02/07/2022 às 17h29min - Atualizada em 02/07/2022 às 17h29min

Pecuária prospera na região de Cerejeiras; conheça a Fazenda Rancho Alegre, que é referência em engorda de boi em confinamento

Pioneiros cerejeirenses investiram na pecuária e hoje prospera no setor. Custos de produção, porém, torna atividade desafiadora

Rildo Costa

Rildo Costa

Jornalista e Publicitário

Rildo Costa
Fazenda Rancho Alegre, na Linha 11, no município de Cerejeiras. Mais bois em menos terra (Foto: AC Drone)
A região de Cerejeiras está sendo palco de um avanço elogiável da agricultura.

As lavouras de soja – e, na entressafra, de milho – são extensos tapetes verdes que cobre toda a região.

E essa área dedicada à lavoura está crescendo.

Estima-se que na próxima safra a região de Cerejeiras poderá passar dos 200 mil hectares de soja tranquilamente. Estimativas mais ousadas falam em até 250 mil hectares.

Quase toda essa área dedicada agora à agricultura um dia foi palco da pecuária.

A pecuária extensiva de corte, de cria e recria, ocupava a maior parte desta área.

Com o avanço da agricultura, a pecuária foi ganhando caminhos alternativos, enfrentando desafios inéditos, conquistando novos territórios.

Pelo menos dois caminhos são tomados pela pecuária na região de Cerejeiras.

O primeiro é se valer daquela velha fórmula que os pecuaristas já conhecem: adquirir novas áreas de terra em regiões de fronteira. A pecuária brasileira cresceu basicamente em cima deste tripé, que agora alguns pecuaristas da região de Cerejeiras tentam aplicar: mais terra para mais boi.

É a chamada pecuária extensiva.

Alguns pecuaristas já adquiriram terras em novas frentes da pecuária, como no Amazonas, Acre e Pará.

Mas, felizmente, este não é a única alternativa para a pecuária.

Alguns pecuaristas da região de Cerejeiras optaram pela fórmula alternativa: mais boi em menos terra.

É a pecuária intensiva.

Quem opta por este caminho, porém, precisa entender que não está pisando em solo amador.

A pecuária deste modelo inclui o incremento de tecnologia, de novos modelos de manejo, e, como veremos adiante, de uma gestão levada à ponta da unha.

Em outras palavras, a pecuária intensiva é coisa para profissional.

A Família Rossi é uma referência neste modelo.

Os irmãos Alessandro Rossi, conhecido como Boy, e Berlindo Neto Rossi, o Neto, são os proprietários da Fazenda Rancho Alegre, uma propriedade que engorda cerca de 2.500 bois.

A propriedade fica na Linha 11, no município de Pimenteiras do Oeste.

Há 30 anos, os patriarcas da família chegaram à região de Cerejeiras para empreender.

A matriarca, Graça Rossi, montou uma loja de móveis e eletrodomésticos, a Barão Móveis, no final da década de 1980.

De lá para cá, a loja cresceu, ganhou filiais em Corumbiara, Chupinguaia, Colorado do Oeste e Cabixi.

Além da loja, a família apostou no setor rural, adquirindo a propriedade e investindo na pecuária.
 

A Família Rossi também é uma das iniciadoras do cooperativismo na região de Cerejeiras. Eles são cooperados-fundadores da agência da Sicoob Credisul em Cerejeiras e operam com a cooperativa financeira até hoje.


Hoje, a Fazenda Rancho Alegre, de mais de mil hectares, tem basicamente dois modelos de produção: a lavoura e o gado.

A parte da lavoura, que ocupa uma imensa porção da propriedade, é arrendada para terceiros – que paga o arrendamento em soja e milho usado no trato gado confinado.

Já a parte dedicada à pecuária não passa de dois hectares, mas está ali uma das principais vertentes econômicas da propriedade.

A propriedade engorda quase que exclusivamente gado macho. Há apenas um pequeno lote de novilhas. Os bois chegam à propriedade com 14 arrobas e três meses depois, após o processo de engorda numa fase da vida do animal chamada de “terminação”, já com 21 a 22 arrobas, os animais estão prontos para o abate.

Os proprietários adquirem os bezerros na própria região de Cerejeiras, de outros pecuaristas de cria e recria e do modelo de pecuária extensiva. Os irmãos pecuaristas da Fazenda Rancho Alegre também têm outra propriedade na região de Cerejeiras, dedicada à pecuária de cria e recria.

Além da lavoura, a propriedade também possui fábrica de ração e tratores, além de implementos para fornecer nutrição ao gado.

Em uma média de quinze a vinte vezes ao dia, a ração é levada ao cocho no confinamento, quando o gado está na fase inicial da engorda. Depois, a frequência cai um pouco, mais ainda assim o investimento em nutrição é pesado.

“O nosso maior desafio é o custo de produção. E quase todo este custo é com a alimentação do gado”, afirma Neto, numa entrevista ao autor desta reportagem.

O pecuarista explica também que o preço dos insumos de nutrição subiu extraordinariamente nos últimos anos.

Ele cita, por exemplo, o caso da ureia, um componente proteico necessário para a engorda animal.

Em 2016, a ureia estava a R$ 1.400 a tonelada. Nesta semana, o mesmo produto chegou a R$ 6.000 a mesmíssima tonelada.

Por outro lado, o preço do gado, como é comum na pecuária, oscila muito.

No ano passado, por exemplo, a arroba do boi gordo bateu o teto histórico de R$ 308 na região de Cerejeiras. Hoje está em R$ 270. “Mas o problema é que o custo de produção hoje é maior que no ano passado, em que o preço do boi estava mais alto”.

Ao contrário da pecuária extensiva, o pecuarista do modelo intensivo faz constantes cálculos de produção e adota estratégias de comercialização.

Dentre as estratégias está a clássica recusa em vender uma carga de animal que já está pronta para o abate, quando o preço estiver muito desfavorável.

Mas, para isso, o pecuarista tem que ter nervos de aço – e uma “gordurinha” financeira para queimas enquanto segura o gado.

Assim os preços atingem o vértice de cima na oscilação de preço, o pecuarista vende a produção.

De novo, é importante ressaltar que isso exige muito controle, poder de negociação, escala e, principalmente, gestão.

Como já foi ressaltado em outro trecho desta reportagem, a pecuária intensiva não é para amadores.

Mas é um modelo rentável.

Segundo dados da Idaron, existem pelo menos 82 mil cabeças de gado somente no município de Cerejeiras. Embora não haja dados oficiais, estima-se que pelo menos 20% deste gado esteja sendo criado em confinamento, no modelo de pecuária intensiva.

Assim, a pecuária continua – e tudo indica que continuará – tendo espaço na região de Cerejeiras.

E, com isso, o consumidor já pode confiar que nunca faltará o pedaço de carne em sua mesa ao jantar.






 
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