Colheitadeira trabalhando em área perto do secador da Copama, em Cerejeiras. O cooperativismo também está ajudando na rentabilidade do produtor. (Foto: Divulgação/Copama) A colheita da soja está a todo vapor em Cerejeiras. Alguns produtores, aqueles que plantaram primeiro, já estão com suas colheitadeiras ligadas colhendo a oleaginosa. Segundo alguns produtores, cerca de 10% da área total da região já foi colhida, pois a colheita ainda está na fase inicial.
Em anos “normais”, por assim dizer, a colheita da soja estaria mais adiantada. É que o plantio do ano passado atrasou por conta da demora da chegada das chuvas. As águas começaram a cair somente em novembro. Em alguns poucos pontos privilegiados da região, porém, as águas vieram antes e esses produtores agraciados já estão colhendo.
Já no mês de dezembro, embora tenha sido bom de chuva, houve outro problema climático. “Dezembro teve muitos dias nublados, sem sol. E isso não é muito bom para a soja”, diz o produtor Claudemir Rigatti, da Linha 6, no município de Cerejeiras.
Apesar da saudável preocupação climática, todos os produtores da região são unânimes em dizer que só têm a agradecer. “Nossa situação é bem melhor que a dos produtores do Paraná e do Rio Grande do Sul. Lá está havendo uma seca de verdade”, afirma o produtor Claudemir Rigatti.
O clima, porém, não deverá afetar tanto a produtividade da soja na região de Cerejeiras. Pelo menos não nessa safra.
Em termos mais exatos, choveu uma média de 800 milímetros entre novembro do ano passado e janeiro deste ano, segundo dados da estação pluviométrica da Copama, instalada no secador da cooperativa, na BR-435, em Cerejeiras. A soja, para produzir bem, necessita de uma média de 650 milímetros de chuva durante todo o ciclo, desde que seja bem distribuída ao longo da safra para dar o mínimo de 5 milímetros por dia. Ao que tudo indica, essa safra de soja na região de Cerejeiras teve essa necessidade hídrica atendida. O problema é que a safra foi semeada um pouco atrasada e isso poderá acarretar na produtividade do milho safrinha, que também necessita de uma média de 700 milímetros de água em seu ciclo produtivo.
A boa notícia é que os produtores da região de Cerejeiras estão muito mais preparados para enfrentar essas variações climáticas do que no passado. A principal razão é a disponibilidade de sementes geneticamente modificadas disponíveis no mercado, que são chamadas de “materiais”, que prometem ser mais resistente a pragas, doenças e secas.
Por tudo isso, o produtor da região de Cerejeiras tem mais controle sobre a lavoura, sendo um pouco menos dependente das variações climáticas – embora, evidentemente, continue dependendo da chuva, uma vez que ainda praticamente inexiste irrigação artificial para a soja e o milho na região (alguns especialistas dizem que é inviável para essas culturas).
O produtor Jair Roberto Gollo, do 2º Eixo, também de Cerejeiras, é um dos produtores que têm investido pesado em tecnologia. “Nós plantamos de dez a quinze materiais aqui na propriedade. Plantamos por ciclo para termos mais controle na colheita”, diz o produtor, que já foi presidente do Sindicato Rural de Cerejeiras (hoje é vice-presidente).
Os irmãos Marcelo e André Vendrusculo também são uma referência em investimento em tecnologia produtiva da soja e do milho. Segundo o produtor (e agrônomo) André Vendrusculo, ainda não é possível prever a produtividade desta safra. “Mas a nossa expectativa é boa. Já colhemos cerca de 30% da lavoura e estamos tendo boa produtividade”, diz.
O aumento de produtividade na região de Cerejeiras vem se acelerando com o tempo. No início da atividade, na década de 2000, os produtores colhiam uma média de 45 sacas por hectare. Hoje a média já passa de 65 sacas.
A crescente produtividade se dá por conta de programas de incentivo, como o Copama+10, como a Copama. A iniciativa da cooperativa é aumentar em 10 sacas de soja por hectare num prazo de 10 anos a produtividade da soja (e 15 sacas do milho no mesmo período). O programa oferece assistência técnica gratuita para os cooperados, baseado em pesquisas agronômicas independentes e diferenciadas.
Além da assistência técnica, os produtores têm cada vez mais acesso a produtos de alta tecnologia. “Nos últimos cinco anos, os novos materiais estão cada vez mais evoluídos, com muita potencia produtiva”, explica o agrônomo Hugo Dan. Apenas para se ter uma ideia, somente no dia de campo da Copama, realizado nos dias 20 e 21 de janeiro em Cerejeiras, foram apresentados 35 produtos recém-lançados no mercado, todos eles com promessas de ajudar a elevar a fração custo-rentabilidade do produtor.
Esse conjunto de variáveis, como tecnologia e manejo, está mudando o patamar da produção da soja na região. “A novidade são os cultivares que estão mais bem adaptados. Nossos estudos têm mostrado que ganho relativo de produtividade na região tem sido de 3% a 5% ano. Fruto de cultivares adaptados, melhor posicionamento de insumos e tecnologia. O calcário também foi importante. Nunca se usou tanto calcário na nossa região. Calcário é um condicionador de solo, possibilitando que a planta tenha maior potencial de resposta”, diz Hugo Dan, agrônomo do CPA.
A região de Cerejeiras, que engloba outros municípios como Corumbiara, Pimenteiras do Oeste e Colorado do Oeste, tem uma área estimada em 180 mil hectares dedicada à cultura da soja. Segundo o CPA, haverá um crescimento mínimo de 3% na área em 2022, o que faz chegar a quase 190 mil hectares de área total cultivada com a oleaginosa.
O Centro de Pesquisa Agropecuária (CPA), empresa de pesquisas agronômicas situada em Cerejeiras e que também faz pesquisas para o programa Copama+10, estima que a última safra de soja tenha alcançado a marca de 11 milhões de sacas na região de Cerejeiras. É quase certo que esta marca seja batida ou até ultrapassada nesta safra.
Além de ser mais produtiva, a cultura da soja na região de Cerejeiras está mais rentável. E não é apenas por causa da valorização das commodities agrícolas. O acesso ao crédito, promovido tanto pelas empresas do setor quanto por bancos e cooperativas financeiras, têm dado ao produtor mais fôlego para investir na atividade. “As cooperativas financeiras melhorou muito a condição de crédito para o produtor, pois na cooperativa ele pode pegar recursos sem precisar comprometer certa parte da safra, como é feito nas empresas multinacionais. Além disso, as cooperativas oferecem um juro mais em conta”, diz o gerente da Sicoob Credisul em Cerejeiras, Rodrigo Antonio de Mattos.
O presidente do Sindicato Rural de Cerejeiras, Jair Ferro, também está otimista com a agricultura na região de Cerejeiras. Segundo ele, há problemas de clima nesta safra, como já foi falado nesta reportagem, mas que no longo prazo o agro sempre superará. “A agricultura tem progredido ano após ano e os anos difíceis não tem impedido esse desenvolvimento”, diz.
Com evolução em todas as áreas, os produtores da região de Cerejeiras enfrentam os problemas climáticos e continuam atingindo níveis elevados de produtividade. E isso é muito positivo para todos na região, pois a agricultura gera um lastro de renda e emprego, injetando dinheiro na economia local e construindo o progresso da comunidade.