Quando o assunto é diabetes, a boa educação alimentar e a precaução podem ser um grande fator para evitar a doença, principalmente com crianças e adolescentes. Nesse dia 14 de novembro, Dia mundial do Diabetes, a luta contra a doença fica ainda mais evidente para conscientizar o mundo sobre os seus reflexos e impactos na saúde e dia a dia.
Para falar um pouco sobre o diabetes na infância e alimentos que auxiliam no tratamento e prevenção, o Receitas conversou com a nutricionista Carol Sessa e a endocrinologista pediátrica Christina Hegner, do Hospital das Clínicas e do Serviço de triagem neonatal do Espírito Santo.
Quando não diagnosticado corretamente, o diabetes pode causar graves complicações. A doença acontece pela produção insuficiente ou má absorção da insulina, hormônio responsável por quebrar as moléculas de glicose e transformar em energia para a manutenção das células do nosso corpo. De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes, cerca de 13 milhões de brasileiros vivem com a doença, e a prevenção deve começar na infância.
Causada por diferentes fatores, o diabetes tipo 1 e 2 são motivos de alerta para o pais. Christina explica que o tipo 1, o mais comum entre as crianças, é o que está ligado à condições genéticas e sobre a relação do diabetes com a alimentação:
“É importante dizer que o diabetes Tipo 1 não tem relação com a ingestão de açúcar, porque isso é uma coisa que as mães ficam bastante preocupadas. Para o tipo 1, a mais comum, essa relação não existe.”
“Aqui no Brasil, ainda temos menos incidência do diabetes tipo 2, mas isso tem aumentado exponencialmente. É muito importante dizer que muitas vezes o paciente não tem diabetes tipo 2, a que pode ser causada pelo consumo excessivo de açúcar, mas já tem algum grau de resistência à insulina e algum grau de glicemias alteradas, não propriamente o diabetes, mas é como se fosse um pré-diabetes", explica.
A nutricionista Carol Cessa explica que alguns alimentos podem ser aliados nessa batalha. As fibras, por exemplo, ajudam no tratamento e prevenção pois auxiliam no controle da absorção de carboidratos, evitando picos de glicose.
“Chia, linhaça, farelo de aveia, granola sem açúcar, semente de girassol, de abóbora, tudo isso pode e deve ser utilizado em todas as refeições. Um pouco no café da manhã, um pouco no lanche, no almoço e na janta. Se for fazer uma receita, como um bolo, é importante acrescentar sempre algum tipo de grão. Se for fazer uma salada, colocar um grãozinho. Isso já ajuda bastante nesse controle”, explica Carol.
"As gorduras boas também ajudam, por exemplo, as castanhas e o azeite em suas preparações. Para frutas, o abacate e o açaí (puro) têm uma quantidade legal de gorduras boas e reduzida de carboidratos."
“Tem uma fibra chamada Psyllium que é muito interessante para o controle de glicemia e pode ser usada em panqueca, pães e ajuda muito nesse controle", completa Sessa.
Christina Hegner alerta que o aumento da incidência de obesidade infantil nas últimas décadas se dá, principalmente, por conta do acesso mais rápido e mais prático de alimentos industrializados. A doença é uma das causas do diabetes tipo 2.
“O excesso de consumo de açúcar e produtos que contêm açúcar e carboidrato tem sido cada vez mais popularizado no nosso consumo, e a obesidade infantil está cada vez mais crescente por causa da troca de alimentação saudável por alimentação rica em carboidratos e açúcar", conta a endocrinologista infantil.
Hegner explica que a identificação do diabetes na infância vem através de sinais e sintomas, mas que a do tipo 2 não necessariamente traz consigo esses alertas: “É aquela criança que começa a urinar demais, beber água demais, emagrecer muitas vezes inexplicavelmente e acaba que faz o exame e percebe a glicemia alta. Esses quadros mais agudos, normalmente são identificados como diabetes tipo 1”.
“O diabetes tipo 2 não têm sintomas muito frequentes. Normalmente são crianças têm excesso de peso, um histórico familiar importante para o diabetes e que vão desenvolvendo elevações graduais de glicemia, de insulina, e que vão culminar com o diagnóstico do diabetes, e muitas vezes esse diagnóstico é feito em exames ao acaso, quando esses pacientes vão fazer triagem para excesso de peso ou outras doenças”, diz Christina.
Para evitar complicações, os exames e o tratamento devem ser feitos com muita atenção. "Em pacientes que já têm alguma suspeita ou histórico familiar, devem ser feitos pelo menos a cada dois anos, ou em qualquer momento em caso de suspeita", explica Christina.
“O tratamento da diabetes Tipo 1, é a insulinização. Esses pacientes precisam fazer o uso da insulina, além da alimentação saudável. Já para a diabetes Tipo 2 é a perda de peso, aumento da atividade física, em alguns momentos até o uso de medicamentos orais para a redução da insulina e da glicemia.”
A falta de tratamento adequado, independentemente do tipo de diabetes, pode trazer complicações futuras oftalmológicas, como alterações na retina e alterações renais, quando o sangue já não é filtrado adequadamente e começa a aparecer proteína na urina. Outras doenças também podem surgir.
“Principalmente na tipo 2, as doenças cardiovasculares, com o aumento do colesterol, podem levar ao entupimento de artérias e veias e isso no futuro pode causar infarto ou AVC, além de complicações neurológicas, o que é chamado de neuropatia diabética periférica, condução nervosa alterada, úlceras nos pés que não cicatrizam, alteração da sensibilidade dos pés que podem levar a complicações e até amputações no futuro”, explica Christina.
“O que temos que pensar, é que a Diabetes, independentemente de ser tipo 1 ou tipo 2, se ela for mal compensada, ela pode trazer consigo complicações a longo prazo. Cada vez mais temos visto pacientes de 20 e 25 anos com hipertensão e doenças cardiovasculares, angina, problemas de entupimento de artérias nas veias e até risco de AVC, então, quanto antes conseguirmos diagnosticar e tratar esses casos, melhor”, completa a endocrinologista.
Uma boa alimentação desde os primeiros dias de vida e a prática de atividade física são aliados para combater a doença.
“O ideal é que a gente conseguisse fazer uma prevenção. É estimular o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade e complementarmente até os 2 anos de idade, sempre com desmame adequado, ou seja introdução de alimentos saudáveis, evitando o consumo de açúcar simples antes dos dois anos de idade, evitando industrializados e assim por diante”.
Confira algumas dicas para diminuir o consumo de açúcar por crianças:
Troque o achocolatado da manhã por vitamina de frutas com aveia ou misture um pouco de cacau em pó 100% no achocolatado e vá aumentando a proporção aos poucos.
Faça sorvete caseiro com frutas congeladas e bata com iogurte natural sem sabor.
Faça cookies caseiros, com banana e uvas-passas para adoçar.
Deixe sempre frutas à mostra ou já picadas na geladeira.
Dificulte o acesso aos doces e guloseimas - evite ter em casa. Converse com todos os familiares que compram “para agradar” a criança. Fonte: G1