18/09/2021 às 21h54min - Atualizada em 18/09/2021 às 21h54min

Com 200 feirantes e agradando a clientela, feira municipal de Cerejeiras caminha para ser uma referência em Rondônia

Um pequeno produtor que comercializa alface. Um microempreendedor que faz pastel. Uma autônoma que venceu a depressão fazendo feira. Conheça as histórias que marcam o principal ponto de comércio popular da região de Cerejeiras

Rildo Costa

Rildo Costa

Jornalista e Publicitário

Gazeta Rondônia
Waldecir do Abacaxi vende o produtor que pelo qual cujo nome é conhecido. Mas ele também é presidente da feira. (Foto: Wellington Cordeiro)

A feira municipal de Cerejeiras é uma daquelas localidades que unem comércio popular e o ponto de encontro da comunidade.

É o local aonde vão pessoas de todas as classes sociais e de diferentes níveis de escolaridade.

Uns vão para comprar uma alface. Outras, para desfrutar de uma fruta. Ainda outros (muitos, na verdade) vão para fazer saborear um salgado. Afinal de contas, quem não gosta de um pastel de feira?

O agrônomo Dionathan Munhoz, por exemplo, é um dos que gostam. Quase todas as quartas e domingos ele está lá. Nas quartas, após sair do trabalho, ele vai comprar uma um pão caseiro ou uma verdura para abastecer a dispensa de casa. “No domingo, às vezes gosto de comer um pastel para curar a ressaca da noite anterior”, brinca o agrônomo.

“Aqui é um local de comprar uma verdura fresquinha, de comer algo diferente, de rever os amigos”, diz Dionathan. E complementa: “Sempre gostei de vir na feira”.

E não é só ele que gosta.

A pecuarista Sueila Santos mora em Corumbiara. Sempre que está de passagem por Cerejeiras e coincide com o dia de funcionamento da feira, ela passa por lá. “Gosto de levar verduras, legumes e frutas para casa. Aqui é tudo fresquinho e vem direto do produtor”, explica.

É o mesmo pensamento da empresária Ana Francisca, de Cerejeiras. “Gosto de comprar aqui porque a gente sabe da procedência das verduras”, explica. E conclui: “Além disso, a gente ajuda o pequeno produtor”.

A feira municipal é chamada pelos feirantes de Feira Raul Tesser. O nome é uma homenagem ao produtor rural pioneiro, que chegou a Cerejeiras em 1975, ganhou um sítio do Incra e é considerado o primeiro feirante do município. O produtor faleceu em 2015.

No papel, a feira é uma entidade associativista, a Associação dos Feirantes de Cerejeiras (Asfecer).

O presidente da associação é o pequeno produtor rural Waldecir Martins de Oliveira, conhecido como Waldecir do Acabaxi.

Segundo ele, existem cerca de 200 associados à Asfecer. “Geralmente temos um número de 100 participantes por feira, pois alguns associados vendem produtos sazonais, somente em algumas épocas do ano”, explica o presidente da entidade.

A feira começou em 1989, com pequenos produtores rurais da agricultura familiar. Mas foi só em 1992 que os feirantes criaram a associação.

A associação tem registro formal, estatuto, tudo como manda a lei. A instituição está habilitada, inclusive, a ser contemplada com convênios para investimentos públicos. Por exemplo, a energia fotovoltaica que será implantada no barracão da feira será uma verba de emenda parlamentar. “Pagamos uma média de R$ 2.500,00 de energia. Vai ser uma economia muito grande para nós esta energia solar”, explica o presidente.

Cada associado paga uma taxa por volta de R$ 30,00 mensais para manter a associação e tem direito a votar, ser votado e, principalmente, expor seu produto na feira.
 

 

O pequeno produtor rural Elio Alves de Oliveira, da Linha 2, do município de Cerejeiras, produz e vende banana (de quatro qualidades), mandioca, couve e peixe. O filho Tiago, de 16 anos, estuda de manhã e acompanha o produtor nos dias de feira. “Aqui é um local onde vendo o meu produto. É uma renda que me ajuda muito”, diz o feirante, que está desde 2010 nessa atividade.
 

 

A feira é também uma referência em hortaliças. Ranieri Calanca da Silva, que mora no 3º Eixo, nas proximidades de um local chamado Prainha, vende verduras e legumes. Animado e inovador, Ranieri afirma que tem até uma clientela fixa. “Quando tenho uma novidade, como uma alface que acabou de crescer, eu aviso os clientes pelo Facebook e WhatsApp e eles vêm buscar aqui na minha banca”, diz o feirante.
 

 

O pequeno produtor Alexandre de Oliveira, o Xandão, está sempre bem-humorado. Brincalhão, o pequeno produtor mora na Linha 2 e vende doce, mamão, frutas, legumes, verduras, queijo, leite e requeijão. Está há quatro anos na atividade, junto com a esposa Jane, que faz feira com ele. “Aqui é um lugar em que posso trabalhar. É a minha fonte de renda”, explica Xandão.
 

 

Como bem foi ressaltado, a feira é também um local de comer aquele pastel.

Neste caso, um dos feirantes que fabrica e vende o salgado é Sérgio de Souza Teixeira, da rua Maranhão, do bairro Primavera, área urbana de Cerejeiras. Ele e a esposa Rute levantam cedo da cama e faz os salgados, como coxinhas, risoles e pasteis. “Tenho clientes que vêm aqui só para comer um pastel. Também atendo clientes que estão passando aí e param para comer um salgado”, diz o feirante.
 

 

José Machado Filho, do 3º Eixo, entre as linhas 01 e 02, vende um produto bastante incomum. Ele comercializa bucha orgânica, ou seja, as esponjas naturais. “As pessoas compram para tomar banho”, explica. O produto, que era achado no mato no tempo da colonização agrícola, hoje é cultivado pelo feirante. Ele produz e vende também mamão e mandioca. José Machado fez feira há três anos. “Ajuda na renda. Tem feira que a gente não fatura nada, mas tem feira que a gente recupera”, explica o pequeno produtor.
 

 

A feira municipal de Cerejeiras, como já dito, não é só um lugar de comércio. É um lugar de encontros sociais. É um lugar de realização pessoal. É também um local de terapia.

“Eu estava em depressão e foi a feira que me ajudou”, conta Iara Heinen, moradora do bairro José de Anchieta.

Emocionada, ela diz que foi fazendo feira que conseguiu superar um dos momentos mais difíceis da vida. “Aqui eu me encontrei. Faço o que gosto”, explica a feirante, que vende cosméticos da Avon, Natura e Boticário.

Mas nem tudo são flores agora. “Na pandemia, que não pudemos fazer feira, foi um período muito difícil para nós. Mas a gente não pode desistir”, conta ela, que é feirante há dois anos.

Segundo o presidente da associação que representa os feirantes, existe uma diversidade de atividade na feira municipal de Cerejeiras. “Aqui temos gente que vende só verdura. Temos 13 barracas de pastel, três açougues suínos e estamos em busca de um açougue bovino. Tem gente que comercializa caldo de cana, perfumes e frutas. Temos também camelô”, diz Waldecir do Abacaxi – que comercializa melancia, melão e, óbvio, abacaxi.

A feira também tem feirantes que vende frangos (caipira e de granja) e peixes.

O presidente da associação dos feirantes relata que a feira municipal de Cerejeiras já é um exemplo a ser seguido. “Temos recebido visitas de caravanas de outros municípios, que vêm conhecer o nosso trabalho. Já recebemos gente de Cabixi e Rolim de Moura. Já somos uma das melhores feiras de Rondônia”, conta Waldecir.
 

 

A feira municipal de Cerejeiras é, realmente, um lugar de encontro social.

É um local onde uma gente trabalhadora e sofrida, com as mãos calejadas, encontra diversos tipos de clientes e convivem harmoniosamente por aqueles instantes por meio da mágica milenar do comércio.

É também um lugar de terapia, seja quem vai para comprar, seja quem vai para vender.

É um local de interação social da comunidade, nesta vida frenética e corrida na qual estamos forçados a viver.

É um lugar que merece se tornar uma referência.
 

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