"Lá é muito frio, deram papel alumínio para gente cobrir do frio. (...) Eles jogaram nossos objetos fora. Não conseguimos falar com os familiares. Eu, minha esposa e minha filha de 5 anos ficamos em salas separadas. Experiência muito difícil".
A declaração é de uma mulher que foi deportada dos Estados Unidos com a esposa e a filha de 5 anos. Ela contou à TV Globo que sofreu maus-tratos dos agentes da imigração por mais de 10 dias enquanto aguardava ser deportada.
Elas estavam entre os 211 brasileiros deportados, no voo vindo do Arizona, que chegou às 13h27 desta quarta-feira (26) no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, na Região Metropolitana. Segundo a Polícia Federal (PF), havia no voo 90 menores de idade, incluindo crianças de até 10 anos.
A mulher pediu para não ser identificada na reportagem.
"Queríamos vida melhor, nosso país está pobre, não dá para viver", disse ela, ao justificar a entrada no país de forma ilegal.
A família, que é de Rondônia, foi presa enquanto atravessava o muro da fronteira. "Ainda não sabemos como vamos voltar para casa".
Geisiane Vieira, de 33 anos, o marido e dois filhos também foram deportados. Ela disse à TV Globo que a filha de 12 anos e outras crianças passaram mal e não receberam medicamentos. Eles são de Minas Gerais, mas não informaram a cidade onde moram
"Alimentação é ruim, crianças passaram mal e não foram medicadas, minha filha só teve dor de cabeça, mas outras crianças tiveram problemas intestinais. Eles não ofereceram nada. O local onde ficamos era muito frio", contou.
Este foi o maior número de deportados em um único voo com destino a Confins desde 2019, segundo a BH Airport, concessionária que administra o terminal (veja lista ao final deste texto).
A coordenadoria da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) já havia informado mais cedo que cerca de 100 dos deportados são crianças e adolescentes.
Uma equipe da Polícia Federal, além de 6 comissários da unidade da Infância e Juventude de Pedro Leopoldo e 12 de Belo Horizonte, receberam os passageiros para verificar se as crianças pertencem a falsas famílias. Todas vão passar por uma triagem para comprovar paternidade e maternidade.
Se as crianças e os adolescentes não pertenceram às famílias que chegarem, os comissários vão procurar as famílias de origem, já que o caso se tornaria tráfico de menores.
A PF disse que agora apura "como essas crianças saíram do território brasileiro", e que vai verificar "as condições às quais os menores foram submetidos durante esse processo".
A BH Airport forneceu alimentação para os passageiros.
Este é o 51º voo com deportados que chega ao país. Ao todo, 3.831 brasileiros foram expulsos por tentar entrar ilegalmente nos Estados Unidos.
A chegada do primeiro voo, em 2019, marcou a retomada de uma medida que não era aceita pelo Brasil desde 2006, quando o Itamaraty alterou a política de trato de brasileiros no exterior.
Veja abaixo as datas e a quantidade de deportados nos voos que chegaram ao Aeroporto Internacional de belo Horizonte, em Confins: