Hugo Dan dissemina a filosofia de que a terra deve ser coberta por palhada. “O produtor deve considerar o solo como parceiro”. (Foto: Rildo Costa) Um dos fatores mais determinantes da atividade da agricultura é o solo.
Ao lado da luz e da água, aliado à tecnologia, é o solo que garantirá uma produtividade elevada, trazendo rentabilidade à atividade e ajudando o produtor a cumprir a missão de produzir.
Era de se esperar, portanto, que a condição do solo fosse uma prioridade para o agricultor.
Na prática, porém, não é o que acontece em muitos casos.
Ainda é comum encontrar, em todas as regiões do país, solo degradado pela constante atividade agropecuária extrativista, pobre em nutrientes, carente de cuidados e investimentos.
Esta reportagem tem como objetivo contribuir para este assunto, uma vez que o investimento no solo é indispensável para que a região de Cerejeiras seja uma referência em produtividade tanto na agricultura quanto na pecuária.
Para explicar melhor este assunto, o autor desta coluna conversou com o engenheiro agrônomo Hugo de Almeida Dan, que é doutor em Agronomia, fundador do Centro de Pesquisa Agropecuária (CPA), uma empresa de pesquisa na região de Cerejeiras.
Nesta reportagem, você verá:
O que é solo e os tipos de solo;
Características do solo na região de Cerejeiras;
Como melhorar a condição do solo região de Cerejeiras;
A adubação orgânica como alternativa para o condicionamento de solo região de Cerejeiras;
Como o produtor deve considerar o solo;
Um link para um podcast com a entrevista na íntegra com Hugo Dan.
O que é solo
Embora não seja muito fácil definir o conceito de solo, é compreendido que se trata da camada superior da terra.
Do ponto de vista da agricultura, o solo é a superfície no qual se cultiva a planta.
Esta superfície é formada durante milhões de anos por meio de um processo chamado “intemperismo”. Ou seja, é uma série de condições físicas e químicas que transformou rocha em solo.
Dito de forma simples, o solo é a superfície cultivável em que o agricultor cultiva a lavoura.
Tipos de solo
Dependendo da predominância, os solos podem ser arenosos, argilosos e siltosos.
O solo arenoso tem a predominância de área – geralmente é mais fraco em nutrientes e torna a agricultura mais desafiadora.
Já o solo argiloso tem a predominância de argila, sendo um tipo de superfície mais fértil, mais “liguenta” e com capacidade de elevada retenção hídrica.
O solo siltoso é intermediário entre o argiloso e o arenoso. Tem uma característica de ser composto pela predominância de um “pó” fino, que o faz também ser bastante fértil, de forma geral.
Além disso, há o chamado latossolo, com grande permeabilidade e mais profundos, que é o mais fértil de todos e não existe em grande abundância no globo terrestre.
Características do solo na região de Cerejeiras
De forma geral, grosso modo, o solo característico da região de Cerejeiras é o chamado latossolo.
No entanto, segundo afirma o agrônomo Hugo Dan, o solo sofre transformações no decorrer dos anos.
“O solo na região amazônica sofre uma série de intempéries que alteram sua composição. Dentre essas alterações está a cultura extrativista, em que só cultiva sem devolver nada para o solo. A outra alteração é provocada pelo clima, pois a situação climática tropical é diferente da temperada. Aqui não temos neve uma vez por ano, por exemplo, em que o solo fica parado para se recuperar. Por isso, o clima amazônica exerce uma força maior sobre o solo”, disse o agrônomo.
Como melhorar a condição do solo na região de Cerejeiras
Talvez a principal afirmação sobre como fazer o condicionamento de solo adequadamente na região de Cerejeiras seja ressaltar que a técnica que a ser aplicada aqui deve ser diferente daquela praticada em outras regiões do Brasil, especialmente no Sul.
Nas regiões Sul e Sudeste, por exemplo, o solo pode ser arado e gradeado. “Talvez a principal crença que os agricultores trouxeram de seus estados de origem é que o solo deve ser revirado. Mas aqui a dinâmica do solo é diferente. Aqui há uma fina camada fértil por cima e, por isso, não podemos revirar essa superfície produtiva para baixo e trazer o subsolo para cima”, diz o agrônomo Hugo Dan. Na região Sul, como explica o agrônomo, a superfície fértil do solo é muito mais grossa e por isso a mexida na terra com o arado e grade não causa maiores problemas.
A técnica mais recomendada na região de Cerejeiras, portanto, é o chamado plantio direto. A semeadura é feita pela plantadeira sem revirar a terra.
Além disso, a adoção de palhada sobre o solo é uma filosofia de produção que tem ganhado adeptos na região e, ao que parece, é a alternativa mais benéfica para a agricultura. O material orgânico distribuído sobre o solo ajuda na retenção hídrica, na inserção de nutrientes no sistema produtivo da planta e na prevenção aos danos que podem ser causados pelo sol e chuva quando o solo é exposto.
Somado a tudo isso, podemos acrescentar também o uso de adubo, seja químico ou orgânico.
No último dia de campo da Copama, por exemplo, foi mostrado a importância da adubação para o solo. Os técnicos da cooperativa apresentaram o resultado de dois ensaios de pesquisa de milho que compara o cereal produzido no ensaio com o solo “padrão fazenda”, ou seja, conforme o manejo de solo normalmente praticado na região, com o ensaio em que o solo onde foi injetada uma quantidade maior de fertilizantes. Esse segundo ensaio produziu espigas bem maiores que o ensaio “padrão fazenda”.
A adubação orgânica como alternativa para o condicionamento de solo região de Cerejeiras
Além de não revirar o solo e a adoção de palhada, a adubação orgânica está se tornando uma alternativa para melhorar o condicionamento do solo.
Segundo o agrônomo Hugo Dan, o adubo orgânico é uma forma de devolver vida ao solo. “O solo é, antes de tudo, um ser vivo. O solo tem milhões de seres vivos, contribuindo para a fertilidade”.
O agrônomo explica também que o principal composto do solo amazônico é o material orgânico. Ou seja, uma vez que o perfil climático na região amazônica tem como efeito causar um profundo estresse sobre a terra, enfraquecendo-a e fazendo com que fique mais pobre em nutrientes, o material orgânico acaba devolvendo vida a este solo e enriquecendo-o para a produção. “Por isso, o fundamento da adubação orgânica é essa ideia de devolver vida ao solo”.
Em Rondônia, uma empresa tem sido referência em adubação orgânica. A Vitalys, de Cacoal, produz um composto orgânico produzido a partir de esterco e material do trato intestinal bovino que apresenta excelentes resultados em áreas onde a adubação orgânica foi aplicada.
O adubo orgânico pode ser distribuído através de uma técnica chamada “a lanço”, numa quantidade por hectare conforme recomendações técnicas.
Estudos recentes feitos com o adubo orgânico da Vitalys realizado pelo CPA mostraram que o material realmente reflete positivamente em termos de produtividade.
Como o produtor deve considerar o solo
Existem diversas atitudes que o produtor pode ter para com o solo.
Por exemplo, pode ter aquela atividade retrógrada de explorador, onde apenas extrai o que o solo pode oferecer. Ou aquela atitude de barganha, em que investe no solo, mas quer tirar tudo dele numa safra só.
O agrônomo Hugo Dan defende uma atitude em que o agricultor tenha uma relação de parceria com o solo. “O solo é um parceiro do produtor. E essa parceria deve existir no longo prazo”. E complementa: “O solo é a poupança do agricultor, onde se investe para ter garantia de resultado no longo prazo”.
P.S. Para saber mais, ouça o podcast INVESTE CEREJEIRAS, em que o autor desta reportagem entrevista o agrônomo Hugo Dan. Para ouvir, clique aqui. (
https://open.spotify.com/episode/5yXfZl1Dfg8L3zoJrGLemi)