23/07/2022 às 14h25min - Atualizada em 23/07/2022 às 14h25min

Durante plantão, bombeiro tenta tirar própria vida e pede socorro a colegas no 193

Tentativa de suicídio, que movimentou plantão noturno, expõe rotina exaustiva, denunciam militares

Gazeta Rondônia

Um pedido de socorro, feito pelo rádio comunicador, assustou colegas de farda e expõe, segundo militares do Corpo de Bombeiros ouvidos pela reportagem, os efeitos da rotina exaustiva dos profissionais da segurança pública responsáveis por salvar vidas pelas ruas.
 
Num dos plantões noturnos desta semana, militar fez contato com o Ciops (Centro Integrado de Operações de Segurança), onde funciona a central 193, pedindo ajuda para ir a hospital. Ele dizia ter feito ingestão de grande quantidade de medicamentos pensando em tirar a própria vida. Na conversa com o superior, o homem cita a escala de trabalho puxada.
 
De acordo com o presidente da ACS-PMBM-MS (Associação de Cabos e Soldados de Mato Grosso do Sul), Fabrício Moura, as reclamações a respeito do excesso de plantão não são recentes. Bombeiros têm feito revezamento de 24 horas de trabalho por 48 horas de descanso, mas com frequência são convocados para plantões extras durante a folga.
 
Além disso, em alguns casos, como, por exemplo, quando equipes são deslocadas para combater grandes incêndios no Pantanal, os militares acabam trabalhando 24 horas e folgando outras 24 horas apenas, segundo um dos representantes da categoria.
 

“É muito cansativo. A gente está tentando conversar com a SAD [Secretaria Estadual de Administração] e com o comando sobre isso. Mas, o problema é a falta de efetivo mesmo”.

 
Sobre isso, um dos bombeiros que fez contato com o Campo Grande News e pediu para ter o nome preservado para evitar punições, afirma que o revezamento está mais apertado há cerca de um ano e que a exaustão está levando colegas a problemas de saúde física e mental. Ele atribui o que aconteceu com o militar que tentou tirar a própria vida durante o serviço, em parte, ao cansaço.
 

“Esse amigo tomou vários remédios para tentar o suicídio dentro do quartel. Logo em seguida, procurou a arma lá na unidade e não encontrou, pegou uma corda e foi tentar se enforcar dentro da viatura unidade de resgate. Somos bons para ajudar os desconhecidos, mas hoje ninguém quer nos ajudar”. Lamentou o militar, ressaltando que muitas vezes os pedidos de socorro são classificados como “frouxura”.

 
O caso aconteceu na terça-feira (23), mesma noite em que, coincidência ou não, o Campo Grande News noticiou ocorrência de suicídio. O Corpo de Bombeiros foi chamado para salvar morador de apartamento em edifício na Rua Eduardo Santos Pereira, em Campo Grande, que havia ferido os próprios pulsos. A cena apavorou vizinhos do prédio ao lado que viram o homem debruçado na janela do apartamento perdendo muito sangue.
 
A vítima foi levada com vida para hospital. Na ocasião, oficial que atendia a ocorrência pediu que à reportagem para não divulgar muitos detalhes sobre a situação para que a matéria não funcionasse como “gatilho” para outras pessoas em sofrimento mental.
 
O bombeiro que ingeriu medicamento também foi socorrido a tempo, embora o Campo Grande News não tenha conseguido apurar em que circunstâncias. Depois do tratamento hospitalar, ele teria sido levado para internação psiquiátrica.
 
Déficit e tropa envelhecida - O presidente da associação admite a gravidade do problema e diz que a solução é a administração estadual planejar contratações anuais. O concurso com 520 vagas para a PM e 260 para o Corpo de Bombeiros prometido pelo governo para sair ainda neste ano amenizaria a falta de efetivo, mas não resolveria.

 

“Temos cerca de 5 mil PMs e o ideal seriam 9 mil. O déficit de bombeiros também é muito grande e a nossa tropa está envelhecendo”. Disse.

 
A reportagem tenta contato com o Comando-Geral do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso do Sul desde quinta-feira (21), para obter mais detalhes sobre as circunstâncias da ocorrência e repercutir as reclamações de sobrecarga de trabalho, mas ainda aguarda retorno. – Fonte: CampoGrandeNews.


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