Idoso com câncer no fígado recebeu órgão de doadora de Rondônia

Gazeta Rondônia
13/05/2025 22h39 - Atualizado há 2 horas

O número 102 representa, para a numerologia, sucesso pessoal e realizações individuais. Coincidentemente, acreditando ou não nesta ferramenta, foi isto o que ocorreu com o pecuarista Elson Wanderley de França, de 61 anos. Ele é de Envira (AM), recebeu uma nova chance de vida no Acre através do sistema de doação de órgãos e tornou-se o 102º transplantado de fígado do sistema público de Saúde do estado, tendo sido o terceiro somente em 2025.

A força-tarefa para dar uma nova chance de vida a esse paciente mobilizou os estados do Acre, Rondônia e Amazonas entre o último domingo (4) e segunda-feira (5). O relógio, neste tipo de ocasião, se torna o maior inimigo porque o fígado suporta, no máximo, entre 12 a 24 horas fora do corpo sem circulação sanguínea, de acordo com o Ministério da Saúde.

Elson sofria de cirrose e câncer no fígado desde outubro do ano passado, quando recebeu o diagnóstico em Manaus. Ao G1, a esposa dele, Marinês Ferreira, disse que ele entrou na fila de espera pelo fígado em dezembro.

"Através de uma ressonância, o médico detectou que ele estava com cirrose hepática e com um CA, câncer no fígado. E aí supostamente ele passaria por um transplante de fígado. E o médico encaminhou a gente para Rio Branco", falou.

Talvez você esteja se perguntando: ‘mas por que ele não foi para Manaus, já que ele é cidadão amazonense?’. É que a cidade de Envira fica mais próxima de Rio Branco do que da capital do Amazonas. A distância é de mais de 1,2 mil km.

Já para a capital acreana, a distância é menor: 400 km. Ainda assim, a vinda só é possível de barco ou de avião fretado.

Além disso, o Sistema Único de Saúde (SUS) possibilita que os usuários utilizem os serviços em todo o território nacional. É comum, inclusive, que perfis compatíveis com o do doador sejam encontrados em estados diferentes.

Generosidade

O órgão foi captado no Hospital de Base de Porto Velho e doado pela família de uma mulher que morreu na cidade rondoniense. Lá, outras três vidas também foram salvas por meio desse ato de generosidade. Após serem acionados, o helicóptero Hárpia 04 do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer) saiu do Acre para captar o fígado.

Essa logística de captação do órgão, deslocamento do paciente, cirurgia e demais movimentações feitas entre a Segurança e a Saúde dos três estados levou, no total, cerca de 30 horas. Nem mesmo o tempo de chuva que encobria o estado no último fim de semana ameaçou a missão humanitária.

"Nós tivemos dificuldades somente na decolagem, porque o tempo estava fechado, mas graças a Deus deu tudo certo, deu tempo e conseguimos fazer em tempo hábil [...] a gente pousou aqui com a sensação de dever cumprido", disse o coordenador do Ciopaer, comandante Sérgio Albuquerque.

Órgão captado, já em solo acreano… Mas, e o paciente? Bom, Elson também já estava a caminho do Acre, vindo em um voo fretado pela prefeitura de Envira, em conjunto com a Saúde do Amazonas. A ligação veio na tarde de domingo (4), com a notícia de que ele teria que ser internado até às 11h do dia seguinte para dar certo.

"Então o governador do Acre mobilizou o governador do Amazonas, que juntamente com a Secretaria de Saúde do Estado do Amazonas mobilizou o prefeito da cidade de Envira e o prefeito fez o fretamento da aeronave de porte pequeno para que nós pudéssemos chegar aqui", relembrou ela.

Fila de espera

Segundo o ‘Painel de Dados: Lista de espera e transplantes realizados’, do Ministério da Saúde, 38 pacientes – sendo 26 homens e 12 mulheres – aguardam por um transplante de fígado no estado até o último dia 12 de maio.

No geral, há 54 pessoas esperando por um órgão, sendo que destes, 14 esperam por um rim. Estes dois, além de córnea, são os únicos que a Fundação Hospital Estadual do Acre (Fundhacre) está habilitada para transplantar. A unidade, inclusive, é o único hospital transplantador do estado.

No ano anterior, 14 transplantes foram feitos, contra 18 em 2023. Em todo o Brasil, são mais de 2,3 mil pessoas no aguardo por uma doação pelo órgão.

O Acre teve a habilitação renovada para transplante de fígado em 5 de janeiro de 2024 e faz o procedimento desde 2014.

Doação

De acordo com a legislação brasileira, mesmo com a decisão da pessoa de doar os órgãos, em caso de morte, a palavra final é da família, ou seja, não é possível garantir efetivamente a vontade do doador.

Sendo assim, o diálogo com a família e amigos é essencial para que o desejo seja respeitado, dizem os médicos que trabalham com transplantes de órgãos. Se você optar por ser um doador de órgãos, o primeiro passo é avisar a família sobre a sua vontade.

Transplante

O procedimento cirúrgico levou cerca de 10 horas e nesta segunda (12), ele se recupera bem na enfermaria da Fundhacre. Antes disso, no entanto, ele passou sete dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

A cirurgia, segundo o médico Tércio Genzini, responsável técnico pelos transplantes hepáticos, foi um sucesso.

“É um paciente acompanhado no nosso serviço. Então, em uma intervenção da Sesacre, foi feito o contato com a prefeitura local e via TFD ele conseguiu um transporte aéreo, chegar aqui e aproveitar a oportunidade de cura que ele tem, que é por meio do transplante”, falou.

Milagre

Elson segue internado na enfermaria da Fundhacre, ainda sem data de retorno para Envira. No entanto, esta é a menor das preocupações dele no momento, já que segue sendo assistido pela equipe médica -- inclusive para verificar a adaptação do órgão com o corpo dele.

Questionado sobre qual o sentimento dele após passar pela cirurgia e receber uma nova oportunidade de vida, ele se emocionou.

"Em primeiro lugar, eu quero agradecer a Deus, foi um milagre que Deus me deu. Quero agradecer à família também do que me doou esse órgão. E aos médicos de Rio Branco, todos empenhados nessa história. Eu estou muito grato e alegre por essa oportunidade de mais uma vida dedicada por ele, porque só Deus fez esse milagre em minha vida. Eu estou muito feliz, feliz mesmo", falou.

Fonte: G1.


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