Após ser preso por porte ilegal de arma de fogo e tortura de um ladrão que havia acabado de furtar objetos da casa da nora, o agricultor Nilton Mathias nega que tenha batido no suspeito e afirma: “Eu tenho 73 anos e não tenho porque mentir”, disse ao receber a equipe de reportagem em sua casa, na tarde desta segunda-feira (15).
Na sexta-feira (12), em audiência de custódia, o idoso teve a prisão em flagrante convertida em liberdade provisória, sob pagamento de multa de R$ 2,5 mil pelo porte ilegal de arma. Sobre o crime de tortura, o juiz plantonista relaxou a prisão por falta de requisitos para sua decretação.
O ladrão, identificado como Weslley Fagner Gonçalves Benvindo, 22 anos, também teve a prisão em flagrante convertida em liberdade provisória. Ele foi indiciado por furto qualificado e precisou de atendimento médico por causa dos ferimentos.
As prisões aconteceram no fim da manhã de quinta-feira (11), no Bairro Nova Campo Grande. Segundo Nilton, a nora havia saído para levar a filha à escola, quando foi alertada pela vizinha. O mesmo ladrão que tinha furtado a residência na terça-feira (9) estava rondando a casa novamente. O suspeito foi reconhecido pelas imagens de câmeras de segurança da vizinhança. Foi aí que a nora acionou Nilton.
No furto anterior, o ladrão havia levado dois óculos, dois relógios de sol, dois pares de tênis e um aparelho Hoverboard, prejuízo de cerca de R$ 6 mil, conforme o idoso. Na segunda investida, garrafa de whisky, secador, champanhe, relógio e par de tênis.
O agricultor disse que antes de sair de casa, na Vila Bandeirantes, e ir atrás do ladrão, acionou a Polícia Militar e, por segurança, resolveu levar dentro da caminhonete o revólver Taurus .380. Ele ainda pediu que a nora chamasse o filho dele.
“Tem um cara entrando na casa do seu filho, você vai atrás dele desarmado? Você não sabe qual a situação que vai encontrar”, questionou.
Ao chegar ao local, Nilton flagrou o bandido pulando o muro para fora da casa com os objetos numa sacola. Ele conseguiu escapar, mas o agricultor saiu correndo atrás dele gritando “pega ladrão”. “Foi a população que conseguiu detê-lo e o arrebentou no pau. Pedi para a turma parar e em nenhum momento tirei a arma da caminhonete”, explicou.
Como a polícia estava demorando a chegar, Nilton e um cunhado do filho resolveram colocar o bandido na caminhonete e levá-lo à delegacia. Foi no caminho que Nilton encontrou a viatura e buzinou para a polícia parar. Segundo ele, a equipe chegou 45 minutos depois de ser acionada.
“Fui eu quem parei a viatura. Ao ver que o ladrão estava todo machucado no banco do passageiro, o PM me perguntou se eu estava armado. Falei que a arma estava na caminhonete e a polícia me prendeu. Não tenho porque mentir. Sou homem e assumo o que faço”, destacou.
Nilton foi levado para a delegacia e como só tinha o registro para ter a posse (manter a arma exclusivamente no interior da residência ou no local de trabalho), foi preso em flagrante por porte ilegal de arma de fogo e por tortura. “Não torturei ninguém. A polícia só me ouviu depois que decretou a minha prisão. Aos 73 anos, fui levado para um cela, dormi no chão de uma delegacia. Isso me deixou indignado. Trabalho desde os 12 anos. Nunca tinha passado por isso”, disse.
Apesar de ter se sentido humilhado por ser preso, Nilton afirmou que foi bem tratado na delegacia. “Fiquei sozinho na cela. Não me deixaram com os outros presos, já tinham me informado que passaria por audiência de custódia no outro dia e seria solto”, contou.
Nilton disse que agora vai providenciar o porte (para poder circular com o revólver). "Meu advogado está cuidando de tudo, mas mesmo assim, ainda me sinto preso. Tive vergonha de chegar para a minha mulher, com quem sou casado há 50 anos, e dizer que estava detido, que ia passar a noite numa delegacia", lamentou. Fonte: CampoGrandeNews.