A aposentada Geni Celestina Pereira, de 74 anos, hoje morando em Pontes e Lacerda, no Mato Grosso. Com Alzheimer, doença que afeta a memória e leva a pessoa a se esquecer de tudo o que viveu na vida e até das feições dos familiares mais próximos, a Geni tem uma trajetória de vida que nada poderá apagar: ela foi a primeira professora que, de fato, lecionou em Cerejeiras. Ela é mãe de quatro filhos: Clerio, Cleir, Keilla e Kely.
Por razões óbvias, Geni não pode contar sua história. Mas um dos quatro filhos dela, Clerio Augusto de José, o primogênito, pode contar esta trajetória de vida.
A família da professora Geni chegou a Cerejeiras num tempo em que não existia Cerejeiras, por assim dizer. “Só havia uma enorme propriedade rural, chamada Fazenda Arantes. Não morava ninguém na localidade, a não ser um jagunço da fazenda. Só chegava ao lugar de avião, pois onde seria a cidade de Cerejeiras, pois no local havia uma pista de pouso no meio da mata”, diz Clerio.
O primogênito da professora conta mais detalhes de como era a localidade de Cerejeiras naquele tempo. “Existiam um pista de aviação e a primeira residência que morava o jagunço chamado Pernambuco, com a esposa dele e dois filhos. Eram tempos muito difíceis e perigosos”, disse o pioneiro, que hoje com uma irmã, que também mora em Pontes e Lacerda, cuida de professora pioneira.
Foi a mais ou menos 1979 que a professora Geni deu aulas na escola “Paulo de Assis Ribeiro”, em Colorado do Oeste, onde morava até então. A partir daí, então o marido dela, o agricultor Joaquim Pereira de Jesus, conseguiu um sítio doado pelo Incra. Foi quando o casal Joaquim e Geni se mudou para esta propriedade rural, perto de Cerejeiras – que ainda não existia, como vale a pena voltar a ressaltar.
Geni lecionou numa escolinha de pau a pique, que ela mesma, o marido e alguns pais de alunos ajudaram a construir. A escolinha ficava onde hoje onde é o Posto Baldin, no cruzamento da Avenida das Nações com a Avenida Integração Nacional (na época chamada de Linha 3 com a 3ª Eixo).
Depois de lecionar um tempo, a professora Geni pegou licença médica e foi sucedida por outra jovem educadora, a professora Maria Helena Barreiros. As duas professoras, portanto, são as educadoras pioneiras do município de Cerejeiras.
A família da educadora pioneira explica que o início das aulas no local onde mais tarde seria a cidade de Cerejeiras, foi muito difícil. “Joaquim saiu nas linhas convidando todos os familiares aos arredores para fazer matrícula de seus filhos. Apareceram na época muitos pais para matricular seus filhos. Aí a professora Geni deu início às aulas e lecionava de manhã e à tarde”, disse Clerio, o filho mais velho da professora.
O casal Joaquim e Geni morava no primeiro sítio que conseguiu adquirir, localizado de frente onde hoje está situado o cemitério de Cerejeiras. Todos os dias, os alunos iam para a escola e passavam em frente o sítio da professora e estudantes e a educadora iam juntos para a escolinha de pau a pique. Somente anos depois foi construída a primeira escola oficial de Cerejeiras, a Floriano Peixoto, da rede estadual e que existe até hoje.
Um fato curioso foi que, ao ir para a escola com os alunos, a professora pioneira e os estudantes encontraram uma onça no caminho. O animal assustada com as crianças, que recorreram a paus, pedras e gritos para se defenderem. Com isso, o bicho feroz entrou na mata e, por sorte, ninguém foi acatado pela fera.
A professora pioneira lecionou também nas escolas Floriano Peixoto e na Castro Alves, no início da década de 1980 – conforme provam algumas fotos anexadas nesta reportagem.
Esta é uma história que, por alguma razão, foi esquecida por muitos, especialmente pelas novas gerações e pelos moradores mais recentes de Cerejeiras. No entanto, com o resgate feito por esta reportagem, espera-se que se faça justiça ao relato desta educadora pioneira e que ela seja honrada como tal.
Por fim, concluímos esta reportagem com três as imagens abaixo, fruto de um trabalho escolar que conta a história da professora pioneira em Cerejeiras.