Deputado é considerado foragido após operação da Polícia Federal contra milícia

Gazeta Rondônia
02/10/2025 23h12 - Atualizado há 10 horas

Feira de Santana, segunda maior cidade da Bahia, acordou nesta quarta-feira (1º de outubro de 2025) sob os efeitos de uma operação de grande porte da Polícia Federal (PF). A ação, batizada de Operação Estado Anômico, visa desarticular uma organização criminosa supostamente comandada pelo deputado estadual Kleber Cristian Escolano de Almeida, conhecido como Binho Galinha (PRD). O parlamentar, de 47 anos, é considerado foragido desde o início da deflagração, enquanto sua esposa, Mayana Cerqueira da Silva, e o filho, João Guilherme Cerqueira da Silva Escolano, foram presos preventivamente, ao lado de outras seis pessoas, incluindo quatro policiais militares.

A operação é um desdobramento da Operação El Patrón, deflagrada em dezembro de 2023, que já havia resultado em denúncias do Ministério Público da Bahia (MP-BA) contra 15 indivíduos, incluindo Binho Galinha e seus familiares. Segundo a PF, o grupo atua há mais de uma década na região centro-norte baiana, com foco em lavagem de dinheiro proveniente de atividades ilícitas como jogo do bicho, agiotagem, extorsão e receptação qualificada de veículos. O nome da operação faz referência ao conceito sociológico de “estado anômico”, descrito como uma condição de desordem social marcada pela ausência de normas e valores reguladores, simbolizando o impacto do crime organizado na comunidade local.

Perfil do deputado e sua trajetória política

Nascido em Milagres, a 245 km de Salvador, Binho Galinha migrou para Feira de Santana há mais de 30 anos, onde ganhou o apelido ao trabalhar em um abatedouro de aves. Empresário no setor de autopeças, ele se descreve no site da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) como dono de imóveis na região. Sua ascensão política veio em 2022, quando foi eleito pela primeira vez como deputado estadual pelo Patriota (atual PRD), com 49.834 votos – o segundo mais votado em Feira de Santana. No ano seguinte, assumiu como vice-líder do bloco parlamentar formado por MDB, PSB, Patriota, PSC e Avante.

No entanto, a trajetória de Binho Galinha é marcada por controvérsias. Em 2011, ele foi preso em Feira de Santana por suspeita de integrar uma quadrilha de roubos de automóveis e caminhões, detido com uma pistola em sua posse. A loja de autopeças Tend Tudo, fundada por ele em 2006, é apontada como epicentro das movimentações financeiras suspeitas. Auditores da Receita Federal identificaram depósitos de R$ 40,7 milhões sem lastro fiscal adequado, além de créditos de indivíduos com histórico de receptação e organização criminosa. Um exemplo citado nas investigações é uma nota fiscal de R$ 3 milhões emitida em 2020 por suposta venda de mil cabines de caminhão, sem comprovação de recursos ou estoque.

Detalhes da operação e envolvimento de familiares

A Operação Estado Anômico mobilizou 100 policiais federais, 11 auditores-fiscais e três analistas tributários da Receita Federal. Foram cumpridos 10 mandados de prisão preventiva e 18 de busca e apreensão em Feira de Santana, São Gonçalo dos Campos e Salvador. Além das prisões, a Justiça determinou o bloqueio de R$ 9 milhões em contas bancárias dos investigados e a suspensão de atividades de uma empresa ligada ao grupo. Outro alvo, cuja identidade não foi revelada, também permanece foragido.

As investigações apontam que Binho Galinha manteve o comando da organização mesmo sob medidas cautelares impostas após a El Patrón, utilizando empresas de fachada e “laranjas” para movimentar recursos. Seu filho, João Guilherme, é acusado de receber verbas ilícitas desde menor de idade, repassando cerca de R$ 474 mil ao pai. Já a esposa, Mayana Cerqueira, apresenta movimentações financeiras incompatíveis com sua declaração à Receita Federal, com transações ligadas aos demais suspeitos. Um elo chave na receptação de peças roubadas seria Kleber Herculano de Jesus, conhecido como “Compadre Charutinho”, com histórico de crimes contra o patrimônio e proximidade com o deputado.

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O “braço armado” do grupo incluiria policiais militares, quatro dos quais foram presos nesta ação. A PF destacou que a organização impõe um clima de insegurança em Feira de Santana, com extorsões e controle de territórios. Se condenados, os investigados enfrentam penas somadas que podem ultrapassar 50 anos de reclusão.

Antecedentes: A anulação da Operação El Patrón

Em junho de 2025, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou os efeitos da Operação El Patrón, sob relatoria do ministro Joel Ilan Paciornik. A decisão apontou falhas na obtenção de relatórios sigilosos do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sem autorização judicial, violando garantias constitucionais. A El Patrón havia cumprido 10 prisões preventivas, 33 buscas, bloqueado R$ 200 milhões e sequestrado 26 imóveis, além de suspender seis empresas. Em um dos imóveis, foram encontradas milhares de peças automotivas roubadas.A decisão é passível de recurso pelo MP-BA. Em nota à época, a assessoria de Binho Galinha afirmou: O deputado estadual Binho Galinha recebeu com serenidade e respeito a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que anulou os atos da chamada “Operação El Patrón”, reconhecendo a ilegalidade no uso de relatórios sigilosos do Coaf sem autorização judicial. Desde o início, o deputado sempre esteve à disposição da Justiça e confiante de que a verdade prevaleceria. Ao longo de todo o processo, reafirmou seu compromisso com a legalidade e a transparência, respeitando os trâmites legais e colaborando com todas as autoridades envolvidas. A decisão do STJ reforça a importância do devido processo legal e do respeito às garantias constitucionais. O deputado segue firme no exercício do mandato, focado em continuar representando o povo baiano com responsabilidade e dedicação. O parlamentar nega as acusações e alega perseguição política.

Reações institucionais e impacto na Alba

A presidente da Alba, deputada Ivana Bastos (PSB), emitiu nota oficial: Assim que a Casa Legislativa for oficialmente notificada, adotará medidas internas cabíveis, em observância à Constituição, às leis e ao regimento interno. Assim que houver ciência oficial, o Conselho de Ética será acionado para analisar o caso de forma objetiva.

A operação também respingou em esferas locais: a PF solicitou buscas na residência e escritório do procurador-geral de Feira de Santana, Guga Leal, mas o pedido foi negado pela juíza Márcia Simões. Leal permanece como suspeito.

Nas redes sociais, a notícia gerou repercussão imediata. Portais como Metrópoles e Congresso em Foco destacaram o perfil de Binho Galinha, enquanto usuários no X (antigo Twitter) comentam o impacto na política baiana, com postagens como a do perfil @LeoniceMariana1: “Não escapa um. A PF cumpre mandado de prisão contra milícia ligada ao deputado estadual da Bahia, Kleber Cristian Escolano de Almeida, conhecido como Binho Galinha. Foi ordenado o bloqueio de R$ 9 milhões do grupo.” O Blog da Feira alertou para possíveis ramificações no governo municipal.

A PF informou que as apurações prosseguem para identificar outros envolvidos. O caso expõe vulnerabilidades no combate ao crime organizado em regiões metropolitanas, onde figuras políticas se entrelaçam com atividades ilícitas, demandando maior escrutínio institucional.

Fonte: Painel Político.


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