10/02/2024 às 22h06min - Atualizada em 10/02/2024 às 22h06min

RELÍQUIAS AUTOMOTIVAS: ​Alfa Romeo 2300, a joia italiana fabricada no Brasil

Vanessa Dall Alba

Vanessa Dall Alba

Bacharel em Direito, Graduanda em Jornalismo e apaixonada pelo mundo automotivo e por carros antigos.

Fala lasanheiros de plantão! Na coluna de hoje iremos apresentar uma relíquia italiana que fez muito sucesso aqui no Brasil durante os anos de 1970 e 1980. Estamos falando do último cuore esportivo fabricado em solo brasileiro, o Alfa Romeo 2300.
 
No vasto universo dos carros antigos, poucos nomes ressoam com tanta elegância e pioneirismo quanto o Alfa Romeo 2300. Esta joia automotiva é muito mais do que um mero veículo; é uma cápsula do tempo que nos transporta para uma época de inovação, estilo e paixão pela estrada.
 
Neste artigo, vamos explorar a fascinante história por trás deste ícone da indústria automobilística, suas características distintivas, motor potente, estética encantadora e algumas curiosidades que tornam o Alfa Romeo 2300 tão especial para os amantes de carros clássicos.



 
O importado fabricado no Brasil: A história do Alfa Romeo 2300


O slogan de lançamento do Alfa Romeo 2300 no Brasil marcou um ponto histórico para a renomada marca italiana. Desde sua fundação em Milão, em 1910, a Alfa Romeo jamais havia produzido um veículo fora de sua terra natal.
 
O projeto inicialmente concebido na Itália, batizado de 102/12, foi adaptado e projetado exclusivamente para atender às demandas do mercado nacional.
 
Inicialmente planejado para ter opções de motor de quatro e seis cilindros, a crise do petróleo na década de 1970 resultou na implementação apenas da opção de quatro cilindros. Entretanto, é importante ressaltar que houve um Alfa Romeo fabricado no Brasil anteriormente, embora sob um nome diferente: FNM 2000 JK.




A FNM, sigla para Fábrica Nacional de Motores, era uma empresa estatal com uma imponente fábrica situada no distrito de Xerém, município de Duque de Caxias, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Fundada em 1942 com o propósito inicial de produzir motores aeronáuticos, após o fim da Segunda Guerra Mundial, a demanda por esses motores diminuiu drasticamente, deixando a FNM sem um propósito claro.
 
 
Foi somente em 1951 que a FNM começou a produzir caminhões Alfa Romeo sob licença da empresa italiana Alfa Romeo SpA, também estatal, desde 1932. Em 1960, a FNM ampliou sua produção, começando a fabricar sob licença o Alfa Romeo 2000 sedã (conhecido como "berlina" em italiano), que aqui recebeu o nome de FNM 2000 JK, em homenagem ao presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira.
 
Assim, o lançamento do Alfa Romeo 2300 no Brasil não apenas marcou a entrada da marca no mercado nacional, mas também representou um ponto culminante na trajetória da indústria automotiva brasileira, demonstrando a capacidade do país em produzir veículos de classe mundial, mesmo em um cenário de desafios econômicos e políticos.


 
Graças ao Alfa Romeo 2300, o Brasil demonstrou a capacidade de fabricar carros de classe e qualidade mundial.

Com a fusão da FNM com a Alfa Romeo, o 2300 era o modelo ideal para competir com carros de alto padrão da época.

Em 1968, a FNM foi incorporada pela Alfa Romeo e, posteriormente, em 1973, esta última passou a ser controlada pela Fiat SpA. O desenvolvimento do Alfa Romeo 2300 já estava em curso e foi lançado em 1974. O objetivo do 2300 era competir no mercado com modelos de alto padrão, como os Dodge Dart e o Ford Galaxie.


 
Seu design se destacava dos demais carros do mercado naquela época. Na frente, apresentava uma grade com quatro faróis circulares e o emblema da marca centralizado dentro de uma caixa triangular arredondada.


 
As lanternas traseiras eram pequenas, retangulares, e possuíam um letreiro "Alfa Romeo" em prata na tampa do porta-malas. Internamente, o 2300 oferecia materiais sofisticados, como plástico que imitava madeira no volante de três raios, detalhes em madeira no painel e estofamento dos bancos e laterais em couro, além do teto em couro branco perfurado.



O motor, disponível apenas na versão de quatro cilindros em linha de 2,3 litros, com duplo comando no cabeçote, era capaz de gerar 140 cv de potência SAE bruta e 21 kgfm de torque SAE bruto.

O câmbio era manual de cinco marchas, com alavanca na coluna de direção, e o sedã conseguia acelerar de 0 a 100 km/h em menos de 12 segundos, atingindo uma velocidade máxima de 170 km/h. Embora esses números possam não parecer impressionantes hoje, na época, representavam um desempenho excepcional. O destaque adicional do sedã incluía um amplo tanque de combustível de 100 litros e um espaçoso porta-malas de 435 litros.

Adicionalmente, o veículo apresentava algumas inovações técnicas, incluindo zonas de deformação dianteira e traseira, bem como freios a disco nas quatro rodas. Esse último recurso só seria visto novamente em um carro nacional, o Chevrolet Diplomata, na década de 90.


 
A inspiração italiana não se limitava apenas ao visual externo

Diferenciando-se significativamente dos outros modelos disponíveis no mercado na época, como o Chevrolet Opala, os modelos da Dodge e os Ford Maverick e Landau, o Alfa Romeo 2300 também se destacava por sua essência tipicamente europeia no interior.



O volante de três raios revestido em plástico que imitava madeira, o painel com conta-giros, os bancos dianteiros individuais com opção de encosto de cabeça e a alavanca de câmbio no chão eram características distintivas que reforçavam essa identidade europeia.


 
Enquanto os concorrentes seguiam as tendências americanas, com suspensão mais suave, detalhes cromados na carroceria e, no caso dos Dodge e do Ford Galaxie, imponentes motores V8 de alta cilindrada e torque.

O importado com o “preço nacional”

Quanto ao preço, o Alfa Romeo 2300 estava posicionado na mesma faixa de preço que o Opala e os modelos da Dodge. No entanto, seus recursos o equiparavam ao Galaxie, que custava quase um terço a mais. Isso o tornava quase um carro de nicho, atraindo os consumidores mais exigentes.



Em 1976, com o bloqueio definitivo das importações, a FNM aproveitou a oportunidade para promover seu modelo como um "importado nacional" — oferecendo tecnologia e design italianos em um carro fabricado no Brasil.



No mesmo ano, foi lançado o Alfa 2300ti, a versão mais aclamada do modelo, com um apelo ainda mais esportivo. Isso era evidenciado pelo emblema do quadrifólio nas colunas traseiras.


 
Alfa Romeo 2300ti, a versão que ganhou mais destaque do modelo.
 
Equipado com dois carburadores e entregando 149 cv brutos, o carro agora acelerava de 0 a 100 km/h em 10,8 segundos e atingia uma velocidade máxima de 175 km/h. A nova versão também apresentava um interior modernizado, com um painel redesenhado revestido em mogno legítimo, um quadro de instrumentos atualizado e um volante de plástico. Enquanto isso, o modelo básico, o 2300 B, continuava a ser equipado com um motor de carburador simples.



Dois anos mais tarde, o 2300 recebeu como opção o motor destinado às unidades de exportação, que era praticamente idêntico em todos os aspectos, exceto pela taxa de compressão elevada, resultando em uma potência de 163 cv e torque de 24,4 mkgf. Com essa atualização, o carro apresentava melhor desempenho e maior eficiência de combustível.
 
Em 1978, a aquisição da Alfa pela Fiat marcou uma mudança significativa, com a transferência da produção para a fábrica da marca em Betim, MG. Essa mudança proporcionou uma infraestrutura de produção aprimorada e resultou em carros com qualidade de construção superior.
 
No entanto, à medida que o tempo passava, o peso da idade começava a se fazer sentir, exigindo ajustes estéticos, como a adoção de pára-choques de plástico. Com o passar dos anos, o preço do 2300 aumentava gradualmente, aproximando-se perigosamente dos modelos maiores e mais luxuosos da Ford.

 
Em 1985, a Fiat fez uma tentativa de revitalização com uma nova grade, lanternas ampliadas e para-choques envolventes, porém, já era tarde demais. No ano seguinte, o 2300 seria descontinuado, marcando também o fim da presença da marca no Brasil — uma despedida que certamente deixaria saudades em milhares de admiradores por todo o país. Os veículos da Alfa Romeo só retornariam em 1990, com a reabertura do mercado e a importação do modelo 164.
 
 Fonte: Vanessa Dall Alba.
 
 
 
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