Todos os dias, as mulheres que serão mostradas nesta reportagem levantam cedo da cama e lutam por uma vida melhor. E elas escolheram um caminho árduo, porém compensador: o empreendedorismo.
São mulheres microempresárias, que não tem o salário fixo garantido de um emprego nem espera pela ajuda do governo. Também decidiram não depender da renda de seus companheiros. Elas mesmas, com a cara e a coragem, estão construindo seus próprios negócios e ganhando seu próprio dinheiro.
Coragem, aliás, é o que não falta à microempreendedora Fatima Regina Felix. Ela e as três filhas, Camilly, Vitória e Ketellen, fabricam e vendem os docinhos de amendoim conhecidos como cri-cri. Fatima fez do doce o produto carro-chefe do seu negócio, fabricando na versão doce e salgada. “O cri-cri é tudo para mim”, diz.
Há um ano e meio, Fatima trabalhava de funcionária numa empresa de embalagens no município. Decidiu largar o emprego para investir na pequena fábrica de cri-cri, que funciona numa casa simples emprestada, no bairro José de Anchieta. “Estou feliz. As vendas estão aumentando e estou conseguindo clientes”, conta.
Fatima já tem 16 pontos de venda dos seus produtos. Uma das filhas dela, a mais nova, também vende o produto na rua. Os pontos de vendas são os parceiros dela, como mercados e mercearias, que revendem os cri-cris. Ela tem parceiros em Cerejeiras, Corumbiara e Pimenteiras do Oeste. “Mas tenho vontade de me expandir para Vilhena”, revela.
Também no ramo de alimentação, Lucinéia Rodrigues é reconhecida por fazer os deliciosos bolos confeitados em Cerejeiras. Em casa, no Bairro Eldorado, a microempreendedora trabalha como “fazedora” de bolo – como são chamadas as mulheres que fazem o produto para vender – há mais de 20 anos. “Mas agora decidi formalizar o meu negócio”, afirma. Ela abriu empresa e até solicitou uma maquininha de cartão de crédito no banco para receber os pagamentos dos clientes.
A empreendedora Keila Aparecida do Nascimento Aguiar se dedica a fabricar outro tipo de produto de alimentação: os salgados. E ela não está sozinha. Tem várias funcionárias, que se dividem em turnos. A empresa dela, que funciona nos fundos de casa, no bairro José de Anchieta, fabrica salgados para festas, eventos e feiras. Ela faz coxinhas, pastéis, quibes, enroladinhos.
A empreendedora trabalhava como representante comercial numa empresa há 13 anos e, nos momentos de folga, fazia salgados para a família. “Foi quando as pessoas começaram a me aconselhar a fazer salgado para vender”, explica Keila. Ela começou, então, a fazer os produtos e foi angariando uma clientela.
Foi o próprio Jesus Cristo que disse que nem só de pão vive o homem. Ou seja, o ser humano não precisa somente de alimento para ser feliz. Precisa também de arte, de cultura e, no caso das mulheres, de dar um tapa no visual.
Por falar em visual, isso é assunto para as microempreendoras do setor, que estão preparadas para atender quem está em busca da beleza.
É o caso da esteticista Larissa Daniele Kluch, que tem um estúdio de corte e tratamento de cabelos, como lavagem e hidratação. Formada em Estética, a empreendedora, que trabalha com uma equipe, também oferece serviços de limpeza de pele e outras aplicações estéticas.
Segundo ela, a decisão de empreender foi tomada com coragem, em meio a um tremendo desafio. “Abri no período da pandemia. Muita gente achou que eu estava ficando louca. No início, às vezes aparecia uma ou duas pessoas por dia. A clientela só veio com o tempo”, conta. Larissa abriu o negócio há um ano e meio, assim que chegou do Mato Grosso, onde cursou a faculdade.
Atuando também no ramo da beleza, Luciane Krasowski é especialista em design de sobrancelhas. A história dela tem um lado bastante prático. “Eu cheguei de mudança do Mato Grosso e tentei encontrar um emprego que desse para eu sobreviver e pagar uma babá para meus dois filhos. Não encontrei um emprego que pagasse o que eu precisava. Aí decidi empreender”, conta. Luciane decidiu, então, investir na atividade de design de sobrancelhas. Primeiro, foi atendendo as clientes na casa delas. Depois abriu seu próprio estúdio, que fica na rua dos Estados, ao lado da Sefin. Ela já tem três anos de atuação em Cerejeiras.
Para cada uma dessas empreendedoras, o autor desta reportagem fez a mesma pergunta: “Você acha que Cerejeiras tem oportunidades para outras pessoas que também queiram começar um pequeno negócio?”. Todas elas responderam positivamente. Todas elas acreditam que a região ainda tem, sim, oportunidades de micronegócios não exploradas.
No entanto, todas elas advertem: oportunidade não é sinônimo de facilidade. As empreendedoras ouvidas nesta reportagem encontraram muitas dificuldades para empreender – e ainda encontram. Todas elas tiveram momentos desesperadores, quando chega aquele momento em que tudo parecia dar errado. Para todas elas, a clientela foi construída aos poucos, com bastante trabalho, grande persistência e com muita, muita, muita força de vontade.
Essas mulheres aproveitaram essas oportunidades e estão construindo o seu sucesso, fazendo seu próprio caminho. Mas trilham uma estrada sofrida. Como microempreendedoras, elas fazem seu próprio marketing, sua própria contabilidade, sua própria gestão. E tudo isso sem se esquecer dos filhos, do marido, da família. Mas elas enfrentaram as dificuldades, construíram seus negócios e tem uma história para contar – e podem apontar o caminho para quem deseja trilhar por esta estrada espinhosa porém compensadora.