Durante a Operação S.O.S Uru, realizada ao longo desta semana em Rondônia, a Polícia Federal (PF) realizou prisões em flagrante por crimes ambientais na terra indígena Uru-Eu-Wau-Wau. O balanço parcial da operação foi divulgado nesta sexta-feira (12).
De acordo com a PF, uma equipe de 95 agentes participaram da ação. A região foi analisada por terra e sobrevoo. O objetivo principal era identificar pessoas praticando grilagem de terras ou desmatamento e comércio ilegal de madeira.
Dois garimpos ilegais localizados em Campo Novo de Rondônia (RO) foram identificados e inutilizados pela equipe, além da apreensão de um trator encontrado na área. Em outro ponto, duas pessoas foram presas em flagrante por receptação de madeira ilegal e, adiante um caminhão carregado de madeira ilegal também foi apreendido.
A ação aconteceu em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Polícia Militar Ambiental, Exército e Aeronáutica. Os 95 agentes envolvidos ficaram por volta de uma semana acampados em uma escola pública no município de Campo Novo de Rondônia (RO).
O nome da operação faz alusão à situação de perigo que se encontra a terra indígena.
Segundo o Sistema de Alerta de Desmatamento em Terras Indígenas com Registros Confirmados de Povos Isolados (Sirad-I) do Instituto Socioambiental (ISA), na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, onde há registros de povos indígenas isolados, em setembro, o monitoramento detectou um aumento de 538% no desmatamento em comparação com o mês anterior.
Ao todo, mais de 83 hectares de terra foram desmatados no mês de setembro. Segundo o Sirad-I, a maior parte do desmatamento acontece no norte da terra indígena.
O boletim aponta que, "segundo o Ministério Público Federal (MPF), a TI Uru-Eu-Wau-Wau é o segundo território indígena com mais propriedades e imóveis irregulares cadastrados em sobreposição à Terra Indígena: 805 no total".
Os isolados são povos indígenas ou fragmentos de povos indígenas. O termo fragmentos é usado por técnicos da Funai porque existem grupos de isolados que têm apenas um ou até três remanescentes.
O que acontece, no caso dos grupos indígenas denominados isolados, é uma seletividade de relações que eles têm com o seu entorno, seja esse ambiente focado nas demandas indígenas ou não. O que torna o indígena isolado, portanto, é sua maneira única de lidar com sua rotina e sua relação com o mundo.
Os indígenas isolados que vivem no território Uru-Eu-Wau-Wau em Rondônia têm a migração como forma de sobrevivência. Em setembro de 2020, ao se encontrarem com o coordenador da Fundação Nacional do Índio (Funai), Rieli Franciscato, aconteceu um acidente: Rieli foi atingido no tórax por uma flecha. Ele tinha 56 anos e dedicou 30 anos ao cuidado e proteção dos povos isolados.
Sobre esse caso, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) apontou em relatório que em Rondônia as invasões constantes, as presenças de garimpeiros e grileiros têm provocado a mudança de comportamento dos grupos de indígenas isolados da região do Rio Cautário, assustados com a presença cada vez mais próxima de criminosos.
"Foi neste contexto de pânico dos indígenas isolados e negligência na fiscalização das invasões ao território demarcado que o servidor da Funai e coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental Uru-Eu-Wau-Wau, Rieli Franciscato, acabou atingido por uma flecha e, infelizmente, não resistiu aos ferimentos".
Fonte: G1