade com eles, sim, e também com os professores", conta. "Olhe, estudar vale a pena", reflete.
 
A idosa ainda não sabe o que vai fazer quando se formar em jornalismo. Atualmente, além da graduação, tem estudado computação. "Já aprendi algumas coisas sobre celular e computador", diz. Na juventude, teve aulas de iniciação em música, então cogita voltar a esses estudos. Também gosta de costurar e de pintar.
 
"Eu vou sempre ter alguma coisa para fazer. Enquanto estiver viva, eu estou fazendo alguma coisa. Termino computação, volto para música ou para pintura, que eu também gosto. Eu pretendo terminar meus dias fazendo alguma coisa".
 
Fonte: Uol.


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