09/07/2022 às 09h19min - Atualizada em 09/07/2022 às 09h19min

Conheça o projeto da Polícia Penal de Cerejeiras, que inclui depoimentos de ex-presos em escolas para aconselhar adolescentes a evitar o mundo das drogas

Policiais penais percorreram escolas falando com estudantes e apresentando como é sofrida a vida na cadeia. A ideia é desencorajá-los a nunca se envolver com o crime

Rildo Costa

Policial penal ministrando palestra na escola Castro Alves, em Cerejeiras. Alunos conheceram dispositivos de contenção de presos (Foto: Rildo Costa)

Desde o mês de maio de 2021, esta coluna tem falado sobre o desenvolvimento na região de Cerejeiras.

Em todas as reportagens temos tido o cuidado de alicerçá-las com dados, números e estatísticas – de preferência oficiais.

No entanto, o desenvolvimento da região não pode prescindir da preocupação social, inclusive da segurança pública.

Toda iniciativa que vem para as conquistas sociais evoluam ao passo do desenvolvimento socioeconômico é bem-vinda.

É o caso do projeto “Suas Escolhas Definem o Seu Futuro”, idealizado e aplicado pela Polícia Penal de Cerejeiras.

O projeto, que teve a autoria da professora Marialda Gritti, da escola estadual Tancredo de Almeida Neves, e do policial penal Rafael Rocha, que são casados e ambos moram em Cerejeiras, envolve, resumidamente, as seguintes ações: os policiais penais percorrem as escolas e fazem palestras sobre a prevenção ao uso de drogas e sobre a importância de evitar ações de intolerância às diferenças, como é o caso do bullying.

Para as palestras, os policiais penais convidaram ex-detentos (que já foram reeducandos, na linguagem oficial), que contam suas histórias de vida e deixam um apelo para que os jovens não sigam por este caminho, ou seja, pela trilha da droga e do crime.

Os três ex-presidiários que falaram na apresentação foram o jovem Patrick Andrade, que mora em Colorado do Oeste, Eliseu Fernandes e Márcio dos Santos Loya, ambos de Cerejeiras.
 
Além das palestras dos ex-detentos, os policiais penais fazem a apresentação dos dispositivos de contenção ao preso, como algemas, bomba de gás lacrimogênio e arma de eletrochoque.

Os policiais penais percorrem escolas nos municípios da região de Cerejeiras com o projeto.

Não há dados oficiais de quantas escolas foram contempladas, mas estima-se que mais até 2 mil estudantes tenham assistido às palestras com os ex-detentos e as apresentações dos policiais penais.
 

 

Abaixo, uma entrevista exclusive desta coluna com o chefe de segurança da Polícia Penal de Cerejeiras, Eguinaldo Lanes, sobre o projeto “Suas Escolas Definem o Seu Futuro”.
 
Quantas escolas foram feita a palestra?

Foram cinco escolas em Cerejeiras e uma escola e a Policia Mirim em Pimenteiras do Oeste.
 
Vocês têm uma média de quantos alunos assistiram?

Não consigo precisar, pois foram realizadas com as turmas do período matutino e vespertino de todas as escolas que passamos.
 
Qual foi o objetivo de ter idealizado e realizado este projeto?

Promover a conscientização e prevenção do consumo de drogas entre crianças e adolescentes em idade escolar, além de falar de brigas, desacato e bullying no ambiente escolar e mostrar a rotina de uma unidade prisional.
 
Vocês ouviram algumas histórias de alunos que ouviram a palestra e mudaram de atitude?

Sim, em pimenteiras teve um caso que chamou a atenção, enquanto falávamos, um doas alunos retirou o brinco e o boné que utilizava e jogou fora.
 
Sobre o sistema prisional, quantos reeducandos existem lá hoje?

São 162 internos atualmente.
 
Este projeto teve algum incentivo financeiro do governo ou de alguma outra fonte de financiamento?

Sim, a Sejus [Secretaria de Estado da Justiça], ao tomar conhecimento do projeto, tem nos incentivado a dar continuidade. Utilizamos a viatura para fazer os deslocamentos, por exemplo. Só não há diárias, até mesmo pelo fato de não pedirmos, pois fazemos de forma voluntária.
 
Quantos policiais penais trabalham em Cerejeiras atualmente?

Ao todo são 28 policiais penais.
 
Quantos policiais penais participaram do projeto?

São nove policiais penais.
 
Quando começou e quando este projeto será concluído?

Em março de 2022, não previsão para ser concluído, pois a cada dia que passa, estamos recebendo mais convites das escolas, inclusive de Vilhena.
 
Quanto aos presos, segundo a experiência de vocês policiais penais, os reeducandos geralmente tiveram vidas escolares conturbadas ou nem tiveram?

Sim, a maioria teve uma vida escolar conturbada. Inclusive, o idealizador do projeto, o policial penal Rafael Garcia Rocha, era professor, e hoje tem cinco detentos que foram alunos dele. Cerca de 90% da população carcerária de Cerejeiras não possui o ensino fundamental completo.
 
A nossa região está se desenvolvendo economicamente. A Polícia Penal acha importante investir em educação e conscientização de jovens vulneráveis, para estes evitarem o mundo do crime?

Não só achamos como procuramos contribuir para que isso ocorra, como diz a frase: “O coração da criança é de quem chegar primeiro”.
 

Patrick de Andrade Lucas conheceu o mundo das drogas muito cedo. Aos 17 anos, já cumpria pena numa prisão para menor. Ficou preso por cinco anos. Hoje, ele está concluindo o Ensino Médio e dá palestras nas escolas e ensina os adolescentes a evitar as drogas e a não entrar no mundo do crime, através do projeto “Suas Escolhas Definem o Seu Futuro”. Patrick mora em Colorado do Oeste e frequenta uma igreja evangélica. A mãe dele foi assassinada com 42 facadas há mais de dez anos em Cerejeiras, sendo criado pela avó. Apesar dos traumas da vida, Patrick está conseguindo dar a volta por cima.

 


 

Márcio Loya é pastor da Igreja Assembleia de Deus de Rondônia, em Cerejeiras. Márcio já foi usuário de drogas na cracolândia, em São Paulo, e hoje ministra palestras conscientizando os estudantes sobre o uso de entorpecentes, através do projeto desenvolvido pela Polícia Penal. Apesar de ter ficado pouco tempo preso (só cinco meses), Márcio teve a vida quase destruída pelas drogas. Hoje ele quer evitar que mais gente caia neste poço profundo.

 


 

Eliseu Fernandes, de Cerejeiras, teve três passagens pela prisão, cumprindo pena e sofrendo as consequências das rebeldias. Agora ele é um dos voluntários do projeto da Polícia Penal e adverte a juventude a evitar a oferta do “caminho fácil”, ou seja, das drogas e do crime.


 


 
 
 


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