07/03/2021 às 21h09min - Atualizada em 07/03/2021 às 21h09min

Filho de pastor que morreu por Covid-19 soube da morte do pai após receber alta: ‘melhor dia da minha vida foi o pior’

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No dia em que recebeu alta, após passar uma semana internado por causa da Covid-19, em Rio Branco, o jovem Tallison Bernardo Craveiro de Souza, de 24 anos, soube que o pai, o pastor Francisco Rodson dos Santos Souza, de 51 anos, havia perdido a luta para a doença.

“Lutei muito. Teve um dia que passei 10 horas fazendo VNI e foi o que me salvou. Fui melhorando e não sabia nada o que estava acontecendo aqui fora. Quando foi ontem [quinta-feira] tive alta, mas, o melhor dia da minha vida, foi o pior dia da minha vida. Fui entender as coisas ontem à noite quando fui dormir, deitei e imaginei que não tenho mais pai. Estou digerindo pouco a pouco, são as pequenas coisas que são mais difíceis”, contou o jovem ao G1.

O pastor Francisco Rodson dos Santos Souza, de 51 anos, foi internado antes do filho e morreu na quarta-feira feira (3). Ele estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Instituto de Traumatologia e Ortopedia (Into) desde o dia 21 de fevereiro. A esposa Orquídea Souza, de 49, também contraiu a doença.

Nas redes sociais, Tallison postou uma homenagem ao pai. "O dia da minha alta, o dia da sua subida. Obrigado pai por 24 anos estar ao meu lado, me ensinando, me amando, me corrigindo. Obrigado por ter sido meu herói! Hoje eu sou o que sou, é por sua causa. A dor da sua partida não passa e nem sei se vai passar. Mas, a chegada de tantas mensagens de pessoas para quem você já fez bem, isso faz o meu orgulho ser ainda maior do legado que você deixou. Infelizmente, você não conseguiu ver o seu tão esperado neto, o qual tão sonhou. Mas, pode ter certeza que ele terá nosso sangue forte e guerreiro. Te amo pra sempre", escreveu.

A irmã de Tallison, Talita Craveiro, também conversou com o G1 e contou que foi quem deu a notícia da morte do pai para o irmão.

“Ele não podia receber a informação porque o médico não liberou. Eu que contei para ele, logo depois da alta. Achou que eu estava brincando e ainda ficou chateado, disse que era uma brincadeira de mau gosto. Levou um tempo para cair a ficha dele. Apesar de a gente estar sofrendo pela perda do meu pai, ficamos felizes porque podíamos estar fazendo o sepultamento de dois. A gente queria sair do hospital com os dois, mas poderia ser sem nenhum”, relata.

Tallison se recupera da doença em casa. “Ele está bem, se recuperando, porque ficam muitas sequelas, cansado. Como ficou muito tempo no oxigênio, ele tem dificuldade em falar. Mas, está bem dentro da medida do possível”, contou.

Ela lembra o sofrimento da família. "Por ele ter visto a situação do meu pai, ficou com muito medo e quando foi internado, estava com 75% do pulmão comprometido. Meu pai estava melhor que ele [com 70%], mas, ele agravou muito rápido, em questão de uma hora agravou e o meu irmão manteve", relembrou.

Rodson Souza era pastor auxiliar de uma igreja em Rio Branco. Em 2014, ele foi diretor do Pronto Socorro. Talita diz que a família se cuidava e ele se preocupava por fazer parte do grupo de risco, tinha diabetes e era obeso. Ele faria aniversário, de 52 anos, no dia 15 de março.

“Meu pai, a gente cresceu com ele ensinando os caminhos que a gente devia andar. Ele era muito protetor, sempre fez tudo pela gente. E se ele pudesse voltar, faria a mesma coisa, ele sempre foi muito protetor e nunca deixou faltar nada. Ele deve ter ficado doente trabalhando", contou.

Orquídea Souza que também estava com a Covid, se recupera em casa e não precisou ser internada. Em poucas palavras, ela agradeceu pelo carinho e pediu que as pessoas entendam os efeitos graves da doença. 

“Só agradeço a honra que estão dando à memória do meu esposo. Espero que as pessoas comecem a entender a dimensão dessa doença, da dor que causa, da separação que causa. É o momento das lembranças, do luto, do choro. Sempre tivemos a visão da vontade de Deus, e, nos últimos dias, ele estava se preparando, se organizando. Ele estava muito conectado nessa questão de cuidado da família, da vida. Ele foi para o hospital cuidando de mim, porque eu estava pior que ele, só que na recepção ele piorou”, contou ao G1.
Fonte G1

 
 
 

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