23/10/2021 às 08h22min - Atualizada em 23/10/2021 às 08h22min

Crescendo e ampliando, Parque Industrial de Cerejeiras se torna um dos mais promissores polos de desenvolvimento de Rondônia

Dezenas de empresas já estão instaladas no parque, gerando renda e emprego. Em breve, novos negócios serão instalados no local. O poder público tem feito sua parte, mas os empreendedores ainda enfrentam desafios

Gazeta Rondônia
Rildo Costa

Vista aérea do Parque Industrial de Cerejeiras. O local está ampliando e novos lotes estarão disponíveis. (Foto: Renato Novaes)

A região de Cerejeiras é um dos polos econômicos de maiores oportunidades de negócios de Rondônia.

Com forte vocação para o agro, sobretudo a agricultura de precisão, a região tem visto florescer negócios de todos os setores, que comercializam uma infinidade de produtos e oferecem uma variedade de serviços.

E em nenhum lugar este polo produtivo é mais evidente que o Parque Industrial de Cerejeiras, situado no km 5 da BR-435, sentido Corumbiara.

Durante uma semana, ou autor desta reportagem foi ao parque todos os dias, conversou com empreendedores que investiram no local, buscou informações nos órgãos oficiais e dialogou com gestores públicos.

O resultado é a reportagem que se segue.

Mas esperamos mesmo que este trabalho produza um fruto mais nobre. O que esperamos é que esta reportagem possa causar outra série de implicações, dentre elas: 1) que mais pessoas conheçam o Parque Industrial de Cerejeiras (pelo menos sabendo onde fica); 2) que os gestores públicos intensifiquem os investimentos no local; 3) que empreendedores enxerguem as oportunidades de negócios em investir no parque.

O nome oficial do local é Parque Industrial Aurélio Milioransa.

A ideia do parque começou a se formar por volta de 2010 entre os diretores da Associação Empresarial de Cerejeiras (ACIC) da época.

Antes disso, o local era um terreno baldio e cheio de mato, pertencente ao município.

No início da década de 2000, o então prefeito José Eugênio Zigue adquiriu a propriedade com o projeto de montar um aeroporto internacional. Visto de hoje, parece um absurdo. Mas na época discutia-se esta possibilidade, pois a região de Cerejeiras é fronteiriça com países andinos e o governo federal cogitava esta ideia.

A ideia do aeroporto não vingou. Foi aí que os diretores da ACIC sugeriram que a propriedade se tornasse um parque industrial.

Os gestores públicos na época, especialmente o então prefeito Airton Gomes, que tomou posse em 2012, ouviu os empresários levou a ideia à prática. A propriedade foi repartida em lotes, foi transformada a área rural em área urbana e foram colocados os terrenos à venda.

Mas uma denúncia no Tribunal de Contas do Estado de Rondônia travou a venda dos terrenos no parque por quase dois anos. Depois, com a liberação judicial (mediante um novo modelo de venda dos terrenos), o parque foi efetivamente liberado.

O Parque Industrial de Cerejeiras tem 28 lotes, de 50 por 600 metros quadrados. A área total é de 1.008.106 metros quadrados.

Um detalhe importante: o Parque Industrial Aurélio Milioransa passou a ser chamado de Parque 1. A razão é que está sendo liberado o Parque 2, que é um terreno doado pelo município para a Conab no mandato do prefeito Airton Gomes (fica depois da cerca de eucalipto da Masutti).

Depois de algum tempo, a Conab admitiu que desistiu de construir o armazém no local e a prefeitura solicitou o terreno de volta. A devolução foi feita neste ano de 2021.

Voltando ao Parque 1, no momento tem de 12 a 15 empresas instaladas no local. No conjunto, são gerados cerca de 100 empregos no parque. Quatro famílias de empreendedores moram no próprio Parque Industrial de Cerejeiras (é permitido construir residência nos fundos da empresa).

O parque tem duas ruas e duas avenidas, todas ainda sem nome e sem pavimentação.

Até pouco tempo atrás, os restaurantes não entregavam marmita no local. Hoje, várias empresas fazem delivery de alimentação e outros serviços no Parque Industrial de Cerejeiras.

Quem tem lote no parque paga a taxa do lixo (pois foi transformada em área urbana). Por isso, os empresários têm direito ao serviço de recolhimento dos resíduos sólidos. A prefeitura busca o lixo no parque uma vez por semana.
 

A estrutura de eletricidade do parque é muito boa, o problema é a quantidade e a qualidade da força elétrica que chega ao complexo industrial, que é fraca e instável. A rede elétrica do parque é excelente é de baixa e alta tensão, com capacidade instalada nos transformadores de 375 kVA em todos os terrenos, mas com potencial para mais de 2 mil kVAs. O problema é que a energia fornecida pela Energisa deixa a desejar. A reportagem ouviu um empreendedor que desistiu de adquirir uma máquina moderna por causa da energia. Teve outro empreendedor do parque que contou que às vezes a força elétrica na empresa dele não passa de 90 volts.

As empresas interessadas precisam cumprir certos critérios para adquirir um terreno e se instalar no parque.

O principal critério é que a empresa seja no modelo de trabalho que não seria apropriado para a área urbana, como, por exemplo, empresas de caminhões, que demandam um espaço muito grande, ou atividades que fazem barulho ou tem algum processo industrial que pode causar algum transtorno ambiental.

Cumprido esses critérios, as empresas podem apresentar a proposta de adquirir os terrenos, que ocorrem por meio de leilões públicos.

O preço dos lotes é menor que uma área correspondente na área urbana. Um lote no Parque Industrial de Cerejeiras hoje pode sair por volta de R$ 120.000,00, por exemplo.
 


A Araújo Recapadora, que faz manutenção de pneus de caminhão e borracharia de pneus agrícolas, é a primeira empresa a se instalar no local. Ela chegou ao parque em 2019 e começou num pequeno barracão, com dois funcionários. Hoje tem oito.

Segundo o dono da empresa, o empresário Liberalino Araújo, o local é adequado para a atividade dele. “Mas temos alguns desafios aqui, como, por exemplo, a energia elétrica”, diz.

A água também é outro problema. "Uso um poço comum, que secou. Estou furando um semiartesiano agora. Não temos abastecimento de água aqui. E eu preciso de água para produzir”, relata.

Por fim, a reclamação do empresário é a mesma que diversos outros. “Há um desnível entre a entrada para o parque e o asfalto. Tem que fazer uma chegada melhor”, diz.

Tirando esses desafios, o empresário afirma que o local é muito bom para empreender. “Tem essas melhorias a serem feitas, mas no mais estou muito satisfeito aqui”, explica.
 


O Posto de Molas JF também está no Parque Industrial de Cerejeiras há algum tempo. A empresa foi a única visitada pelo autor desta reportagem cuja atividade é exercida em um terreno arrendado, ou seja, o dono do lote é outra pessoa. Mas os donos têm um sonho de adquirir terreno próprio.

A empresa é focada em serviços de reparos de molas de caminhões de grande porte, especialmente as carretas. Como a região de Cerejeiras é um polo produtivo de grãos, há muito transporte. E os caminhões que percorrem a região geram uma demanda por este tipo de serviço especializado.

“Antes os caminhoneiros teriam que ir a Vilhena para fazer reparos de molas nos caminhões. Agora atendemos eles aqui”, conta Fábio Rodrigues, que abriu a empresa com a esposa, Cristiane de Fátima Rodrigues. A empresa tem atualmente oito funcionários.
 

A mais recente empresa a se abrir no Parque Industrial de Cerejeiras é a T-Solda Tornearia, do empresário Thalison Custódio Ramos. Ele, que tem só  25 anos de idade, tinha uma pequena oficina na cidade, nas proximidades do cemitério. Mas ele decidiu se mudar para o parque. Ele se instalou há 60 dias no local.

“Aqui é muito melhor”, diz Thalison. Mas ele também apresenta reclamações. “A energia que chega aqui é fraca e a coleta de lixo é feita somente uma vez por semana, o que é insuficiente para a gente”, explica. “No mais, está tudo dando certo”, finaliza.

O empreendedor Sílvio Amaral ainda não se instalou no Parque Industrial de Cerejeiras, mas já está construindo um barracão no local. A empresa dele, a Auto Elétrica Nova Era, tem três funcionários. “Mas quero contratar oito quando eu me mudar para cá”, diz, animado.

Sílvio já trabalhava em casa, no bairro Alvorada, há uns três anos. Ele atende as fazendas fazendo reparos elétricos nas frotas de caminhões nas propriedades rurais. “Até hoje a minha oficina tem sido a minha caminhonete. Eu vou nas fazendas com as ferramentas e faço o meu serviço lá”, diz.

Assim como seus colegas empreendedores, Sílvio também apresenta demandas para o lugar. “Os empresários do Parque Industrial de Cerejeiras poderiam ser contemplados com uma linha de crédito específica, com taxa de juro diferenciada. O acesso ao crédito é uma dificuldade nossa”, diz.

Por falar em crédito, o gerente do Banco da Amazônia, Jefferson Cunha, afirma que já há algumas demandas de financiamento por empreendedores do local. E explica: “Nossa agência tem trabalhado forte para desenvolver uma Amazônia sustentável, contribuindo com o crescimento da região, e este parque é uma das áreas que merecem nosso apoio”.

Nesta mesma linha, o gerente da Sicoob Credisul em Cerejeiras, Rodrigo Antonio de Mattos, afirma que a cooperativa tem vários cooperados no Parque Industrial de Cerejeiras e que a instituição tem consciência da importância deste setor para a região. “O parque é muito importante para o desenvolvimento do município, o que vem de encontro aos valores do cooperativismo. Estamos dispostos a sermos parceiros deste polo produtivo por meio do crédito e da assessoria financeira”, diz o gerente da Sicoob Credisul.
 


A pedido da reportagem, a prefeita (licenciada) de Cerejeiras, Lisete Marth, enviou uma nota falando sobre o Parque Industrial de Cerejeiras.

Segundo ela, o Parque 1 já recebeu e continuará recebendo investimentos do município e o Parque 2 foi recém-readquirido da Conab, que ia construir um silo no local e depois desistiu do projeto. "Este segundo parque vai ser uma nova frente de possibilidades de negócios em nosso município. Estamos analisando as propostas das empresas para se instalar aí. Já têm várias interessadas”, diz a prefeita.
 

O Parque Industrial de Cerejeiras precisa de algumas melhorias, se possível urgentemente. Dentre essas melhorias estão: pavimentar duas avenidas (de frente e de lado) e duas ruas (pois ficam escorregadias no tempo das chuvas e com poeira na estiagem), um projeto de arborização e, principalmente, que se resolva a questão da energia elétrica. Além disso, o parque se beneficiaria também com uma assistência jurídica e financeira melhor.

O engenheiro Dilcionir Panatto, um profissional pioneiro no município e responsável pelo projeto de engenharia do Parque Industrial de Cerejeiras, explica que o local está em fase de retomada de alguns terrenos que foram adquiridos por algumas empresas, mas que essas companhias contempladas não construíram na localidade (no caso, no Parque 1). “Temos alguns terrenos nesta situação e estamos fazendo a retomada desses lotes. Assim que concluirmos este processo, mais uma nova frente de lotes estará á disposição”, diz.

O Parque Industrial de Cerejeiras é um palco onde o progresso econômico e produtivo da região está concentrado. Idealizado por lideranças empresariais visionárias e levado à prática por políticos comprometidos, o parque é hoje uma realidade.

Acima de tudo, porém, o Parque Industrial de Cerejeiras está sendo construído por empreendedores com garra, persistência e determinação.

Esses heróis foram os que viram uma oportunidade de negócios onde antes só havia uma propriedade rural tomada pelo mato.

E são esses empreendedores que farão deste local um dos maiores parques produtivos do Estado de Rondônia.


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