A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) anunciou, em uma live transmitida em 3 de junho de 2025, que está fora do Brasil há alguns dias, na Europa, onde supostamente busca tratamento médico.
A parlamentar informou que pedirá licença do mandato, amparada pela Constituição, seguindo o exemplo de Eduardo Bolsonaro, que também se afastou temporariamente de suas funções parlamentares.
A decisão vem em um momento delicado, após Zambelli ser condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a dez anos de prisão por envolvimento na invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em 2023. A defesa da deputada afirmou não ter informações sobre seu paradeiro, enquanto a bancada do Partido Liberal (PL) na Câmara promete apoio, apesar de tensões com o ex-presidente Jair Bolsonaro, que a considera responsável pelo fracasso nas eleições de 2022.
Zambelli foi condenada por unanimidade pela Primeira Turma do STF em 18 de maio de 2025, pelos crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica. A sentença, que também determinou a perda automática de seu mandato, foi acompanhada pelos ministros Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Luiz Fux.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) acusou a deputada de coordenar, com o hacker Walter Delgatti Neto, ataques cibernéticos ao sistema do CNJ, com o objetivo de desacreditar o Judiciário e incitar atos antidemocráticos. Entre os atos, foi inserido um mandado falso de prisão contra o próprio ministro Alexandre de Moraes, além de alvarás de soltura fraudulentos, em janeiro de 2023, dias antes dos atos golpistas de 8 de janeiro.
A Polícia Federal (PF) apontou evidências de que documentos apreendidos com Zambelli correspondiam aos arquivos falsos inseridos no sistema do CNJ, reforçando a acusação de seu envolvimento direto. Moraes, relator do caso, destacou a “ligação umbilical” entre Zambelli e Delgatti, classificando as ações como uma tentativa de desestabilizar as instituições democráticas. Além da pena de prisão, Zambelli e Delgatti foram condenados a pagar R$ 2 milhões em indenização por danos morais e coletivos, e a deputada enfrenta inelegibilidade por oito anos, conforme a Lei da Ficha Limpa.
A defesa de Zambelli, liderada pelo advogado Daniel Bialski, contesta a decisão, alegando ausência de provas irrefutáveis e cerceamento de defesa, especialmente pela realização do julgamento em plenário virtual, sem sustentação oral presencial. Em pronunciamento, a deputada negou envolvimento nos crimes, classificando a condenação como “perseguição política” e criticando as diferentes versões apresentadas por Delgatti, a quem chamou de “mitômano”.
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Ela também afirmou que não colocaria seu mandato em risco por “uma brincadeira sem graça” e destacou que relatórios médicos indicam que não sobreviveria à prisão devido a problemas de saúde, incluindo depressão.
A saída de Zambelli do Brasil gerou reações nas redes sociais. Usuários como @renantruffi e @LeninhaLopes77 destacaram o timing do anúncio, feito logo após a condenação, enquanto @JairoPavao classificou a deputada como mais um “parlamentar exilado”. A decisão de Zambelli de deixar o país também reacende o debate sobre a relação entre o STF e o Congresso. A Primeira Turma do STF determinou que a perda do mandato de Zambelli deve ser apenas declarada pela Mesa Diretora da Câmara, mas parlamentares argumentam que a decisão cabe ao plenário, o que pode intensificar o desgaste entre os poderes.
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), ainda não se pronunciou oficialmente, mas aliados indicam que ele aguardará a notificação formal do STF para definir os próximos passos.
Apesar do apoio da bancada do PL, liderada por deputados como Sóstenes Cavalcante, Zambelli enfrenta isolamento no campo bolsonarista. Jair Bolsonaro, em declarações anteriores, atribuiu a ela a responsabilidade pela derrota nas eleições de 2022, e a relação entre ambos é considerada inexistente pela deputada. Em entrevista ao G1, Zambelli reconheceu o afastamento, mas afirmou manter contato com Michelle Bolsonaro e receber apoio de Eduardo Bolsonaro, que sugeriu publicamente a suspensão da ação penal contra ela como forma de enviar um “recado” ao STF.
Além da condenação pelo caso do CNJ, Zambelli é ré em outro processo no STF, por porte ilegal de arma e constrangimento ilegal, devido a um episódio em que perseguiu um homem com uma pistola na véspera do segundo turno das eleições de 2022. Nesse caso, há maioria formada para condená-la a cinco anos e três meses de prisão em regime semiaberto, mas o julgamento foi suspenso por um pedido de vista do ministro Kassio Nunes Marques. No âmbito eleitoral, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) cassou seu mandato em janeiro de 2025 por desinformação eleitoral, decisão que ainda depende de recurso no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A licença do mandato, se formalizada, permitirá que Zambelli se afaste temporariamente de suas funções parlamentares, mas não impede a continuidade dos processos judiciais.
A deputada afirmou que pretende se apresentar caso um mandado de prisão seja emitido, mas sua saída do país levanta questionamentos sobre os próximos desdobramentos de sua situação jurídica e política.
Fonte: Painel Político.