A história conta que a Terra Indígena Karipuna - lar de indígenas do povo Karipuna e com registro de indígenas isolados - têm sofrido com a ação frequente de madeireiros que ocupam ilegalmente e destroem a terra.
Mas os grandes empreendimentos erguidos na Amazônia sempre ameaçaram os Karipuna. Foi assim com a construção da estrada de ferro Madeira Mamoré (1907-1912) que exterminou parte das famílias com a invasão de trabalhadores de vários continentes que chegaram na região para executar o projeto. Hidrelétricas como Santo Antônio Energia e Jirau em Porto Velho (RO), nas proximidades do território, também colocaram em perigo o povo.
Atividades ilegais de exploração da natureza como garimpo, caça, pesca foram incluídas na lista de ameaças. O fato é que os Karipunas perderam sua população ao longo de décadas e podem ser dizimados se o governo brasileiro não agir com ações práticas. E Rondônia tem um histórico forte de ataques aos povos originários, como aconteceu no passado com o povo Paiter Suruí, os ocupantes da Terra Indígena Tanaru, Reserva Roosevelt, em Cacoal (RO) e muitos outros. Mais de 54 etnias no estado correm perigo.
Rondônia é o 4º estado da Amazônia Legal e o 3º da região Norte a abrigar mais povos indígenas. São mais de 21 mil pessoas, de acordo com o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) de 2022.
Durante a desintrusão do território em 2024, André Karipuna, Cacique, declarou para o Voz da Terra que era necessário a presença do estado brasileiro de maneira permanente com vigilância e políticas públicas de sustentabilidade dentro da TI.
"A gente sofre grandes ameaças. Essa (desintrusão) pode aumentar as ameaças depois e vemos isso com preocupação. Nos sentimos seguros, mas pensamos mais na frente por que podemos sofrer grande risco de novas ameaças", disse o Cacique.
Neste mês, novas ameaças foram registradas contra os indígenas. Os Karipuna voltaram a relatar a forte presença dos madeireiros ilegais em sua terra, que chegam até a marcar árvores, construindo pontes e acampamentos ilegais - com a certeza da impunidade. Os troncos de árvores marcadas deverão ser derrubados, removidos e arrastados por tratores pesados e caminhões.
"Queremos que tenha uma base permanente, para realizar mais operações de proteção no território Karipuna. Provavelmente (os invasores) vão retornar" disse André.
Em 2020 e 2021, a Terra Indígena Karipuna liderou o ranking do desmatamento entre as 69 terras indígenas que estão no entorno da rodovia BR-319, conforme relatado pelo Observatório BR-319 do qual a Coiab faz parte.
Em julho de 2024, o governo federal realizou uma operação para remoção dos invasores do território Karipuna.
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Após a operação, os Karipuna solicitaram a criação de um observatório de monitoramento no território para dar seguimento às ações de fiscalização na terra indígena; algo que ainda, mesmo a seis meses do fim da operação, não foi feito pelos órgãos responsáveis.
Essa solicitação não é nova: há anos os Karipuna pedem a instalação de uma base permanente da FUNAI na terra para conter a invasão e destruição do território.
VESTÍGIOS
Devido ao inverno amazônico, o Rio Formoso se encontra com um volume de água que torna possível a navegação. Neste percurso feito pelo rio, foram identificados vários pontos de invasão, como: picadas, desmatamento e utilização de veneno para matar as árvores – pois estas estão secando –, estradas com trânsito de carro, roubo de madeira e grilagem de terra.
Os Karipuna, ao andarem pelo território para a coleta da castanha e caçadas, identificaram uma picada com marcações de lotes do Igarapé Santo Inácio, que sai na Linha 15 de Novembro.
Os invasores continuam transitando livremente pelo território, vindo de moto para fazer as reaberturas. De 2018 a 2022, este lugar sofreu forte pressão de invasores, que chegaram a montar acampamento e começar o plantio de banana, café e mamão.
No Ramal Panorama, local de acesso à aldeia, há rastros de motocicletas adentrando um local onde existe uma grande derrubada. Durante o período da desintrusão, estes lugares ficaram livres da circulação de invasores. No entanto, após a desintrusão, o trânsito dos invasores retornou aos mesmos lugares antes denunciados. Entram diariamente na terra, inclusive, para limpar os supostos lotes comprados pelos invasores.
"A presença de invasores e as ações devastadoras que causam ameaçam a sobrevivência dos Karipuna. Há também diversos relatos da presença de indígenas isolados na Terra Indígena. A intensa invasão do território coloca em risco a vida desses indígenas" diz o Conselho Indígena Missionário (Cimi).
O governo federal e estadual precisa atuar para remover permanentemente os invasores, parar o desmatamento e a destruição dentro da Terra Indígena e garantir a proteção do território e a sobrevivência dos Karipuna e indígenas isolados que vivem na região.
Fonte: Voz da Terra.