29/05/2021 às 17h31min - Atualizada em 29/05/2021 às 17h31min

Conheça as histórias de empreendedores de sucesso que comprovam que existem oportunidades de novos negócios em Cerejeiras

Rildo Costa

Rildo Costa

Jornalista e Publicitário

Rildo Costa
Gazeta Rondônia
Ademir e Valdirene investiram numa loja de açaí há três anos. Deu certo. (Foto: Rildo Costa)
“Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos”. Esta é a frase de abertura do romance inglês Um Conto de Duas Cidades, de Charles Dickens. As primeiras palavras da obra entraram para a história da literatura mundial, pois mostram que duas realidades, a positiva e a negativa, podem conviver lado a lado. A diferença pode estar em quem as enxerga.

Converse com as pessoas em Cerejeiras e você verá que existem dois tipos de percepção. Um grupo de moradores vai dizer que o município tem problemas, que faltam oportunidades de emprego e que a cidade poderia ser melhor. Já o outro grupo vai dizer o oposto, que Cerejeiras é um bom lugar para se viver e para ganhar a vida e que o município é uma terra de oportunidades.

Por uma semana, o autor desta reportagem procurou conversar com cerejeirenses do segundo grupo, os que veem “o melhor dos tempos” - aqueles que têm uma visão apurada para ver o que ninguém vê, que conseguem enxergar um mar de oportunidades no município de Cerejeiras e que, não somente conseguiram ver, mas decidiram aproveitá-las.

O empresário Melki Prudêncio era recém-saído da adolescência e trabalhava de recepcionista num hotel na cidade quando percebeu uma oportunidade. “Eu percebi que as pessoas estavam reclamando nos grupos de desapego no Facebook que não tinha açaí em Cerejeiras”, disse Melkim, como é conhecido.

Com a cara e a coragem e quase nenhum dinheiro no bolso, o jovem começou a vender polpa de açaí pelas redes sociais.

Depois de uma viagem ao Rio de Janeiro, onde conheceu o sistema de delivery de açaí, decidiu implantar o mesmo sistema em Cerejeiras.

Hoje, três anos e meio depois daquela percepção, Melkim tem uma badalada empresa de açaí no município, deixou o emprego no hotel há mais de três anos e gera cinco empregos diretos, contrata mais dois diaristas no final de semana e ainda está abrindo outra empresa no ramo de sorvetes na cidade.

Ainda no ramo de açaí, o casal Ademir e Valdirene Ribeiro também tem uma história de aproveitamento de oportunidades para contar. Ele já tinha uma empresa de mecânica de motos em Cerejeiras (em atividade até hoje) e ela queria empreender em um novo negócio.

“Aí passamos a pesquisar as possibilidades, até que fiz uma viagem a Espigão do Oeste e conheci uma empresa, chamada Nativu´s. Foi aí que senti que encontrei a oportunidade que estava buscando”, disse Valdirene.

A empresa, que também oferece uma linha de sorvetes, foi aberta em 60 dias depois da decisão. A empresária conta que investiu em diferenciais para fazer um negócio diferente na cidade.

“Nossos móveis são planejados, com estofado. A empresa disponibiliza até um playground para as crianças”, disse Valdirene. A Nativu’s conta com um visual moderno, música ambiente e toalete em moderna arquitetura. Hoje a empresa tem cinco funcionários.

 
O empresário Reginaldo Zeferino trabalhava num balcão de farmácia, mais de cinco anos atrás, quando decidiu investir num hobby. Como gosta de cozinhar, nos finais de semana, com o auxílio da esposa, passou a assar churrasco, como carne de boi, porco, carneiro e frango, e vendia o produto na garagem de casa.

Aos poucos, a clientela foi aumentando e os clientes foram pedindo novos produtos. Foi aí que ele decidiu investir num negócio que ele chamou na época de “marmitaria”. Passou a vender marmitex.

Com o aumento de demanda na empresa, Reginaldo decidiu pedir demissão do emprego na farmácia e mergulhou de corpo e alma no negócio. Decisão, aliás, que ele diz não se arrepender.

“Assim que passei a ganhar mais me dedicando na empresa do que no emprego, pedi demissão”, disse ele. Atualmente, o Tempero Bom tem 11 funcionários, além do casal de empreendedores.

Relatos como este são do segundo grupo de pessoas que você vai encontrar em Cerejeiras: aqueles que enxergam o “melhor dos tempos”, que conseguem ver oportunidades onde todos veem só problemas.

Mas como enxergar as oportunidades?

A resposta a esta pergunta tem quebrado a cabeça de estudiosos do empreendedorismo (que nem é uma ciência) mundo afora. 

Dito de forma simples, pode-se dizer que as oportunidades de negócios estão escondidas nos problemas sociais. E é por isso que os empreendedores gostam de uma localidade cheia de problemas, pois empreender é resolver problemas. Parece chavão de autoajuda, mas estudos sérios têm demonstrado esta verdade.

Quando o jovem Melkim percebeu que tinha gente reclamando que não tinha açaí em Cerejeiras, ele percebeu um problema social. E se dispôs a resolver este problema. E resolveu. E hoje é recompensado por isso.

O empreendedor é, então, um altruísta, pois ele se dispõe a resolver o problema dos outros. E as oportunidades estão nesta disposição em olhar para o que o problema do consumidor e servi-lo com uma solução.

Mas aqui cabe um alerta: aproveitar as oportunidades não é tão fácil quanto parece. As portas que se abrem são estreitas. Estreita e apertada é a porta que conduz aos bons negócios. As oportunidades vêm travestidas de grandes problemas, de grandes desafios, de ferrenhas batalhas. Todos os empreendedores ouvidos para esta reportagem encontraram tremendos empecilhos pela frente - o mais recente deles uma pandemia mundial. Mas a porta estreita da oportunidade é aberta por aqueles que a esmurram.

Feito esta ressalva, podemos afirmar com todas as letras: Cerejeiras é uma terra de oportunidades.

O empresário Wallaci Machado é o atual presidente da Associação Empresarial de Cerejeiras, a ACIC. A instituição reúne um quadro de 152 associados no município, que vão de diversas áreas, desde o setor de serviços ao tradicional comércio supermercadista. Segundo o presidente da ACIC, o município de Cerejeiras continua tendo oportunidades para novas empresas.

“O consumidor cerejeirense está evoluindo, demandando novos negócios que venham suprir suas necessidades”, disse o empresário.

Wallaci Machado foi um dos empreendedores que entraram pela porta estreita do empreendedorismo. Ele começou ainda muito jovem, há 20 anos, trabalhando numa empresa de serviços de pneus em Cerejeiras, acabou adquirindo parte do negócio, depois comprou o restante da firma e hoje a empresa atua no ramo de autocentro, ou seja, faz quase de tudo no automóvel, de balanceamento à parte mecânica.

A instituição que representa os empresários em Cerejeiras, a ACIC, está numa campanha de divulgação do comércio local. A iniciativa, chamada “Moro Aqui, Compro Aqui”, tenta conscientizar o morador de Cerejeiras a consumir no próprio município. Já foi instalado um outdoor na saída da cidade com a mensagem da campanha e várias empresas cerejeirenses mandaram confeccionar camisetas com a mensagem de conscientização.

Ao comentar sobre o vínculo entre a campanha e as oportunidades de negócios no município, Wallaci Machado é categórico: “O morador de Cerejeiras pode comprar aqui porque as empresas do município são capazes de atendê-los. Também vai continuar a surgir empresas para atender às novas necessidades, pois Cerejeiras tem espaço para mais negócios”, disse o presidente da ACIC.

Para todos os entrevistados, o autor desta reportagem fez uma pergunta similar: “Se você estivesse começando a vida hoje, em que negócio você investiria em Cerejeiras?”.

As respostas podem nortear aos leitores desta reportagem que, porventura, estejam tentando encontrar oportunidades de negócios no município, pois as respostas são de empreendedores que já provaram que sabem do que falam, porque já possuem negócios sólidos em Cerejeiras.

O empresário Reginaldo Zeferino diz que, se começasse hoje, começaria qualquer negócio no ramo do agro. A empresária Valdirene Ribeiro diz que montaria uma cafeteria em Cerejeiras. O empresário Melkim Prudêncio diz que optaria por uma choperia.

Como se pode ver, as mentes mais empreendedoras do município, que já têm sucesso em seus negócios, estão enxergando oportunidades que parecem estar escondidas. Uma cafeteria, uma empresa do agro, uma choperia. De certa forma, já existem negócios similares a estes em Cerejeiras, assim como já havia negócios similares ao restaurante e às lojas de açaí. Sendo assim, o que há de diferente nestas oportunidades?

A resposta mais adequada a este questionamento pode estar na teoria chamada “Jobs To Be Done”. O termo, em inglês, quer dizer algo como "Tarefas a Serem Feitas”. A teoria foi elaborada pelo maior especialista em inovação do mundo,  Clayton Christensen, professor da Universidade Harvard e autor do livro O Dilema da Inovação, obra que cunhou o termo “inovação disruptiva” e um dos mais importantes livros de negócios já escrito, segundo a revista The Economist.

Em 2005, o professor norte-americano publicou um artigo no Harvard Business Review, um periódico científico de gestão e liderança, relatando sua descoberta. Segundo Christensen, os consumidores têm “tarefas a serem feitas” e realizam essas tarefas por meio da compra.

Vamos dar um exemplo. Nos fins de semana, um morador de Cerejeiras quer comer uma carne assada com a família. Veja bem que o que ele quer é ter o churrasco para o almoço, mas não necessariamente quer assar a carne. Assim sendo, quando alguém se dispôs a “fazer a tarefa” de assar a carne, acabou resolvendo um problema do morador cerejeirense. E foi assim que nasceu o negócio do empreendedor Reginaldo Zeferino: ele se dispôs a fazer esta tarefa para o consumidor.

Mas a ideia do “Jobs To Be Done” não acaba aí. A teoria, que já se tornou uma metodologia de marketing utilizada por multinacionais no mundo todo, como a Microsoft e P&G, também revela algo muito importante: o consumidor está sempre disposto a migrar para um negócio que consiga “fazer a tarefa” de uma forma melhor. Ou seja, quando o empreendedor Reginaldo Zeferino decidiu assar carne nos finais de semana para vender, já existiam os antigos e tradicionalismos “espetinhos” em Cerejeiras, por exemplo. Mas a carne assada era uma solução superior para “fazer a tarefa” de ter uma carne assada para comer com a família em casa. 

Resumindo, quem se dispor a “fazer a tarefa” de uma forma superior, terá sucesso no negócio.

São essas oportunidades que estes empreendedores enxergaram no passado - e enxergam no presente - em Cerejeiras. Eles conseguem perceber que existem “tarefas a serem feitas” que não estão sendo “feitas”, ou seja, existem necessidades não atendidas pelo consumidor cerejeirense.

O município de Cerejeiras tem atualmente cerca de 17.000 habitantes, segundo o IBGE. Mas este número pode ser maior. Além disso, é possível que exista uma população flutuante, aquela que vem a cidade de passagem ou em viagem, de outras pelo menos 15.000 pessoas por mês, pois o município é um polo de negócios que atraem representantes comerciais, profissionais de serviços especializados e empreendedores que estão prospectando novos negócios, sobretudo no agro, além de ser a capital de uma microrregião com quatro municípios. Tanto as pessoas que moram no município quanto as que estão de passagem têm uma renda excedente no bolso para gastar em novos produtos e serviços.

Toda a região de Cerejeiras é rica em agricultura, uma das atividades mais rentáveis da atualidade. A renda per capita do cerejeirense tem melhorado, passando de cerca de R$ 18.000,00 em 2013 para R$ 28.714,35 em 2020, segundo o IBGE. Ainda de acordo com o instituto, dos 17.209 moradores, exatos 14.680 são, de alguma forma, economicamente ativas, de acordo com os últimos dados sobre este assunto. Ou seja, o número de cidadãos produzindo (e com capacidade de consumo) é elevado. Mesmo que estes dados estejam inflados, o que é possível, este fato é constatado no município. Cerejeiras é um dos únicos municípios de Rondônia que tem a média de remuneração de quem trabalha de empregado acima dos dois salários mínimos. Além disso, o progresso do agronegócio tem formado um novo segmento local, compostos de pessoas prósperas e que estão ávidas por novos consumos e novas experiências. Em outras palavras, há muito mais “tarefas a serem feitas” por novas empresas no município.

Voltando ao romance de Charles Dickens, esses empreendedores enxergam “o melhor dos tempos”.

O município de Cerejeiras tem, atualmente, uma média de 400 a 600 empresas, segundo estimativas do IBGE. São negócios em atividade e estão, cada um à sua maneira, atendendo às necessidades percebidas dos consumidores. No entanto, existe uma gama de necessidades não atendidas ou mal atendidas do consumidor no município. E esses consumidores cerejeirenses estão clamando por empreendedores que atendam às suas necessidades. 

Pode ser você o empreendedor que vai atender estas



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