Em um espaço alegre e colorido dentro do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), em Santo Amaro, centro do Recife, funciona a Classe Hospitalar Semear. Criada em 2015, a iniciativa tem como objetivo fazer com que crianças internadas continuem a estudar durante o tratamento contra o câncer.
A classe atende pacientes da área oncológica do HUOC com aulas da pré-escola até o 5º ano, a partir dos 4 anos de idade. De segunda-feira a sexta-feira, os estudantes têm aulas regulares de português, matemática, ciência, geografia e história.
Em sete anos de atividade, 215 crianças tiveram a oportunidade de estudar, como Jefferson, de 7 anos, que ficou cego após ser diagnosticado com câncer nos globos oculares quando tinha 1 ano e 7 meses.
Em maio de 2022, o menino teve câncer nos ossos e precisou amputar a perna esquerda. Ele, que é da zona rural de Carnaubeira da Penha, no Sertão de Pernambuco, enfrentou dificuldade em conseguir ser alfabetizado. No Semear, o menino encontrou o apoio que precisava.
Desde 2018, a professora Silene Cabral se dedica a ensinar as crianças que fazem tratamento contra o câncer. Durante a sua formação, ela se preparou para fazer a diferença na vida dos pequeninos e, atualmente, cursa pós-graduação para alfabetizar crianças cegas em braile.
"Eu me identifiquei com o trabalho, achei muito bonito e senti vontade de fazer. Quanto mais eu lia sobre o assunto, mais me despertava o interesse. Quando eu soube que existia essa classe hospitalar no Recife, que era anexo da escola que na época eu trabalhava, eu pedi para vir para cá", disse a professora.
Jucilene, que é mãe de Jefferson, fez do hospital a sua segunda casa. Enquanto acompanha o filho aprendendo a ler com as mãos, sentindo as letras, objetos e associando ao som das sílabas, ela se emociona.
"Fico muito feliz de ver ele aprendendo cada vez mais. Quando venho para cá, me vem o sentimento de lutar pela saúde dele e de ele ser lá na frente um menino inteligente", declarou Jucilene.
Trazendo a escola para dentro do hospital, a iniciativa do Semear humaniza o tratamento que muitas vezes é demorado e tira crianças da rotina da infância. No espaço, elas encontram um novo significado para o cotidiano e entendem que a doença é apenas uma etapa da vida.
Foi assim com Alícia Thaynara, de 11 anos, que encontrou na escolinha um momento de amparo. "Me ajudou bastante em um momento em que eu estava triste. Crianças e professores me ajudaram bastante, a gente brincava, fazia as atividades, era bem legal", disse a menina.
O projeto também serviu como um alento para Rosângela Rodrigues, mãe de Alícia. "Foi primordial para saber que nós também estaríamos tendo essa assistência e não iria interromper o desenvolvimento escolar dela", disse Rosângela.
Para a gestora do Semear Priscila Angelina, a presença da escola no prédio do Grupo de Ajuda à Criança Carente com Câncer (GAC) é uma garantia de segurança para as crianças, pais e responsáveis.
"Chegar aqui, descobrir que tem uma escola, que a criança não vai se afastar dos estudos e ela pode, no futuro, voltar para a escola onde ela estava e acompanhar a turma, para elas [crianças] é maravilhoso", declarou a gestora.
Segundo o Gac, a classe vai servir como modelo para a criação de escolas hospitalares em mais outras seis unidades de saúde onde crianças passam muito tempo em tratamento por causa de outras doenças. Fonte: G1