Um forte temporal atingiu nesta quarta-feira (3) as comunidades ribeirinhas de Rondônia, trazendo riscos e prejuízos para famílias e embarcações. O episódio, comum nesta época do ano na Amazônia, ganhou destaque após um vídeo enviado por moradores da comunidade de Nazaré, no Baixo Madeira, mostrar as lanchas escolares, conhecidas como voadeiras, alagadas no porto principal da localidade.
O temporal ocorreu pouco antes do horário de saída dos estudantes que diariamente deixam Nazaré rumo às suas comunidades de origem, algumas próximas, outras a várias horas de viagem pelo rio. Nazaré é considerada comunidade-polo e concentra alunos de toda a região.
Instituições independentes que atuam junto às populações ribeirinhas alertam para a série de perigos enfrentados pelos alunos e pilotos de voadeiras. Além dos temporais, há os chamados arrotos, bancos de areia deixados por garimpos ilegais, pedrais, praias formadas na seca e até episódios de violência.
Moradores relatam que, em uma ocasião recente, uma lancha que transportava estudantes foi confundida com fiscalização e alvejada por tiros de revólver. Felizmente, ninguém ficou ferido.
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A situação expõe a ausência histórica de investimentos na educação ribeirinha. A implantação de escolas mais próximas às comunidades poderia reduzir os riscos. Atualmente, em localidades distantes, crianças que precisam estar na escola de Nazaré às 7h30 saem de casa entre 5h30 e 6h.
Na época da seca, o trajeto se torna ainda mais penoso: além de descer o barranco, os alunos percorrem longas faixas de areia até alcançar as embarcações. Casos de crianças que chegam a ferir e sangrar os pés de tanto caminhar são frequentes.
Ainda não se sabe se os motores das embarcações atingidas pelo temporal sofreram danos, mas os prejuízos já recaem sobre os estudantes, que dependem desse transporte para garantir o mínimo de dignidade através do acesso à educação.
O episódio reacende a cobrança por políticas públicas voltadas às comunidades ribeirinhas. “Que bom que este temporal não pegou os alunos no meio do rio”, disse um morador. A fala resume o alívio momentâneo, mas também denuncia a rotina de insegurança e abandono que marca a vida de milhares de crianças Ribeirinhas.
Texto e foto: Tullio Nunes.