O município de Cerejeiras tem cinco escolas municipais. Uma delas se chama Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Professora Maria Helena Barreiros.
A escola, que fica no Bairro Jardim São Paulo, ganhou este nome em homenagem a uma professora pioneira do município.
Esta pioneira é Maria Helena Barreiros, reconhecida como a primeira professora a lecionar em Cerejeiras.
Já falecida, a professora chegou ao município em 1979, numa época de muitas dificuldades e desafios.
A educadora pioneira nasceu no dia 18 de abril de 1945 em Sertanópolis, no Paraná. Filha de Antonio Hipólito Ribeiro e Maria Lima de Avelar, Maria Helena foi ganhar o sobrenome pelo qual ficou conhecida somente no dia 26 de maio de 1962, ao se casar com o agricultor Arthur José Barreiros.
Durante o tempo em que ainda estava no Paraná, o casal teve sete filhos, sendo eles: Laudelina, Robinson, Laine, Ricardo, Luciane, Renato e Magda. Atualmente, dois filhos da professora são bastante conhecidos no município cerejeirense: a primogênita, Laudelina, é a Laudy, fundadora da LD Joias e Relojoaria, e Robinson, que é o pastor titular da Igreja Metodista Wesleyana de Cerejeiras.
A vocação para a educação começou a florescer logo cedo. Maria Helena Barreiros morava numa pequena cidade paranaense chamada Campinas da Lagoa quando, no mesmo ano em que se casou, começou a lecionar num barracão do sítio da família construído pelos pais dos alunos. A professora recebia ovos, galinhas, arroz, feijão e outros produtos agrícolas como pagamento feito pelos pais dos estudantes pelo trabalho que prestava.
Apesar de lecionar, a professora Maria Helena Barreiros ainda não tinha formação escolar completa. Ela tinha estudado do 1º ao 3º anos em Astorga e os 4º e 5º anos em Boa Vista, ambas as cidades no Paraná. O restante dos estudos, que vão do 6º ano até o Magistério através do Logos II, que era considerado o Segundo Grau da época e que, segundo a lei da época, a habilitava para lecionar, foi feito somente em Rondônia, em 1984.
Como o mundo dá voltas, o barracão construído pelos pais da professora em Campinas da Lagoa foi transformado em escola pelo então vereador Adelino Neiva de Carvalho, que passou a se chamar Escola Bairro dos Paulistas. Anos mais tarde, o ex-vereador paraense, que mais tarde também se mudou para Rondônia, se tornaria o primeiro prefeito eleito de Cerejeiras, em 1989.
A mudança da professora pioneira para Rondônia não foi fácil. Em 1976, ela, o marido e os sete filhos vieram num caminhão pau de arara, levando oito dias de uma viagem longa e cansativa. Quando finalmente chegou ao estado, a família ficou 15 dias em Vilhena e só depois acabaram de chegar a Colorado do Oeste, que ainda começava a se povoar.
Ao chegar a Colorado, não tendo onde morar, a família montou uma barraca nas margens de um pequeno riacho, onde ficou por um bom tempo.
Neste tempo, já no município coloradense, Maria Helena voltou aos estudos.
E foi em uma aula de Língua Portuguesa, ao fazer uma redação, que a pioneira escreveu que tinha o sonho de ser professora. Ao ler a redação, a professora dela, chamada Marta Chaves, mostrou informou os diretores da escola, que estava precisando de novos professores, sobre o sonho de Maria Helena. O estado estava precisando de educadores e ela foi contratada como professora na semana seguinte.
Contratada, então começou a lecionar para as 3ª e 4ª séries do Ensino Fundamental na escola Paulo de Assis Ribeiro, em Colorado, com contrato direto pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC).
Na época, o salário dos professores do município era pago na agência do extinto banco Beron em Vilhena, numa agência que recebia os malotes de Porto Velho transportados por um avião.
Em 1979, dois fatos importantes ocorreram na vida de Maria Helena.
A primeira é que o contrato de trabalho com o governo estadual teve uma alteração, passando a ser contratada pelo Território Federal de Rondônia.
O outro fato foi a mudança para Cerejeiras.
Ao chegar ao município cerejeirense, a professora foi trabalhar numa escola de pau a pique construída no local onde hoje é o Posto Baldin, na esquina da Avenida das Nações com a Avenida Integração Nacional.
Na época, uma educadora, conhecida como professora Geni, também atuava na escola. No entanto, a colega precisou pedir atestado médico e não chegou a lecionar e por isso a pioneira Maria Helena Barreiros é reconhecida como a primeira professora de Cerejeiras.
Enquanto trabalhou nesta escola de madeira rústica, a pioneira exerceu também a função de merendeira. Passava de segunda a sexta na escola, lecionava durante o dia e fazia as merendas à noite. A cada semana, trazia um filho para ficar com ela na escola. Nos finais de semana, ia para o sítio de família para estar com o marido e os outros seis filhos.
A escola de pau a pique cabia apenas 20 alunos, mas o município tinha mais de 120 estudantes. A solução foi o sistema de rodízio, implantada por ela mesma. Enquanto uma turma estudava, a outra fazia atividades ao ar livre.
Devido às imensas dificuldades da época, a escola de madeira rústica também servia como ponto de pouso de imigrantes, vindo ou indo para Colorado, que paravam em Cerejeiras para dormir.
Foi em 1981 que a escola Floriano Peixoto, do governo estadual, abriu as portas no município. A professora Maria Helena Barreiros foi transferida para essa nova escola e a outra foi fechada.
A pioneira trabalhou como professora até 2003, ano em que se aposentou.
Além de educadora, também foi a primeira presidente da Associação de Meninos e Meninas Trabalhadores de Cerejeiras (AMMTC). Também atuou em igrejas, onde exerceu sua fé.
No ano de 1999, o então prefeito de Cerejeiras, Manoel Francisco de Almeida, emitiu um projeto de lei dando o nome da professora a uma das escolas municipais – proposta votada e aprovada pelos vereadores da época e a escola levou o nome da pioneira a partir de 2001.
Como uma peça do destino, a professora Maria Helena Barreiros, que nasceu no Dia Nacional do Livro Infantil, faleceu no Dia dos Professores, em 15 de outubro de 2011, aos 66 anos.
Antes de falecer, a pioneira deu uma entrevista para os alunos de uma escola de Cerejeiras, que fez um jornalzinho escolar, em 2010. Na entrevista, a professora Maria Helena Barreiros já fazia uma observação importante (em que todos os educadores atuais concordariam): a educação brasileira passava por certa decadência. “Hoje tem muito recurso: espaço físico, tecnologia, conforto. Mas o interesse dos alunos e o respeito eu acho que diminuiu, infelizmente”, lamentou ela na entrevista.
Que cada um de nós possamos nos lembrar desta importante observação pela professora Maria Helena Barreiros e fazer o que ela fazia: valorizar a educação. Essa é a melhor forma de honrar a história dela. #PioneirosDeCerejeiras